Quantas vezes me citou este verso no seu
francês melodioso, que até eu que sempre achei esta língua amarga e seca,
gostava de ouvir e repetir. A tradução é menos bela, parece que se perde o
sentido, que há algo do sentir que fica no eco perdido.
“A hora é agora. Antes
da hora ainda não é hora. Depois da hora já acabou a hora”.
A
hora é agora, neste agora que não é meu mas seu, apenas seu. Nós que não temos
este agora, desejamos que parta a hora e não leve embora quem queremos sempre e
agora connosco. Mas eis que a hora reclama o seu momento neste exacto e triste
agora levando-a de nós embora. Ela vai,
imagino, sorrindo, como sempre a vi sorrir. Nem a falta de saúde, nem as
limitações lhe roubaram o sorriso nem as palavras sempre gentis e amigas, nem
os gestos harmoniosos. O coração que era em tudo tão grandioso, parou naquela
hora em que a vida se foi de si embora e nos deixou sem a sua amizade, o seu
carinho neste vazio de agora.
Não
sei se reclama se implora o meu peito que por dentro a chora, porque para mim veio demasiado cedo a sua hora.
Era noite que se diluía pela madrugada fora. Pareceu-me que tudo acontecera sem
demora e já o dia amanhecia, e já o sol se incandescia e um último abraço a
envolvia. Depois, a suavidade de um silêncio, o vácuo daquela hora que suspensa
na eternidade do instante, para depois continuar a sua jornada de cada momento,
de cada hora, a que fica, a que se vai embora no seu tempo que é agora. Claro que
o tempo se prolonga para além das vicissitudes de cada hora e fica e permanece
sem do coração se ir embora.
Obrigada
por cada hora partilhada com a sua amizade que tornou a minha vida mais bela, e
por isso, mais triste nesta hora.