quarta-feira, 29 de junho de 2016

S. Pedro

S. Pedro em final de festa te espero,
Santo que és da minha afeição.
Com o sentir quase em desespero
Para que me correspondam ao coração.

Santo António por aqui  passou,
Não atendendo ao nosso pedido.
São João na festa muito brincou,
Mas dos pedidos ficou esquecido.

Resta S. Pedro que lá do céu,
Olhe para a terra e nos sorria.
Para o festim que o povo lhe deu,
Nos ofereça a nossa maior alegria.

A dívida nacional quase a se extinguir,
Todos os impostos por fim a baixar.
Um emprego para todos a surgir,
E a conta bancária a aumentar.

Porque o amor e uma cabana,
Já não ilumina nem o alto luar.
Já que esta pobreza franciscana,
Nos tira o sono e rouba o sonhar.


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Festa de S. João

S. João vem de martelinho na mão,
Recebo-o alegre e sem temor.
Porque sei que no meu coração,
Ele só vai tocar com uma flor.

É santo, quer para todos o melhor,
Que todos os anos a nossa devoção.
Lhe dedique uma festa cheia de cor,
Para que ele nunca responda não.

Aos pedidos dos seus foliões,
Que só lhe pedem a felicidade.
E lhe iluminam coloridos balões,
Repletos de ar, luz e saudade.

Este ano a festa está a acabar,
A fogueira na rua já se apagou.
Mas dentro do peito o sonhar,
Planeia a que ainda não chegou.


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Post.it: Os jacarandás floriram

Já floriram os jacarandás, era sempre nesta época, perto do seu aniversário. Surgiam como uma prenda, como um sorriso florido de quem vem para uma festa e em festa porque o festejado é ele próprio essa alegria, oferecida, partilhada.
“Já floriram os jacarandás!” Repetia todos os anos como se fosse uma bênção da natureza, uma dádiva da vida. Eram o cumprimento de um ciclo, que de alguma forma nos modela a forma de sentir em cada estação do ano. A sua floração, anuncia o fim da primavera, o início dos dias longos e quentes de verão.
O ano passado os jacarandás floriram, errantes na nossa dor da sua partida, pensámos, é a última vez que os jacarandás vão florir. Contudo, passado um ano, a primavera desabrochou um jardim de flores sobre a paisagem, as árvores vestiram-se de verde, as andorinhas cantaram e dançaram a sua peculiar melodia, mas os jacarandás permaneciam despidos de cor.
Sim, era verdade, com ela partiu também a última flor do jacarandá da rua onde morava, das ruas onde passava, de todas as outras por onde passamos nós, mergulhados em pensamentos de solidão, em sentimentos de saudade. Até que uma flor me cai aos pés, reconheço-a de imediato, uma flor de jacarandá, murmuro surpreendida. Caiu-me a meus pés, como se me chamasse, como se quisesse ser olhada, contemplada, recebida e eu, confusa, atordoada com esta repentina chegada, olho-a por entre lágrimas contidas de um ano de ausência, de uma amiga, mas também de uma flor que ela apreciava, e que passou a ser um laço estreito de lembrança.
Mesmo depois da sua repentina partida os jacarandás continuaram a florir, recebo esta “prenda” da natureza com alguma mágoa, por estranho egoísmo, queria que também os jacarandás sentissem a sua falta e não mais florissem. 
Mas, floriram, ainda bem que floriram, porque isso significa renovação e nos faz recordar essa amiga e desejar assim que as jacarandás floresçam todos os anos para dar a cada flor o seu nome e à nossa saudade uma presença constante sempre que o olharmos florido vendo nele eternizado o seu sorriso e a sua voz quando dizia “olhem, os jacarandás já floriram!”.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

