sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Folha de Outono

Gosto do dourado Outono,
Gosto de cada folha que cai.
Quando adormece num sono,
Que nas asas do vento se vai.

Paira suave, quase sem pressa,
Sem mágoa, talvez deslumbrada.
Com aquela eterna promessa,
De voltar na primaveril madrugada.

Apenas uma folha, dirão,
Perante o meu encantamento.
Não sei se ela tem coração,
Mas sinto-a no meu, nesse momento.

Sim, é uma folha, mais nada,
Das árvores que se estão a despir.
Mas dessa folha, no chão pousada, 
Não consigo, sem tristeza, me despedir.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Post.it: Vaga lembrança

 Quem fui,  quem sou. Os caminhos que percorri, as sensações que senti.
Morri no dia em que esqueci.
Do meu passado, do meu presente. Das recordações que construí. Das vitórias, dos fracassos. De tudo o que fiz, do que ainda queria fazer. E tinha tanto por fazer. Lembro-me que tinha planos, mas não me lembro quais. Recordo-me que tinha esperança, não sei sobre o quê.
Morri mas ainda encontro a marca dos meus passos, ainda vejo o meu rosto no reflexo do espelho, embora não tenha a certeza de que seja eu, dizem que sim. Por vezes rio-me desse olhar perdido em busca de me encontrar. Num jogo de escondidas, em que estou aqui e não me encontro. Por vezes choro, porque estás ai e não te reconheço, há em ti, qualquer coisa de mim, não só no gesto simultâneo, mas na dor coincidente. Então estendo-te os braços, estendes-me os braços mas não acontece entre nós o abraço. Uma barreira que não consigo identificar. Um muro de medos, uma fronteira de escuridão, aumenta cada vez mais a nossa distância.
Hoje sem saber bem porquê, chamei-te Lembrança, talvez porque me tenha lembrado vagamente do teu nome, curioso, é igual ao meu.
Mas há dias em que te chamo Esquecimento, por similar razão, não me recordo do teu nome, dizem que é igual ao meu, mas, qual é o meu?
No princípio, tinha muitas questões e as respostas magoavam-me porque na verdade já as conhecia, doíam-me porque sendo de situações passadas as sentia novas, num passado que me estava sempre presente. 
Depois, até das perguntas me fui esquecendo e ninguém me veio dar respostas. Cresceu uma paz, um silêncio, um distanciamento, uma morte, como se a vida morresse, quando ela se esqueceu  de terminar e continuou a viver.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A partida do verão

Ainda te procuro em cada pegada,
Na praia que fica agora deserta.
Pegadas de gaivota cansada,
Por voar na corrente incerta.

Peço-lhe a asa, peço-lhe o olhar,
Aceno aos seus altos planos.
Vã esperança a de a encontrar
Em tão vastos e densos oceanos.

De vez em quando uma vaga,
Cresce e eleva-me o coração.
De vez em quando uma calma,

Vem falar-me ao ouvido baixinho,
As tempestades são como a paixão, 
Passam e delas nasce outro caminho.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Post.it: Tudo o que quero

Tudo o que quero é meu. Aquela amizade, aquele amor, aquele sorriso, aquele olhar que navega no meu.
Quero, quero tudo, mesmo que um dia se dilua no tempo, que parta com o vento, que se dissolva nas marés.
Hoje está aqui e pertence-me sem direito de posse, sem prisão de abraço, sem obsessão, sem loucura de paixão, sem gritos de chantagem, sem lágrimas apelativas, É meu  apenas porque quer ficar.
Porque deixo a gaiola aberta e escolhe que sou eu o seu lugar. Quem sabe, mude. Quem sabe o seu coração abra asas e voe para um destino que não já conflua com o meu, deixo-o ir.
Sim, é livre de partir, pura e simplesmente porque me agarro com todo o meu desespero à esperança que volte. Volte sempre e queira definitivamente ficar.
Tudo é meu, no agora em que me sorris, em que me dizes as palavras que preciso de ouvir, que me olhas e sinto que sou o teu mundo. Sou feliz, tão feliz…porque é meu, este infinito, segundo.


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Post.it: Lugares perigosos

O passado é um sítio muito perigoso para se visitar. Tem armadilhas, algumas prestes a explodir ao simples olhar, ao simples suspiro. De repente pode afogar-nos em lembranças, de repente pode fazer-nos vir à tona das nossas fantasias. Porque o passado, tem tanto de verdade como de imaginação, quando o tempo e a distância o tornam mais suave, quando as feridas se tornam lições que tivemos que aprender pelas réguadas da vida. E nós, esfregámos as mãos, para aliviar a dor. Secámos as lágrimas com lenços de esperança, ou desejo de retorquir, “quando eu for grande hei-de fazer-te o mesmo, vais ver se gostas!”. Mas felizmente passou, e ao passar mudou o pano de fundo da história, afinal não foi um deserto árido de ventura, até era um jardim repleto de primaveras. A verdade, o que realmente aconteceu, foi um inverno, gélido e magoado, mas que importa, já passaram tantos verões que todos os icebergues da vida se derreteram e tornaram-se praias douradas, com suaves ondas e fofas dunas.
O passado é um sítio inquietante, pelas aventuras, pelas ternuras. Pelo que foi, pelo que devia ter sido. De quando em quando, perdemo-nos no seu labirinto e vemo-lo através dos olhos da criança que fomos, tudo era tão grande, assustador, havia abismos em todos os lados, mas não os temíamos, eram desafios, só os fortes, só os bons venciam, e nós, éramos, frágeis, sim, mas bons, de alma e coração. Não sei porque  nos acusavam, de reguilas, rebeldes, desobedientes, irrequietos, do que na verdade éramos, crianças. Algo que os crescidos já tinham esquecido, talvez não tenham visitado o seu passado para recordar os bons e os maus momentos, talvez tenham apagado as cores do seu arco-íris e só se lembrem da copiosa chuva.
Mas o ciclo da vida contínua imparável, as crianças tornaram-se adultos, os adultos tornaram-se velhos e os velhos, uns mais do que outros, voltam a ser crianças, sem viverem aventuras mas recordando-as, quiçá, imaginando-as.
O passado, torna-se finalmente um lugar feliz, porque se descobre que apesar de tudo, éramos felizes. A felicidade é viver o ontem que seja para sorrir é olharmos para o amanhã com esperança,  mas sabermos que só no hoje é que podemos sentir-nos plenos de vida.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Dá-me os parabéns

