O
verão tem dessas coisas, essa frescura que ao contrário da climática nos
liberta, nos enche de asas, de brisas no pensamento e, voamos nos sonhos que
queremos concretizar. Dessas coisas que ficam para as férias e depois ficamos
tão cheios de uma bagagem feita de compromissos, que quase sem culpa arrumamos
num canto da vida, quem sabe para o inverno, quando o frio e a chuva nos
impedirem de sair de casa, aí sim arrumamos o que há para arrumar. Lemos os
livros que queremos ler, o filme que queremos ler, o telefonema prolongado que
precisamos de fazer.
Agora,
o corpo, a alma, todo o nosso ser numa composição de realidade ou fé quer
apenas sentir-se leve, liberto da rotina, dos horários, dos compromissos, dos
chefes, das colegas, dos transportes públicos ou de não saber onde estacionar o
privado.
Agora,
finalmente é o arrumar das botas e enfiar o chinelo no pé, caminhar descalça em
casa, rodopiar enquanto se abre as janelas para deixar entrar o sol, e ver nas
janelas os vasos de flores, os lençóis estendidos, os fatos de banho. Porque
sim, está na hora de ir a banhos de mar, abraçar as ondas, adormecer nas dunas.
Comer gelados, que se lixe a dieta, no inverno ficamos a chá e torradas,
prometo. Perdoe-me o guarda-roupa se não cumprir.
O
verão é um tempo de passagem, está como nós em permanente viagem, se não o
vivemos, passa e não deixa recordação alguma que nos aqueça nos dias de final
de ano.
Vamos
encontrar amigos, entre uma cerveja gelada e um prato de caracóis, o marisco
dos pobres, dizem. Mas sinceramente, prefiro mil vezes uns caracolitos do que
um refinado marisco com as suas requintadas calorias. E depois há as saladas,
adoro saladas, as folhas verdes, o contraste coloridos do tomate, o minguado
azeite casando com o recheado vinagre e para rematar montes de orégãos, quase
afrodisíaco para as minhas pupilas gustativas.
Depois
num verão que se prese não pode faltar uma rede entre duas árvores, o chilrear
dos pássaros e o silêncio.
Ainda dizem que o paraíso não existe, claro que
existe, quem não o vê, quem não o sente, ou anda a dormir ou a deixar o verão
passar!