quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A lua me magoa

Como a lua me magoa,
Com a sua solidão.
Gaivota que tanto voa,
Sem pousar o coração.

Nem o sol seu companheiro,
Entende os suspiros do luar.
Que deixam o céu inteiro,
Sem o reflexo de estrelas no mar.

Nem o vento que a embala,
Entende o meu murmuro.
A estranha dor que cala,
No lado que tem mais escuro.

Nem a flor que exala perfume,
Nem a nuvem com o seu abraço,
Conseguem afastar o queixume,
Que vem do mais alto espaço,

Como eu consigo entender,
O que a lua só a mim revela.
A vontade de um dia ser,
O mais ágil barco à vela.

Para cruzar o extenso mar,
Para atravessar o universo.
E então mergulhar no olhar,
Que descreve em cada verso.


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Post.it: Recordações

Recordações, tudo são recordações, as Primaveras que chegaram, os Invernos que as levaram. As rosas que murcharam, os malmequeres desfolhados de bem-me-quer. Os arco-íris desvanecidos. Os rios de chuva descendo a calçada. Os corações desenhados no embaciamento da janela fechada.
Os passos que vão encurtando o caminho, o olhar que se estende para lá do horizonte e que sem alcançar o objecto da sua contemplação espera, quase desespera.
Recordações de histórias, de fracassos, de vitórias.  Também das quedas, das lágrimas, das feridas curadas e dos sorrisos trocados.
Quantos foram os planos, os desenganos. Os ideais e até os finais. As coisas simples que nos encheram o peito de alegria. As complicadas que conseguimos ultrapassar e vencer. Éramos felizes, sim éramos felizes e não o sabíamos…
Mas a cada recordação que parte desvanecendo-se do nosso ser, outras espreitam, ansiosas por nascer, crescer e brilhar na nossa vida.
E todas as noites as recordações que o dia escreveu no livro da  memória,  transformam-se em sonhos que as estrelas iluminam e o luar docemente embala.
E todas as manhãs as recordações despertam, são girassóis que espreguiçam as pétalas, enquanto viram o rosto  para cumprimentar o sol, são nuvens que estendem um branco manto sobre o azul celeste, são   fontes que  cantam ao desafio com os pardais que se escondem por entre os ramos das árvores.
Depois vem a tarde conciliadora, depois vem noite enternecedora. Depois vem cada momento que se vai no momento seguinte. E até o dia de ontem já se tornou para o  hoje, uma recordação…

Grata recordação dos Cats.
Memory. All alone in the moonlight. I can smile at the old days. I was beautiful then. I remember the time I knew what happiness was. Let the memory live again.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Post.it: É aqui que pertenço

“Não quero morrer sem ver a cor da liberdade” (Jorge de Sena)

