“Não tenho muito jeito
para viver”
A frase não é minha, mas concordo, é preciso ter jeito para viver…
Será
que alguém já descobriu a fórmula para melhor conduzir a vida, esse veículo que
por vezes nos parece desgovernado, que corta a curvas, que acelera nas retas,
que se lança afoito nas descidas e que não desiste de enfrentar com fervor as
subidas?
Mas,
sim, é preciso ter jeito, encontrar a forma de suavizar as horas agrestes, de
tornar mais leves aqueles dias que nos deixam de rastos, com um cansaço milenar
de vidas passadas ou de vidas ainda não
vividas.
Claro
que também há momentos em que tudo faz sentido, em que por um instante nos
parece, que por fim lhe encontrámos o jeito, que descobrimos a regra para ser
feliz. É a hora de não ligar a nada, de nos deixarmos ir na maré, de acreditar,
de lutar, de ter fé. Porque se aprendeu a lição, não vamos repetir os mesmos
erros, não vamos ser precipitados,
impulsivos. Podemos afirmarmo-nos, marcar a nossa posição, esperar que tudo venha
ter connosco ou irmos ter com o momento.
Se
ao menos tivéssemos uma segunda chance para voltar quem sabe, a errar, ou uma
terceira oportunidade para recomeçar, uma outra quarta para tentar acertar. Mas
não temos para viver, apenas esta vida, o que aumenta a responsabilidade, o
medo que por vezes é um gerador de coragem. Além da certeza de que tudo é
incerteza, e que nesse mistério reside a beleza de existir, esse receber uma espécie
de prenda, um embrulho nem sempre fácil desembrulhar.
Pode
nem ser o que desejamos e mesmo quando é, constatamos depois que não terá sido a
melhor escolha para nós, para a nossa vida. Mas tínhamos que tentar, que
realizar o sonho em vez de nos limitarmos a sonha-lo. Devíamos isso a nós, à
vida, para a construir, para lutar por ela e torna-la, supostamente, melhor.
Esse
é o nosso eterno desejo, a nossa efémera utopia. Mas também é essa a nossa força,
aquilo que nos define, que nos faz avançar e recuar sempre que necessário,
desistir e persistir quando achamos certo. O tempo vai passando, ou melhor vai
“voando” enquanto nós, enredados no ciclo infinito de acerto e de erro, vamos
tentando, mas tentando mesmo, aprender a ter jeito para viver a vida que nos calhou em sorte.