quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Post.it: Deste teu amigo…

Não desistas de mim, mesmo que na vida nada te corra bem. Encontra-me nas pequenas coisas, no sol de inverno, na flor que nasceu por entre o betão, nas folhas de outono, nas crianças a brincar, nas aves a voar, nas ondas a embalar a praia...
Abre-me a porta do teu lar para que o encha de mim. Abre uma janela no teu peito para que do frio da noite me possa aconchegar.
Olha em teu redor, vê-me nos olhos tristes que tu podes alegrar. Reconhece-me em cada vida solitária e faz-lhe companhia. Escuta-me em cada sopro do vento que geme um lamento que tu poderás atenuar com o teu carinho.
Não me abandones, nem às memórias de uma infância cheia das nossas histórias natalícias. Não penses em mim perdido por entre presentes e laços, encontra-me entre muitos sorrisos e outros tantos abraços.
Não te esqueças de mim, seja em que data for, não precisas de me celebrar somente em Dezembro, celebra-me quando tiveres vontade de ser solidária com um amigo, gentil com um desconhecido, cortês com um inimigo.
E se as luzes das ruas te encandearem o sentir, se os objectos nas montras te baralharem o querer, se a multidão com que te cruzas só te oferecer solidão, não lhe vires as costas, estende-lhes a mão, oferece-lhe a tua atenção, dá-lhes os teus votos de um belo e Feliz Natal.
Não me julgues hipócrita, consumista, egoísta, falso, porque na verdade eu sou o que tu quiseres: serei a lealdade, o carinho, se  cuidares de mim como se fosse uma flor que apenas te pede a bênção do teu calor; mas também poderei ser fugaz, a prenda que nem vejo desembrulhar, o compromisso sem sentimento, a breve história de um vulgar momento.
Acredita em mim, porque isso significa que acreditas em ti, que regressas de vez em quando à criança que acalentava a esperança de tornar o mundo melhor.
Recebe de mim, um abraço natalício com muito carinho e vontade de contribuir, para tornar a tua vida um pouco mais feliz. Tal como tu tornas feliz a minha, sempre que me sentes, e que me ofereces aos outros, em bens materiais, em emoção, em amizade. Porque todas as formas, todos os gestos, são sempre belos quando brotam do mais terno coração.
                                                                                     
Um abraço deste teu amigo, 
             Natal
                                                                                                                                                                           

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Post.it: A poética vivencial da palavras

Costumam dizer que falar muito com poucas palavras é próprio da poesia. Mas há que enquadra-las, harmoniza-las, humaniza-las. E também dar-lhes asas, solta-las ao vento e ter a certeza que o seu voo nunca será uma partida mas sempre um regresso. Uma chegada que recebemos, recolhemos, para lermos, saborearmos e sentirmos em momentos que delas precisamos para nos preencher o vazio de outras palavras que já tardam.
Serão talvez, estas apenas substitutas dessas outras, dizendo algo que pode ser sentido, porque tem real sentido. Palavras que  condensam uma verdade que nos guia e nos define enquanto ser emocional.
Mas no fundo não é  preciso dizer muito, nunca foi, basta dizer o essencial, deixar no horizonte das palavras a porta aberta para que outras  a elas se venham juntar numa relação feliz e quem sabe até geradora de novas palavras na construção de  um caminho comum, feito por lugares de paz, lugares de harmonia. Há quem considere as palavras ambíguas, passiveis de múltiplas leituras, há quem as acuse de se esconderem com receio da frontalidade, da verdade. É possível, tudo é possível, porque são lidas com diversos feixes de emoção. As palavras podem revestir-se de alguma opacidade abrindo a porta a múltiplas vias de interpretação, até porque elas serão sempre a conjugação do que somos, desse passado que nos fez crescer com personalidade e valores educacionais concretos. De um presente trilhado por cada dia, por cada hora, em cruzamentos, encontros e desencontros de horas solares, de nuvens que nos fazem companhia em ondas de diferentes (a)mares. 
Não desvalorizem as palavras, ela são  um composto de letras dispostas segundo uma objectiva intenção. Elas têm sempre algo para dizer, são um depósito de sensações, são braços que se estendem quando as lemos e encontramos nelas um elo de cumplicidade, recebemos então esse abraço  que há tanto tempo espera por ser dado, lido, compreendido e quem sabe, igualmente abraçado...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Post.it: O nosso tempo

