Morri
no dia em que esqueci.
Do
meu passado, do meu presente. Das recordações que construí. Das vitórias, dos
fracassos. De tudo o que fiz, do que ainda queria fazer. E tinha tanto por
fazer. Lembro-me que tinha planos, mas não me lembro quais. Recordo-me que
tinha esperança, não sei sobre o quê.
Morri
mas ainda encontro a marca dos meus passos, ainda vejo o meu rosto no reflexo
do espelho, embora não tenha a certeza de que seja eu, dizem que sim. Por vezes
rio-me desse olhar perdido em busca de me encontrar. Num jogo de escondidas, em
que estou aqui e não me encontro. Por vezes choro, porque estás ai e não te
reconheço, há em ti, qualquer coisa de mim, não só no gesto simultâneo, mas na
dor coincidente. Então estendo-te os braços, estendes-me os braços mas não
acontece entre nós o abraço. Uma barreira que não consigo identificar. Um muro
de medos, uma fronteira de escuridão, aumenta cada vez mais a nossa distância.
Hoje
sem saber bem porquê, chamei-te Lembrança, talvez porque me tenha lembrado
vagamente do teu nome, curioso, é igual ao meu.
Mas
há dias em que te chamo Esquecimento, por similar razão, não me recordo do teu
nome, dizem que é igual ao meu, mas, qual é o meu?
No
princípio, tinha muitas questões e as respostas magoavam-me porque na verdade
já as conhecia, doíam-me porque sendo de situações passadas as sentia novas, num
passado que me estava sempre presente.
Depois,
até das perguntas me fui esquecendo e ninguém me veio dar respostas. Cresceu
uma paz, um silêncio, um distanciamento, uma morte, como se a vida morresse, quando
ela se esqueceu de terminar e continuou
a viver.
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