quinta-feira, 28 de maio de 2015

Quando ainda somos...

Quando o meu nome for saudade,
E o meu ser liberto de vaidade,
Vaguear no mar da lembrança,
Que já foi grande e se torna criança.
Quando o meu nome quase calado,
Se tornar caminho abandonado,
Como primavera nascida sem flor,
Como coração que bate sem amor.
O ar que dado em breve suspiro,
No sonhar que já não inspiro,
E lá segue amena a madrugada,
Indiferente à noite tão cansada.

De me lembrar que é na vida,
Que se constrói a despedida.
De aprender que a felicidade,
Começa num acto de liberdade.
Percebo então o que deixei partir,
Sem para esse destino sorrir.
Só vemos a luz quando escurece,
Só sentimos o dia quando adormece.
A falta do sol vem quando o frio,
Nos enche de um inverno vazio.
E até mesmo do íngreme caminho,
Se sente falta quando se está sozinho.

Se há um momento, uma hora,
Que seja neste instante, agora.
Que ainda não somos lembrança, 
Que ainda somos esperança.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Post.it: O ladrão

(Sou um ladrão, prendam-me. Roubei suspiros, assaltei corações. Furtei sonhos. Menti, sim menti, enganei, mas foi tudo por Amor. Acreditem!
Mas quem acredita num larápio de ilusões. Quem dá ouvidos a quem planta saudades nos seres mais incautos depois de lhes ter revelado o caminho suave da felicidade. Porque, sim, sou um malandro, daqueles que tem boas falas, gestos mansos, olhar envolvente e palavras que fazem voar os sentimentos. Surripiei beijos, rapinei desejos. Saquei vidas vazias de paixões. Defraudei fantasias. Gamei-lhes a paz, essa paz que tanto apregoam quando no fundo, bem lá no fundo das verdades omitidas, queriam muito conhecer o idílico sentimento amoroso. Neguem, neguem se puderem, envolvam-se em falsos pudores, mas foi no meu leito de ondulantes madrugadas que desposaram em mim os mais ternos recatos. Chamem-me todos os nomes que só um marialva deve escutar, mas depois, mesmo que seja muito depois, sequem as lágrimas de orgulho ferido, de ego magoado e reconheçam que fui a história mais complicada e mais ditosa que viveram. Reconheçam que o mar é lindo quando está pacifico mas, quem resiste à atracção de mergulhar nem que seja unicamente com o olhar nas mais fortes tempestades. Quem resiste a arriscar a vida por quimeras que se derramam pela margem e sucumbem na areia, foi feliz, foi doloroso, talvez, mas pela viagem repetiam uma, mil vezes...
Prendam-me, condenem-me ao cárcere por mil anos. Assumo, sou culpado, sim sou culpado, porque amei!)
Merece a liberdade quem ama, todas as vezes que o seu coração abraçar o sentimento. Merece a liberdade quem se entrega sem medo do futuro. Merece a liberdade quem rompe com as fronteiras do tempo e acende em alguém centelhas de eternidade. 
Condenados sejam os “juízes” que nos fazem prisioneiros do infortúnio em nome de uma felicidade ausente de emoções. Condenados sejam aqueles que não sabem amar.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Post.it: A vida resolve

Tudo vem tudo me passa e ao passar, minto, se disser que não me fica. Numa célula de vida, num recanto da alma, no esconderijo secreto do olhar. Mas passa, garanto que passa, com mágoa ou sem ela, com saudade ou esquecimento, passa. 
 No que fica, o vago embaraço da lembrança, os resquícios ténues do que foi esperança… Cresce a semente, um pouco mais de nós, numa centelha que altera por instantes o frágil timbre da voz. Um adeus que queremos e não queremos dizer. Um espaço que fica para um outro olá. Há quem desista dos recomeços, há quem não queira mais enfrentar os dias e sobretudo as noites que lhe são escuridão dentro do peito. Mas que pudemos fazer se as águas nos avassalam, se as ondas nos impelem a seguir. Remar contra a maré, ficar âncoras de orgulho? Não, não vale a pena, quando ainda há tanto céu para enchermos de estrelas, de luares, de sois, de madrugadas, de chuvas de Março que fazem despontar a primavera. Há sonhos para sonhar e uns quantos para concretizar. Não, não nos vamos agarrar ao passado quando à nossa frente o futuro nos estende os braços e nos incentiva a atravessar a ponte libertando-nos da prisão de ser finita margem. O horizonte pertence-nos, a estrada é o caminho certo, seja qual for a direção. E depois, mais tarde ou mais cedo há uma certeza que temos de reconhecer, que temos que repetir em todas as ocasiões quando a dúvida nos quer sufocar, vamos sorri, confia, que a vida resolve.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Post.it: O nosso impar...

 “Ninguém é igual a ninguém. Somos um estranho impar”. Há momentos em que procuramos a completude nos outros, mas acabamos sempre sozinhos, não falo em finais, em rompimentos, em adeus sem regresso. Mas de silêncios que nos crescem no peito, quando as palavras, todas elas, já foram ditas e, mesmo quando as repetimos apesar de nos parecerem novas, são as mesmas para semelhantes dilemas, ou para outros que entretanto criámos. Porque vá para onde formos. Porque mesmo quando crescemos e nos multiplicamos, somos e seremos sempre apenas nós, sós.
 Não porque o escolhemos, mas porque fomos escolhidos. Faz parte do que somos, esta necessidade de estar, de voar para longe de tudo e ficarmos mais próximos de nós. Às vezes, mas só mesmo muito às vezes, bem que nos apetecia que alguém viesse desarrumar a nossa vida, desordenar os nossos sentidos, um a um até só restar como primordial aquele que nos olha de frente como um abismo, quem sabe para mergulharmos, se ao menos tivéssemos coragem, de morrer, de renascer… 
Mas não, o silêncio já nos chama e nós como um filho do mar e da onda deixa-mo-nos ir nesse embalo, porque sabemos que nada é tão bom, tão doce, tão terno quanto esse abraço. Só tu me permites ser o que sou. Só tu entendes os meus silêncios, já os conheces, dizes que até já “gostas deles”. Porque tu, tal como eu, sabes, que fazemos, um impar perfeito.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Amostra

Se o destino me visse,
Se o destino me olhasse.
Talvez ele de mim se risse,
Talvez ele por mim chorasse.

Pelo caminho que já andei,
Pelo caminho que me falta andar.
Por tudo aquilo que lutei,
Por tudo o que deixei de lutar.

Entendam, sou humana,
Sou apenas o que faço.
Quando do amanhecer emana,
Um dia que leva ao cansaço.

O passado, já há muito passou,
O futuro, ainda demora para vir.
E eu, que simplesmente estou,
Continuo sem saber para onde ir.

Porque o que sinto, vale a pena,
Porque o que sinto, vou sonhando.
Que a vida é amostra tão pequena, 
Do que de mim vos vou revelando.