“Tenho pena de um dia morrer” Disse-me uma grande amiga num tom saudosista. Estranhei a confissão, porque normalmente ouço desabafos de quem deseja partir, cansados que estão duma luta diária que lhes parece muitas vezes inglória.
Não sei se o fazem por mero desabafo ou por acalentarem a vaga esperança de que essa partida possa significar uma verdadeira chegada a um mundo melhor.
Quanto a mim, confesso, que este é um tema sobre o qual não tenho o hábito de me debruçar, não por medo do desconhecido, mas porque aprecio e vivo cada momento que vou conhecendo. No entanto dei por mim a pensar nos que partiram e no tanto que, na possibilidade de terem permanecido indefinidamente, poderiam ainda oferecer ao mundo. Grandes cientistas, escritores, pintores, músicos, humanistas, etc.
Porém não posso deixar de sentir com nostalgia, outros que não tocando o universo, tocaram em cada um de nós. Não mudaram o rumo da história mundial, mas mudaram o rumo singular da nossa vida.
Lembro-me deles em cada caminho que hoje percorro com a companhia da sua ausência, e procuro em cada detalhe de paisagem a lembrança do seu sorriso. Porque no fundo, eles nunca partiram, apenas mudaram de direcção.