Uma casa tem cantos e recantos
onde se esconde a nossa história. Tem armários onde arrumamos as emoções que
adiamos para um dia mais calmo, uma noite mais longa, um momento em que
consigamos parar para sentir-mos, para nos sentarmos e olharmos bem cá para
dentro.
Uma casa tem estantes onde alinhamos as nossas recordações mais
desalinhados. Tentamos arruma-los por tamanho, mas rapidamente percebemos que
cada momento tem a dimensão que lhe damos agora e que a pode perder no depois.
Uma casa tem um teto que nos abriga, que nos protege como que a impossibilitar que o universo nos caia em cima, confiamos
nele como se fosse um amigo que nos dá um abraço forte e seguro impedindo-nos
de sucumbir ao medo de um céu aberto.
Uma casa tem paredes, quando entramos
estão silenciosamente à nossa espera como se aguardasse os nossos desabafos sem
contar o tempo para que regresse o silêncio. Uma casa tem chão, tem caminho e
na sua enganadora finitude, revela-se infinita, podemos percorre-la por horas,
dias.
Só depende de nós escolher a direcção para visitar cada pedaço de nós que
vive e fica numa casa. Tem o nosso cheiro, o nosso rosto, tem gargalhadas, ecos
dos nossos desesperados silêncios, tem manchas salgadas de cada lágrima derramada.
E com o passar do tempo, também ela vai revelando rugas de expressão por todas
as vivências que partilhámos.
Uma casa tem, coração, tem alma, tem sangue a
correr-lhe nas veias de argamassa, tem cansaço e coragem por entre os tijolos
empilhados colados com cimento de mágoa. Uma casa tem calor, tem amor, acalenta-nos,
embala-nos, abriga-nos, ampara-nos. Uma casa é família, é amiga, é pai e mãe em
simultâneo e avós para os nossos filhos.
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