Somos
humanos incompletos, sempre em mudança, em construção. Faz parte de nós esta insatisfação que nos faz
procurar, descobrir, crescer. Temos sonhos, esperanças, ou seja ideais. Olhamos
para o lado e sempre essa visão, talvez por nos ser exterior, nos parece melhor
do que a nossa realidade.
Queremos a família ideal, os amigos ideais, a escola,
os professores, os vizinhos, crescemos e começamos a delinear as relações
afectivas ideais, os empregos ideais, os chefes, os colegas. O cônjuge ideal,
os filhos, o futuro dos filhos, dos netos e do seu crescimento.
Os nossos ideais vão diminuindo, começamos a
idealizar pouco mais que a saúde ideal, dizem que isso é sinónimos de
maturidade, mas pressinto que é também de desilusão. Quando nos confrontamos com o
passar da nossa já longa caminhada e constatamos que poucos ou nenhuns foram os
ideais concretizados. Conformamos-nos, mas preferimos afirmar que simplesmente percebemos
que a nossa felicidade não está nesses ideais mas na valorização da realidade
vivenciada, fica bonito dizer isto, torna-se difícil senti-lo. É arrancar do
peito anos e anos de planos, de um caminho que fizemos nessa direcção.
Atrevemos-nos a idealizar, somos humanos,
parar de sonhar, de ter esperança, de acreditar, de ter fé em algo melhor, é
morrer antes da morte nos levar consigo. Por isso mesmo que baixinho, quase em silêncio,
ainda aspiramos a um futuro sem data marcada, que nos seja solarengo de esperança,
que nos encha de primaveril inspiração, que nos faça voar nem que seja apenas
em pensamento e que se tivermos que pousar pesadamente despertando de mais um
ideal fracassado então que seja sobre uma montanha de nuvens.