Dá-me os parabéns de nascimento,
Se o meu viver teve algum significado.
Se atenuei cada doloroso momento,
Se deixei  alegria por todo o lado.

Dá-me os parabéns se queres festejar,
A história deste já longo caminho.
Que em cada amigo encontrou lugar,
Para se dar e receber com carinho.

Dá-me os parabéns se valeu a pena,
Cada instante de amor e de amizade.
Se deixei a semente mesmo pequena
Que cresceu desabrochou em felicidade.

Dá-me os parabéns em prenda,
E que nela encontre ao desembrulhar.
Algo que alegremente me surpreenda,
Porque não existe em nenhum outro lugar.

Dá-me os parabéns pelo meu aniversário,
No desejo de uma  perpétua repetição.
Desta força de mar, desta doçura de rio,
Com que me recebeu cada coração.


Dia especial

Há dias diferentes,
dias especiais
dias de ficar contente e sorrir.

Esses dias são raros,
sentidos como únicos.

Este é um deles.
Não por ser 12,
a magia da perfeição,
Não por ser mês de semear,
de acreditar na promessa de vida.
Não, este dia é especial porque é teu.
Ele sentiu-te espreitar a vida
 e fez-te respirar.

E tudo mudou,
porque passaste a existir!

O mundo sorriu,
esperando o teu sorriso.
O mundo acreditou em ti,
que algo haverias de mudar.

E mudaste!

Tocas a vida de quem por ti passa,
de quem vai ficando
E espalhas sementes
  de acolhimento
  de verdade
  de generosidade
  de inspiração
  de amizade
  de confiança
  de amor!

É isso a vida: acolher, sentir e partilhar!

            Obrigada por existires!

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Aquela que sou

Aquela que sou,
Casa, hotel, banco de jardim.
Na certeza que sempre estou,
De portas abertas em mim.

Por quem passa, quem vem,
Quem em mim adormece.
Que me fica como alguém,
Que no coração permanece.

Casa que sonha ser lar,
Recanto de vivente felicidade.
Queria tanto aconchegar,
A vida em qualquer idade.

Resta agora o jardim,
Aqui e ali, quase outonal                       
Com recantos de jasmim.
Neste olhar de madrigal.

Aquela que sou,
Talvez, apenas caminho.
Quando por ele vou, 
Percorrendo o meu destino.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Post.it: Regresso

Regresso de férias, de uma outra rotina sem horas marcadas, de descanso, de cansaço da viagem, das limpezas, das arrumações. Regresso da paz ou da euforia, do sol, do mar, do caminhar, da roupa leve, do chinelo no pé, dos cabelos ao vento.
Mas antes, por um momento, antes do regresso, deixem-me encher o painel solar do coração com toda esta luminosidade antes que o inverno o invada de escuridão. Que os olhos se inundem de azul, de verde, de areais, de gente colorida, da espuma branca da última onda marítima. Que os lábios congelem ao prolongarem mais e mais o toque com o último Corneto de chocolate estaladiço, que o último jantar de férias seja uma bola de Berlim com um generoso sorriso de creme de pasteleiro. Hoje, mesmo que seja só hoje, vamos esquecer a dieta, o colesterol, a glicose, temos todo o inverno para nos penitenciarmos do pecado da gula.
Merecemos cada momento deste verão, destas férias, pela paciência e desgaste despendido ao longo do ano, com todos os sacrifícios que tivemos de fazer para conquistar o direito a uns dias no paraíso. Estes momentos nossos, só nossos para partilharmos com quem queremos, sem obrigações, sem ralações, sem discussões, sem colegas, sem patrões.
Mas eis que chega a altura de regressar, lembro-me que em tempos distantes, esta época era de alegria, de espectativa, significava reencontro, novidades, histórias partilhadas com os amigos da escola, mas também isso já passou e o regresso agora tem um sabor de reconforto, cada vez mais é um sabor de reconforto, cada vez mais é bom saber que se tem para onde regressar, e que é isso nos possibilita no próximo ano ter novas férias, pagar o conforto de um lar, ver os filhos crescer sem sentirem dificuldades e adormecer à noite no sofá da sala com o som embalador da televisão. Amanhã, regressamos, talvez não ao que mais desejaríamos, mas apreciando e valorizando o que temos e, se dermos o nosso melhor, quem sabe também ele seja melhor para nós, pelo menos na sensação de realização porque fizemos o que estava ao nosso alcance. 
A todos os que regressam, bem vindos.