Olhas
o mar com olhos de infinito, a linha do horizonte tornou-se uma fronteira que
te sufoca os pensamentos. Os cabelos dançam a melodia do vento, parecem
loucamente felizes, mas o rosto apático cria um alarmante contraste.
Estremeces,
quase garanto que estremeces, um arrepio de alma que se aconchega na desculpa
de que é o outono que já arrefece. Mas, o ar ainda está morno, foste tu que
deixaste o inverno antecipar a sua chegada.
Quase
te ofereço um casaco, um abraço de calor humano. Mas hesito, perscruto os teus
devaneios, embarco na tua viagem assombrosamente estática. Que idade terás,
assim à distância, pareces uma criança indefesa, mas não a tristeza, que é de
pessoa adulta. Bebo-te os gestos num golo quase sôfrego, de bêbado deambulante,
e nesses passos a medo, aproximo-me. Invade-me uma curiosidade de tudo o que é
estranho e queremos conhecer, há um crescente de carinho quase maternal que me
magoa. De repente tudo é apenas o nós numa envolvência de sentimentos,
surpreendentes, sublimes, ternos, tão docemente humanos, solidários mas também solitários.
Sinto-te
carente, sim carente, desta dádiva que nos faz sentir inteiros, verdadeiros, puros. Pé ante pé com pegadas que ficam cravadas
na vida em suspense de ser vivida, chego mais perto, e ainda um pouco mais. Não
receio, é apenas uma pessoa perdida em busca de si ou de algo para além de si.
Quase que te sinto o coração latejante no peito, quase que te ouço os
pensamentos cheios de esvoaçantes ideias. Tantas, tão indefinidas, as tuas, as
minhas, quem sabe ambas se tenham um dia cruzado, olhado, conversado na galáxia
de paixões candentes. Mas agora só temos o silêncio, não precisamos de mais
nada. Não te quero roubar as palavras que nunca me dirás.
Por
fim a paz, a serenidade parecem ter chegado, vejo isso na mudança do teu olhar,
dos gestos, os braços antes abraçados aos ombros, descem ao longo do corpo, as
mãos encontram-se, os dedos entrelaçam-se apaziguados. O olhar afasta-se do
infinito, aproxima-se de um plano mais curto. Olha-me com surpresa, assusto-me,
assustas-te. Envergonhada pelo meu atrevimento, sorriu-te, envergonhada pelo
teu afastamento, sorris-me.
Percebo,
és tu, melhor sou eu, a tua sombra.
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