Quando
nos tiram o chão ficamos sem poder caminhar, em redor surge como que um
nevoeiro, não daqueles que nos aconchega mas o outro, aquele, quase tenebroso,
que nos isola de tudo o resto. Que nos deixa numa margem distante de tudo o
resto, como se já não pertencêssemos ali.
Procuramos
desesperadamente o nosso lugar no conforto
do passado esse tempo em que tudo nos
era perfeito, os risos, os olhares, a vontade de realizar sonhos mesmo que acordássemos
a meio deles e nunca os concretizássemos, nada nos demovia havia sempre outros
para construirmos.
Era o
futuro a chamar por nós, era cada amanhã, fonte inesgotável de energia onde
tudo nos parecia eterno. Podíamos gastar, esbanjar sem receios, sentíamos que
tudo em nós se renovava mais forte, mais rico de esperança.
Quando foi que tudo foi que tudo isso mudou,
que a fonte da juventude secou, que nos roubaram os sonhos, que nos aniquilaram
as quimeras, que nos secaram as primaveras antes de florir, quando foi que as
andorinhas escolheram outros rumos e deixaram de nos visitar.
Quando é que as ondas deixaram de nos banhar e
as dunas se tornaram cidades à beira mar. Quando foi que o farol se apagou, que
a gaivota se silenciou.
São as
fases de uma vida feita de socalcos, feita de ventos, tormentos, doces
momentos, alguns lamentos. Somos nós, atando e desatando os confusos e
intrincados nós de cada dia para conseguir por fim descansar nos braços da
noite. Precisamos de nos encontrar, algures, onde estejamos, perdidos que
estamos da criança que fomos. Precisamos de voltar a sorrir, voltar a acreditar,
voltar a sonhar. Talvez ainda não seja
hoje, nem amanhã, desde que continue a haver muitos amanhãs solarengos dentro
de nós, um dia as andorinhas hão-de voltar.