Amei
(te), e este (te) suspenso na escrita, revela a ilusão do amar na ficção do
ser. Porque sim amei, não exactamente a ti, pessoa exterior a mim. Mas aquela
que existia desenhada nos genes devaneadores da minha existência.
Como
um pintor, desenhei-te. Como um sonhador, sonhei-te. Como idealista,
idealizei-te e como amante, amei-te. Um amor só meu, porque nem a ti o fiz
chegar, não por egoísmo de que o quer
manter inteiro, mas por medo de o perder em ti, na descoberta do que eras.
Talvez
não fosses, porque, não eras o meu amor. Então o (te) do verbo amar, manteve-se
sozinho, prisioneiro do seu parêntesis. Para quê de lá sair, aventurar-se na
avalanche das emoções, mergulhar na profundeza das sensações, perder-se num
deserto de enganadores oásis.
Não
tenho tempo psicológico para viver tal ventura, gastou-se-me no ruminar das
dúvidas, escoou-se-me por entre mãos vazias de cândidos alvoroços. Porque sim,
hesitei seguir-te. Vacilei em chamar-te, em conquistar-te. Escolhi sem
arrependimento o meu caminho, sem ti.
Hoje,
sem metas por conquistar, sem metas alcançadas, sinto que afinal a verdadeira
meta é chegar a esse lugar dentro de nós
em que reconhecemos as verdades sem os fumos da fantasia. Por fim, há uma
lucidez me invade, há uma tranquilidade me abraça.
E
se voltasse para trás? Amava(te), sim sei que amaria, com a mesma ternura, a
mesma doçura incauta e pura. E a minha felicidade de ontem, tal como a
felicidade de hoje é continuar a amar(te) um amor puramente idílico. Bonito, demasiado
bonito porque nada tem do meramente humano, foi desenhado no Olimpo, por inspiração
dos deuses que nesse dia tinham decidido que amar(te) seria tocar ao de leve o
vislumbre da perfeição.
E
do sopro infinito da imortalidade saiu o teu nome, ansiosa quis escutar o meu
formando com o teu um inseparável elo, mas foi outro sopro que o murmurou, na
direcção oposta, deixei-me levar, deixei-me navegar.
Até
que da tempestade dos anos imberbes surgiu a quietação. A beleza do sentimento
está precisamente no apreciar sem macular, tal como as flores da primavera que é
são tão belas colorindo os campos, numa jarra mesmo quando admiradas murcham, perecem
de solidão, falta-lhes a raiz, a terra, a sua essência de vida. Falta-lhe o
amar(te) tal como eu (te) amei…