Às
vezes, mas tão somente às vezes, sinto vontade de sair deste lugar. Digo que
isto me acontece às vezes, tão raramente que até a mim me surpreende. Sou
reservada, pacata, não chego a ser tímida, apenas discreta. Embora o “discreta”
não me assente bem, porque tenho uma vontade inquieta. Mas aquieto-me,
tranquilizo-me, respiro, medito, aplaco a ira dos dias cheios de gente que
contrasta comigo e que se diz na maior parte do tempo, amiga e até para cúmulo
dos cúmulos, boa pessoa. Gente que se importa com tudo em geral, e nada em
particular. Há tanto alter ego por aí, dourado mas que não é de ouro, nem
sequer brilha, nem sequer encanta, cansa, esse vil engano em que cada um
mergulha e acredita ou quer fazer acreditar que o é, sem nunca chegar a ser
algo que valha a pena.
Então
aí, somente aí, apetece-me sair e claro, voltar, porque vá para onde for,
tudo/todos são tão similares que se torna
bom regressar e sentir que já conhecemos cada recanto desta casa a que
chamamos vida.
Outro
dia li esta frase “ A viagem começa nos outros”. Depois de tantas destas
viagens, mudei de rumo, mudei de frase, mas também de fase, agora “A viagem
começa em mim”. Não é por vaidade, reconheço que há muitos e melhores caminhos,
mas para quê seguir estranhos rumos, quando ainda mal conheço os que me
compõem? Não quero ser outro alter-ego, colocar-me num pedestal e um dia cair
dele sem amparo. Apraz-me a sabedoria quando acompanhada de humildade. Gosto de
quem muito sabe, porque teve o gosto de aprender. Gosto de milionários que
abraçam grandes causas e não grandes luxos. Gosto de pintores que pintam do
coração e não apenas para (de)coração.
Às
vezes é preciso sair deste lugar, mesmo que seja apenas um partir nas asas do
pensamento, do sentimento, sentir o vento no rosto, a caricia do sol, os lampejos de chuva, algo que torne mais
leve a nossa essência, algo que sopre para longe os mesquinhos devaneios, que incendeie e queime a gratuidade das palavras vãs e lave bem lavada a alma entorpecida da prisão onde nos colocam as horas com os seus aguçados
ponteiros.
É
bom sair, saber que temos para onde ir, que há gente diferente, que é e que torna o mundo
contente, que o horizonte é infinito, que o tempo é perpétuo e o universo
pacifico, algures, na liberdade de sonhar.
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