post.it: Ser como tu

Quem me dera ser como tu, penso nisto desde que te conheço, como tu a quem tudo acontece, tudo o que te poderia roubar a felicidade, apagar o sorriso, afogar o olhar, mas não, tudo te ergue mais forte, mais serena. Como se cada tempestade, fosse apenas o caminho impulsivo para chegar mais longe. E chegas, chegas sempre, com a mesma e sempre renovada placidez.
 Invejo-te, e temo a minha inveja, não quero ter semelhante destino, mas ambiciono por similar coragem. Onde, pergunto-me, pergunto-te, onde vais buscar tanto ânimo, tamanha bravura, para arregaçar as mangas e revelar uns braços sem músculos, com nódoas negras, que não doem, “já não doem”, mas contam histórias, “foi quando evitei a queda de alguém que me é muito querido”. Foram dores, que nem chegaram a doer, porque evitaram outras maiores.
Como consegues, recomeçar cada manhã? Adormecer em cada noite?
“Sendo mais forte que a minha maior desculpa”
E os anos, sim os anos, que levam anos a passar, pesados, demasiado para tão fraca estrutura humana, como consegues trazê-los a cada hoje, sem formares rios, sem te afogares nos teus mares?
"Aprende-se, aprende-se tudo, até a condensar numa só gota, todas as lágrimas do oceano".
Não lhe pergunto mais nada, embora, queira ainda, tudo aprender. 
Quem me dera ser como tu, dar valor às coisas pequenas e boas,  desvalorizando as grandes e difíceis de superar.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Parabéns

                                         Parabéns
            Quando a vida presenteia com a capacidade de sorrir,
                        E a vontade de partilhar o seu sentir.
                                         Parabéns
                          Quando se tem esse abraço de amizade,
                          Que nos preenche de renovada felicidade.
                                                                                                         Parabéns
                                      Por todos e muitos belos anos,
                                     Em que se tem sonhos e planos.
                                             Parabéns
                                      Por se fazer da vida uma missão,
                                    Que nos enche de carinho o coração.
                                          Parabéns
                          Pelo seu momento festivo de aniversário,
                       Por escrever com tinta de esperança um diário,
                         Que sem segredos se lê nas linhas do universo,
                          Para que a si conflua todo o amor disperso.



quinta-feira, 9 de junho de 2016

Festa de Santo António

Santo António virá molhado,
Neste ano tão chuvoso?
Chegará talvez afogado,
Em pedidos de amor formoso.

Não sei se os manjericos,
Resistiram a tanta água.
Ou se ficaram mais ricos,
Perfumadas rimas sem mágoa.

Mesmo se o sol não brilhar,
E o cravo de papel se molhar.
Santo António há de chegar,
E fazer de cada coração seu lar.

Afinal Lisboa é sempre bela,
Isso o revela em cada esquina.
Quando ao Tejo abre a janela,
Com o seu sorriso de menina.

A sardinha já está na brasa,
E os balões dançando no ar.
Lisboa entra em cada casa,
Com uma marcha a cantar.

Lá vai a nossa Lisboa,
Com o seu ar namoradeiro.
Esquecida do que a magoa, 
Procura um amor verdadeiro.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Post.it: Apenas pessoa

Cada pessoa é apenas uma pessoa. Não temos o direito de a escrever, de a desenhar, de querer que seja tal como a vemos, tal como a sentimos.

Cada pessoa é apenas uma pessoa, temos, talvez o direito de a sonhar e de por momentos, nesse sonho acreditar.
Depois, temos de acordar e deixar o sonho voar. Porque cada pessoa que amamos, não era ela, éramos nós, que estávamos cheios de amor para oferecer.
Cada pessoa que abraçamos não era ela, éramos nós, cheios de carinho para partilhar. Cada pessoa para quem sorrimos, não era ela, éramos nós cheios de alegria para dar.
Cada pessoa que nos fez chorar, não era ela, éramos nós, cheios de tristeza que já não podíamos no coração conter.
Podemos-lhe chamar pessoa amada, porque a amamos. Amiga, porque lhe damos a nossa amizade. Companheira,  porque a acompanhamos.
Mas cada pessoa é apenas uma pessoa, que fica, enquanto ficar. Que parte, quando tem de partir.
Porém, entre a chegada e a partida, fica a gratidão, o reconhecimento do que nos foi, na forma como nos melhorou, talvez não por ela, mas por nós que assim fomos, que assim sentimos. 
Cada pessoa é apenas uma pessoa e nós que olhamos para ela, vimos, na verdade, não o que ela é mas o que nós através dela somos.