Há
uma pandemia de solidão que se alastra, que confina cada um dentro de si.
Quando tudo começou sorrimos, um sorriso que escondia o receio de uma situação
desconhecida, mas que confiávamos, fosse breve. Acreditávamos na ciência
médica, nos políticos, nos virologistas, nos médicos em geral. Acreditávamos em
nós, em cada um de nós, que venceríamos, unidos. Mas com o passar do tempo, sentimos
que tudo nos falhou, sobretudo que falhámos nós.
Tanto confinamento, tanto
isolamento, tantas restrições, tantas regras que cumprimos, para nada, é o que
começamos a sentir perante os resultados.
O vírus vence-nos em casa, em cada
casa, por milhões a milhares que sobreviveram mas em grande parte com sequelas
e correndo o risco constante que lhes bata de novo à porta, que entre e não
queira sair.
Resta-nos
a coragem de conquistar cada dia, a esperança de que sairemos vencedores.
Resta-nos o sorriso de confiança que esmorece. Tentamos mentir, quem sabe
iludirmo-nos, garantindo que ele ainda está lá, escondido por detrás da
máscara. Todos
nos faltaram, sobretudo, faltamos nós, afastámo-nos dos amigos, dos familiares,
dos colegas, dos vizinhos. Acreditámos que estávamos a seguir as regras do
distanciamento, mas a verdade é que nos fomos fechando, esquecendo os outros e
eles a nós.
O telefone já pouco toca, as comunicações por zoom vão dando lugar
a um silêncio digital. Às vezes ainda mandamos um WhatsApp, mas as mensagens
vão diminuindo. Nada
é igual ao contacto humano, ao olhar que olha o nosso sem ser através de uma
tela. Falta-nos os odores que não percecionávamos mas que as nossas hormonas
recebiam e retribuíam. Faz-nos falta o calor daquele abraço.
Faz-nos
falta celebrar cada aniversário com um beijo num rosto amigo. Faz-nos falta a
presença de todos na festa do Natal, da Páscoa, as férias, o regresso à aldeia,
ver os mais velhos, receber os mais novos. Precisamos de encontros, de matar as
saudades de conversar a menos de um metro do nosso interlocutor, de sentir-lhe
a voz a ressoar como uma caricia dentro dos nossos sentidos.
Faz-nos
falta, socializar, partilhar. Faz-nos falta os outros para nos sentirmos
inteiros. Precisamos
de nos livrar desta máscara que nos cala, que nos rouba o sorriso, que nos
afasta, que nos separa, que nos deixa cada vez mais numa solidão individual de
pensamentos, de sentimentos, do passar do tempo sem os outros e cada vez mais e
apenas com o silêncio da nossa voz.
Disse-me
uma amiga outro dia “estou a dar em maluca, já dou por mim a falar com o vírus
em acesas discussões”.” Respondi-lhe, “espero que ele te ouça e se vá embora
das nossas vidas!”