segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Nunca parte...

Pereceram-me células do ser,
Doeu-me forte na emoção.
Por cada amigo a desaparecer,
Aumentando a minha solidão.

Mas nunca parte quem nos fica,
Guardado na nossa lembrança.
Quem sem acreditar, acredita,
Que no futuro a vida o alcança.

Mas eis o Natal já a chegar,
E a festa quase a acontecer.
Que fazer se o peito a chorar,
Não consegue o Natal receber.

Mas os braços vão-se abrindo,
E até o olhar se vai iluminando.
Como receber o Natal senão sorrindo,
Como viver o Natal senão amando.

E afinal a morte é uma ilusão,
Um erro da vista, chegam a dizer.
Porque quem nos vive no coração
Existe sem o conseguirmos ver.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Post.it: Apenas "poesia"

O que somos? Um mundo, um universo de estrelas, de sois, de luas. Uma galáxia de sensações, de vivências que nos moldam, que nos definem.  
Somos uma mão estendida, que quer dar, que quer receber. Amparar, erguer ou ser erguida.  
E essa dádiva de existir, de prosseguir, deixando no caminho as pegadas ligeiras do coração,  revela-nos  o quanto está cheio e simultaneamente leve. Tão leve que ganha asas, tão ténue que flutua na mais delicada brisa. 
No que somos, estamos inteiros, partilhando-nos, dando-nos. Afinal temos tanto para dar quando a vida que nos preenche já nos deu muito, em experiência, em amor… 
Bem sei que há dias em que o mar nos inunda os olhos, que a dor nos supera. Mas o que aprendemos a ser, reinventa-nos um sorriso e sem sabermos bem como, esse dia passa como uma nuvem cinzenta num céu que se torna límpido de esperança. E não há nada que nos roube a essência do que nos fizeram ser, crescer, transformar. Mesmo quando desejamos ser ilhas, há sempre uma ponte que se estende para nós, um barco que se dirige para o nosso cais, ele vem, vem sempre, vem a remos, vem a nado, não desiste de nós. Vem amparar-nos, engrandecer-nos, preencher-nos. Como podemos então desistir? Como não reconhecer o que nos dão e multiplica-lo por mil, para retribuir quando chegar a nossa vez de sermos a ponte, o remo, o abraço. 
Essa deve ser a nossa natureza, só temos que encontrar a fonte, que quanto mais se dá mais tem para dar. Já não precisa de receber, quem tem tanto no peito… 
E mesmo que seja apenas “poesia”. Mesmo que para alguns não passe de “verbo encher”, era tudo, apenas tudo para fazer alguém feliz. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A chuva

A chuva não molha,
Apenas te quer abraçar.
São gotas com que sonha, 
Transportar o seu doce amar.

Mais do que simples flor,
Como se fosses primavera.
O seu tão distante amor,
A sua tão grande quimera.

Por isso a chuva cai,
Num copioso adorar.
De quem sem soltar um ai
Cai sem medo de se magoar.

Não há distância para o sentir,
Não há dor que tanto doa.
Que impeça o destino de fluir,
Que o contenha de voar à toa.

A chuva, não é somente água fria,
Nem só pequenas gotas cristalinas.
É uma felicidade que ela queria,
Grande nas coisas mais pequeninas.