Os
nossos caminhos são linhas que nos fazem subir, descer, virar à esquerda ou à
direita, queremos, mas não somos, senhores do nosso destino. E o meu destino
encaminhou-me para novos caminhos. Deixei os lugares amplos e serenos da Lapa e
mergulhei, a medo confesso, porque sempre as multidões me causaram algum
receio, no Bairro Alto. O primeiro dia foi um baptizado de gente que subia e
descia a rua, que vinha de todas as direções para outras tantas, com passos
apressados, olhares esfomeados, queriam ver tudo, ouvir, fotografar,
fotografar-se, e eu, pobre peão errante, desviava-me de um lado para o outro
sentindo-me sempre inoportuna em qualquer sitio onde estivesse, em boa verdade,
só queria uma sombra para me abrigar do sol e um banco onde descansar os
passos. Claro que estava tudo ocupado, invadido de sons que me chegavam aos
ouvidos misturados e sem nexo. Tentei acelerar o passo, fugir dali, encontrar
um espaço mais amplo, mais verde e sossegado. Só pensava, “Lapa, minha Lapa,
que saudades do Tejo que te banha…”
Quando
uma voz me fez levantar o olhar da estreita calçada, “Aqui nós é que tenemos
prioridad”. Apeteceu-me sorrir, alguém queria pôr ordem naquele caos e estabelecer quem devia ir por fora ou por
dentro do passeio. De repente percebi que independentemente do lugar onde se
está, das pessoas que estão à nossa volta, somos nós tal como estamos e somos
que marcamos a diferença, não nos outros, mas na forma como olhamos e sentimos
o que nos rodeia. Aqui é preciso estabelecer a “prioridad”, e essa prioridade
somos nós enquanto pessoas, pela forma como tocamos e nos deixamos tocar, com
um olhar, com uma palavra, com um silêncio…
Não
vale a pena olhar para trás, a Lapa continua lá, no seu sossego, mas o meu
lugar agora é aqui neste desassossego onde vou ter de encontrar, nem que seja
unicamente em mim, um recanto de paz.