 “Eu venho dum tempo que por vezes me parece perdido no tempo, de uma geração que se deixou influenciar pela anterior e esta pela que a precedeu. Hoje as gerações influenciam, contagiam na ordem inversa já não do passado para o presente mas do presente para o passado, para que não se sintam, humano-excluídas num fosso de diálogo e de conhecimento.
Não sou saudosista do tempo mas das coisas boas, verdadeiras, de saber que se pode caminhar por ali e se nos perdermos alguém nos trará de volta, alguém que se interessa, que se importa com o seu semelhante.
Lembro-me de me dizerem que simpatia gera simpatia; que o bem gera o bem, mostrando que a boa vontade é contagiosa. Mas quem se deixa contagiar? O bem passou a ser aquele que recebemos, não o que fazemos. A simpatia é a que exigimos mas não a que partilhamos.
E todos os dias mergulhamos nas nossas preocupações, nos caminhos da cibernética e sentimos que temos uma multidão à nossa volta, no entanto quando desligamos o botão, só ouvimos o silêncio e o eco que escutamos é unicamente o som solitário dos nossos passos. O mundo cresceu e no entanto conseguimos tocar-lhe com a ponta dos dedos. Sabemos tanto de tudo e no entanto sabemos tão pouco de nós e cada vez menos dos outros. Que posso deixar de testemunho às gerações vindouras? Nada! Elas querem aprender com o futuro e não com as lições do passado. E as pontes são cada vez mais elos de afastamento e os mares cada vez mais ondas de lonjura. Não sei se os barcos voltarão ao nosso cais, não sei os passos pisaram as finas areias da nossa praia. Não sei se partilharemos o mesmo olhar delineando as fronteiras do horizonte. Não sei se teremos algo em comum que não seja apenas o que somos na individualidade, na indiferença, na ausência que nos torna ilhas de estéril sentir. Que me o diga o tempo, já não aquele de onde venho mas o tempo  que vai partindo de nós.”
Eu, sou desse tempo, não na sua cronologia, mas em valores e sentimentos, em entrega, não sei o quanto há de verdade na sua verdade, que sem querer sinto-a um pouco minha. No entanto,  recuso-me a aceitar como definitiva essa possibilidade. Recuso-me a pensar que são causas perdidas. Que as gerações são fronteiras intransponíveis. Que os valores se perderam em definitivo. como deixar de acreditar quando uns olhos pequeninos mergulham nos meus, quando uma mão minúscula segura com firmeza o meu dedo. Sim ele acredita em mim e eu preciso de acreditar nele. Quem sabe o tempo seja um dia, finalmente nosso.



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Post.it: Espera...

Este verbo “esperar” que nos é por vezes tão doloroso, de ansioso,  de querido. Um querer que ultrapassa a vontade e se torna  desejo. “Felizes aqueles que esperam” li outro dia num livro peculiar, que fala de espera, uma espera que nunca se desalenta. Que revela  um tempo infinito mas que na sua real finitude diz-nos que se chega lá, devagar…, depressa…, num tempo que sendo nosso, na realidade,  não nos pertence, não o  podemos manipular segundo as nossas opções de vida, a nossa vontade de obter aquele momento, aquele instante que nos surge mágico na beleza que tem ou na que lhe imaginamos depois de tão demorada espera.
Mas chegar lá nem sempre significa obter o fruto do nosso querer, essa tal magia nem sempre acontece. Então que fazer, desistir? Não! Continuamos à espera,  mesmo quando só a sabedoria popular nos anima “quem espera sempre alcança”. Ainda que demore, demore muito, por vezes tanto, demasiado mesmo que o pensamento esquece, que o coração arrefece, que o sonhar adormece em cada dia que amanhece e nada, mas mesmo nada acontece. Então começamos a acreditar noutra expressão popular que cada vez mais ganha sentido “quem espera desespera”.
Claro que não é essa espera que o livro descreve, ele fala de uma espera da qual nunca se desiste, porque a esperança nos diz que vale a pena esperar, porque até a espera é consoladora, faz-nos companhia nas horas passadas e nas que chegarão em breve.
E assim se vive, por vezes uma vida inteira, numa espera que não é acomodação, que não é de desistência, falta de objectivos, fraqueza de carácter, até para esperar, é preciso ter coragem, é necessário lutar e lutar muito, contra a descrença, a nossa e a dos outros que nos aconselham a deixar essa espera e a seguir, talvez para outra espera. No entanto já nos habituámos a esta, já a acomodámos no peito, já dorme aconchegada no nosso abraço, já sonha connosco os mesmos sonhos…
Com abandoná-la, como edificar outra e esquecer esta, quando ela sempre nos foi a expectativa de uma estrada, de um reencontro, o vislumbre de um sorriso por entre a penumbra da noite, que sempre nos foi a eterna espera de uma chegada.