Hoje estou mesmo deprê, digo enquanto espreguiço o olhar para a montra de doces. Não sou gulosa mas sinto o coração amargo, preciso de o adoçar, de o compensar. A minha amiga segue a direcção dos meus olhos e rende-se ao fascínio do açúcar.
– Eu já sou deprê, que me aconselhas, um de cada? Aponta para o balcão e afirma:
– Não sei se é suficiente para me alegrar a alma.
– Deixa-te de exageros. Replico meio distraída, enquanto faço a minha opção. Não sou uma cliente fácil de pastelaria, acho tudo demasiado doce.
– Exagero? Volta a retorquir. - Mas tu não sabes que vejo tudo pela negativa? Bem nem podia ser de outra forma porque tudo me acontece!
– Ok, ok”. Começo a exasperar, será que não há nada com bom aspecto e que não me encha de colesterol? Estou mesmo deprê, não costumo ser assim tão indecisa. – Mas dizia, não acho que sejas uma pessoa assim tão negativa. Bom tirando o facto de seres acérrima devota das tempestades e de tudo o que lhe diz respeito, chuva, vento, trovoada e afins.
– Vês? Começas a reconhecer, vou mudar o nome para Deprê! Até soa a francês!
Pronto, decidi, fico-me pelo café, afinal não é com doses de doce que vou dulcificar o coração. – Sabes o que te digo? Só precisas que o sol entre na tua vida. Talvez procures a escuridão dos dias cinzentos porque assim não tens que ver quem quer iluminar a tua vida. Talvez gostes das sombras porque não tens coragem para sair delas e esperas que seja alguém a tirar-te de lá. Lança-me um olhar fulminante.
– Estás enganada, tenho coragem para lutar pelo que quero, mas não consigo é encontrar por quem lutar!.
– Será? Já beberico o café. – Será que não te estás a enganar a ti própria? Procuras um amor-perfeito. Isso existe? Tu por acaso és perfeita? Então porque exiges a perfeição dos outros? Enquanto deixas passar por ti lindos amores que mesmo imperfeitos podiam fazer-te feliz e afastar a nuvem cinzenta do teu viver.
Nunca ouviste a frase “Posso não ser o melhor, mas sou o melhor para ti”
Ignorando o meu comentário prosseguiu.
- Já escolhi, quero um pastel de nata, e uma garrafa de leite com chocolate e já agora dás-me o teu pacote de açúcar que não usas? Preciso mesmo de muito doce para adoçar o coração e começar a olhar para o que está perto e deixar de sonhar com o que está longe, para lá das estrelas.
Por vezes, somos nós que não sabemos escrever nas linhas do destino...