Amar
é um dom, um dom que nos nasce, um dom que nos faz crescer inteiros,
preenchidos de vida, de encontros, de gestos, de boas vontades, afagos e
afectos.
Reconhecer
o que nos é dado como testemunho de caminho é a extensão do que somos, de onde
viemos, para onde vamos, afinal todos somos uma obra inacabada dos outros, “a
nossa história começou antes de nós e persistirá depois”. Mas também nos que
estão presentes ausentando-se por vezes sem contudo partirem.
Amar
é um dom que nos confirma humanos, de braços que se estendem para dar e
receber. Porque se nos darmos pode ser difícil, saber receber não é tarefa
fácil. A gratidão é mais do que um “obrigado” lançado ao vento e que de tão
leve de conteúdo dilui-se antes de nos alcançar, antes de nos entrar no peito, reconfortar
e apaziguar as incertezas da alma. Agradecer tornou-se um mero gesto de “boa
educação”. Até porque desde crianças nos habituamos a receber coisas fabricadas
em série, coisas que todos têm e nada, nada mesmo nos parece especial.
Mas
amar é um dom, que ultrapassa os mecanismos, a industrialização, o consumismo,
o comum e que o vê e o sente individual, único na atitude de oferta não de “objecto”,
mas da intenção que cria o gesto da compra, do embrulhar até à mão estendida
que oferece, quando nesse afago se dá a si também em amizade, em carinho, em
amor.
Amar
é um dom, reafirmo, um dom que não vejo em alguns olhares, em alguns corações
que ainda não o sentiram desperto e mesmo quando vêm de mãos estendidas, quando
chegam de braços abertos, dão, e no entanto, sem se dar.
Mas
não vou acumular ressentimentos pela aparente falta de gratidão, não vou
prantear a dureza de um silêncio que não ganhou voz. Vou olhar tudo isto como
uma etapa de crescimento e perceber que
a proximidade tem sempre uma distância que medeia a realidade do que cada um é e a idealização que dele fazemos. E porque
amar é um dom, sem sabermos bem como, vamos amando e acreditando que a “verdadeira
riqueza humana, não está no que se vê, mas no que cada um traz no coração”.