Aniversários
já não são como o dos 2 anos em que é mais dos outros do que nosso, o dos 5 em
que começamos a viver a festa e a rasgar com avidez o papel que escondem os
presentes, o dos 10 cheios de vontade de brincar, correr, saltar, voar em
sonhos e estatelar-se no chão sem medos. Os 18 cheios de esperança, de
quimeras, rasgar o vinculo com a infância, vestir a pele de adulto, ainda com
uma vontade, quase irresistível de correr e saltar, como quem quer e não quer
crescer. Os 20 de olhos brilhantes, sorrisos fascinantes, há lá aniversário
como esse, é uma festa que nos acontece no peito. Ai os 30 que nos começam a
pesar na consciência, vê lá se ganhas juízo, és adulta, és cidadã de plenos
direitos e afogada de deveres, uns que te impõem, outros que te impões. És
mulher, és mãe, tornas-te exemplo para os mais pequenos. A seguir um novo passo
e chegamos aos 40, alegria, tristeza, um cocktail de dúvidas e angústias, daqui
para a frente tudo será diferente, ou talvez não, mas sim, é verdade, deixamos
de contar os anos, e os aniversários são penas capitais. Aproximam-se, sim,
aproximam-se, cheios de pressa que não temos, são os malogrados 50, não sabemos
se festejamos, se rimos se choramos. Tudo nos descai, o corpo, a pele, os
cabelos escuros, o olhar sonhador olha agora unicamente para a realidade de
cada dia. Em nós cresce uma batalha interna, levamos uma década nesse combate,
até que cedemos sem saber-mos se ganhamos ou perdemos, desistimos, assumimos,
ok, chegamos aos 60 anos e agora? Bom, agora, continuamos, ainda há muita
estrada pela frente, o caminho que ficou para trás foi-nos escola e nela
aprendemos a ultrapassar as dificuldades, tornarmo-nos mais fortes e se
chegámos aqui foi porque vencemos a nossa guerra pela sobrevivência. Daqui para
a frente, somos heróis pelo passado e pelo futuro porque se a cada queda nos
levantámos, sabemos curar as feridas, sabemos cuidar de nós e partilhar o nosso
conhecimento com os outros. Somos um legado, somos grandes, maiores a cada dia
que passa em conhecimento, em coragem.
Recebemos
de presente a calma de quem pode apreciar o caminho, saborear, encher o olhar e
levar essa luz ao coração. Somos mulheres maduras, cheias de ternura, sem
guerras, voltamos a voar mas com os pés bem assentes na terra. Somos tudo aquilo
que vivemos e tudo o que temos ainda por viver, paz, harmonia, felicidade,
porque não?