Gosto
do verão e já os acalorados suspiram e abanam um leque ansioso por agitar o ar,
por fabricar brisas de frescura. Enquanto outros mergulham de imediato no
armário em busca de calções, camisolas de alças, de chinelos e todo o corpo
grita por uma liberdade que os espartilhos do inverno agrilhoaram por um tempo
que nos pareceu infinito na trilogia de chuva, vento e frio.
Gosto
do verão atrevo-me a repetir enquanto olhares fulminantes parecem querer
matar-me as palavras; ligam as ventoinhas, os ares condicionados, escondem-se
nas sombras urbanas, bebem litros de água como se o calor lhes ardesse no
peito, e arde, “é da idade” dizem entre um sorriso que se solta porque nem tudo
na “idade” é mau, também cresce a tranquilidade, a sabedoria de quem percebe o
sentido da vida: aprende-se a vive-la em todos os seus momentos e retirar de
cada um o que tiver de melhor. Porque a “idade” ensina-nos que a vida é
infinita se for vivida e apreciada mas rapidamente finita para quem estende o
olhar, o coração ao horizonte longínquo e não vê, sente, o que lhe está perto.
Gosto
do verão, insisto, mesmo com todas as picadelas de insectos, que digo em tom de
graça que são beijinhos, afinal nem chega a ser desgraça e tudo acaba com uma
injecção antialérgica. Depois lá ando com coloridas protecções: pulseira
amarela, ultrassons em tons de azul e branco e quando a escuridão desce do céu,
à minha volta desenha-se o que poderia ser uma cena de ultra-romantismo, mas é apenas
um conjunto multicolor de velas repelentes de insectos.
Mesmo
assim, permitam-se a repetição quase estóica, “gosto do verão”. Quando as
noites tardam em chegar e o dia se prolonga numa ténue luz que suavemente se dissolve por entre os ramos das árvores, deleitando-se
pelos telhados, estendendo-se lânguida e terna pelas ruas, tocando rostos,
acariciado as flores que aos poucos se vão fechando recolhendo para um sono
profundo. O dia adorna-se com o mais
belo pôr-do-sol que se dissolve gentil sobre um leito de mar, cresce um
silêncio de profunda admiração pelo pintor celestial que compôs tão bela e
harmoniosa paisagem.
Como
não gostar do verão…
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