Poderia
falar-te de mim. Mas que teria de contar para que nessa história coubesse toda
a alegria que te fizesse desenhar um sorriso nesse rosto triste. A vida contada
por quem a viveu não tem a menor graça, são momentos arrancados da alma, numa
amálgama mal misturada de retalhos incompletos, numa perpétua discussão entre o
que somos e do que gostaríamos de ser. Já tenho ouvido uma expressão que reflete
um pouco isto “lembramos mais facilmente as tristezas do que as alegrias”. É
bem verdade, porque cada lágrima foi espremida duma dor que demora a sarar,
enquanto a gargalhada vem ligeira num pedacinho de ar que nos emerge dos
pulmões. Leve, tão leve que voa pelo espaço e esfuma-se rapidamente nas brumas
do esquecimento. Perdemo-nos no lamento, de como é fraca a memória das
sensações, são nuvens que o vento num só sopro afasta para que o sol volte a
brilhar. Quando preferimos, sabe-se lá porquê, recordar a chuva. Aquela que nos
molhou a roupa, o corpo, e por vezes até a alma.
Poderia
falar-te de mim, mas prefiro calar-me, porque afinal sou igual a ti. Uma
história talvez diferente nos pormenores, mas repleta de finais idênticos.
Talvez seja melhor falar-te dos meus sonhos e esquecer por uns momentos os
pesadelos. Talvez seja melhor falar-te dos sucessos para esquecer os
insucessos. Mas irias certamente supor-me egoísta, vaidosa dos meus feitos,
vangloriando-me das minhas vitórias para anular as tuas derrotas.
Talvez,
seja melhor calar-me, e deixar que o silêncio nos permita ver para além de nós.
Um horizonte que permanece aparentemente sereno enquanto espera por um olhar
que o abrace. Sim, porque também o mundo sofre, e chora e ri. Esquece a tua
dor, esquecerei a minha. E vamos com a nossa esperança secar todas as lágrimas
do mar. Para que o sol brilhe na noite e a lua nasça radiosa no surgir da
madrugada.
Acredito que em cada pequeno recado deixes um pouco da tua história, difusa mas não calada. Porque não sendo histórias da tua vida, são do teu sentir. Em reflexões inteligentes. A semelhança de muitas outras, gostei desta, pela lucidez e pelo caminho que aponta. Beijos, Amália
ResponderEliminarGostei deste texto, uma excelente reflexão da angústia humana na sua busca de ser feliz. O que se é e o que se prespectiva ser num futuro que desejamos imediato. Ao olhar para trás apegamo-nos aos fracassos sem reconhecer as pequenas vitórias. Temos que aprender a ter uma visão positiva sobre cada pequena coisa boa que nos acontece, porque no seu conjunto certamente darão um bom somatório de alegrias., Bjs, Sandra B.
ResponderEliminarGosto dos teus post.its, porque nos brinda sempre com serenos momentos de reflexão matinal. Gosto da tua linha de pensamento, uma história que não sendo contada é revelada na intenção de ser calada para melhor se conseguir sentir. Bj. Alberto F.
ResponderEliminarQuando leio o que escreves, fico sempre a pensar, quem me dera ter tão bonito entendimento da vida. Deve ser bom ter uma amiga assim, que sabe falar e sabe calar a sua história para recolher a nossa no seu ombro.
ResponderEliminar“Tristezas não pagam dividas”, diz o povo com razão. Mas é bem verdade o que referes no teu texto, a alegria parece efémera na memória. Tal como dizias no teu poema “Era feliz e não o sabia”. Quantos de nós perdemos tempo a remoer momentos que devemos esquecer e desvalorizamos os que devíamos enaltecer. Talvez um dia aprendamos a disfrutar de cada momento com tudo o que ele tem sobretudo de bom. Beijocas, C.
ResponderEliminarHá que prefira as tristezas nem que seja para se lamentar e concentrar em si alguma atenção. Mas a verdade é que é a alegria que nos torna melhores. Tal como a terra necessita do sol, nós precisamos da alegria para inundar de luz o coração. Filomena
ResponderEliminarTodos temos a nossa história. Composta de variados momentos. Lembramos mais as tristezas, talvez para aprendermos a valorizar as alegrias.
ResponderEliminarEu sei que preferes calar a tua história, mas o melhor da amizade é o partilhar. Gostava de a conhecer.
ResponderEliminarOlhares, hoje ouvi o teu desafio, mais um. Feito desta forma tão bonita, ninguém que o leia pode deixar de o aceitar. Então, vamos esquecer-nos de nós e pensar um pouco para além da nossa vida. Vamos, por um momento, valorizar e agradecer tudo o que de bom temos e somos. E com tudo o que nos foi dado, vamos abraçar o mundo e iluminar a vida que vive ao nosso lado, em casa, no serviço, por aí onde nos cruzarmos com ela.
ResponderEliminarTu já iluminaste a minha. Vou levar a luz a outros.