“Não quero morrer sem ver a cor de um país sem crise” Acrescento…

Sempre que acordo, ouço nas notícias da rádio, novas soluções económicas, mais problemas para quem tem de as suportar. Essa curta manta que quando puxada para a cabeça destapa os pés,  (alusão a uma frase do Clube dos poetas mortos).
Pergunto-me se Jorge de Sena procurava a eternidade ou se acreditava realmente que um dia a cor da liberdade iria realmente surgir. Felizmente ela surgiu e ele pode descansar feliz.
Quanto a mim, confesso a minha cada vez menor crença e por isso, talvez, procure mesmo a imortalidade, uma desculpa para me eternizar neste recanto do mundo, que tem crises, erros numa suposta democracia, usurpações nos direitos do cidadão, nos direitos humanos, no direito de nascer e crescer feliz. Mas é este o meu pais, aquele que me foi pai  que me foi mãe, que me ensinou lições de humanidade, de cidadania, valores de moral e de ética, ainda que talvez com aquela máxima do “faz o que te digo, não faças o que eu faço”, mas não deixou de à sua maneira de faze-lo, de perpassá-lo do passado para o meu presente. Deixando-o como herança para o breve e o longínquo futuro.
Por vezes tal como um filho que lhe vê negado um pedido, revolto-me, grito, choro, amuo, faço silêncio sepulcral, ameaço partir e nunca mais voltar, mas fico. Que fazer? É aqui que pertenço, já conheço cada pedra da calçada, vou conhecendo/reconhecendo até cada buraco da estrada. Já conheço cada raio de sol, cada noite com ou sem luar, cada onda de intranquila maré que se estende suave no areal, cada grão dessa praia, cada estrela que brilha na escuridão.
Mas gostava, gostava mesmo de não morrer sem ver este país florescer, deixar de ser “lixo” para as estatísticas. Voltar a reacender o sentido e o gosto de ser português, um povo sereno, trabalhador, lutador, conquistador de mares desconhecidos, afável, bom anfitrião. Esse português latino de guerra e de pranto, lamechas, pessimista, mas todo ele uma fortaleza de excelsas vitórias. Com um fado que lhe cresce na alma, e a eterna saudade de ser um passado que deseja no futuro continuar a ser glorificado e a levar de si testemunho por todos os cantos e recantos do mundo. 
Não quero morrer sem que Portugal deixe na terra os contornos geográficos da esperança e todos nós rememos finalmente na mesma direcção, porque se for preciso navegar para conquistar a felicidade, navegaremos, com os olhos no mar e o coração em terra. Navegaremos e com cada gota de água salgada feita de lágrimas e de riso, construiremos o nosso pequeno/grande paraíso na face lunar do destino. Entretanto, vou acordando ao som das notícias, sempre pouco animadoras, mas no meu peito o coração rejubila de expectativa e espera, por vezes quase desespera, é hoje, é hoje que renascemos das cinzas como uma Fénix que vai finalmente levantar voo e voltar a ser na ponta da Europa um jardim à beira mar, com um largo e franco sorriso, porque finalmente tem motivos para sorrir. Não foi hoje, mas talvez não demore a chegar ao cais a solução. Eu acredito, sou assim, não consigo desistir de ter confiança, fé, desejo, vontade. Nunca deixarei de lutar, está-me no sangue de ser portuguesa!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Post.it: A alegria de ser triste

Levamos uma vida inteira em busca de algo. Damos-lhe um nome: Felicidade. Procuramos em  cada dia, em cada hora, em cada estrada, em cada esquina da vida, em cada noite desperta, em cada luar apagado. Em cada criança que nasce cheia de esperança, a sua, a nossa.
Procuramos em cada sonho dormido, em cada fantasia acordada, em cada desejo, em quase tudo, em todo o nada.
Buscamo-la na fé, seja de que religião for. Buscamo-la nos outros, em nós. Buscamo-la no amor, por vezes até a buscamos na solidão.
E quando, um dia, adormecemos para a vida,  quantas vezes e quantas vezes é uma partida marcada pela angústia de nunca ter encontrado esse algo, a que demos tantos nomes, o de pessoas, de lugares, de sorte, de um querer com tantos momentos em que quase, mas apenas quase, vislumbrámos esse ideal de perfeição com que somos brindados se o nosso caminho a ele nos conduzir.
Mas será assim, mesmo assim? Já vi pessoas maravilhosas viverem num contínuo inferno, já vi pessoas pérfidas viverem no mais plácido céu.
Onde está a justiça, o reflexo das nossas acções? Questionamos, uma, mil vezes. Cometemos um erro de lógica, quando nada na vida segue uma lógica na espera de  um eco que não se propaga.
Está mais do que na hora de deixar de procurar, deixar de esperar, para que a vida, tal como existe nos aconteça, e a vivamos sem questionar, sem revolta, sem comparação com o que poderia ser e nunca é. E a felicidade que procuramos como se fosse o mais precioso diamante, nada mais é do que pequenas gotas de orvalho reflectindo o sol da madrugada. “Só a realidade existe, só a verdade nos assiste. E a felicidade é de quem não desiste,  de viver a alegria de ser triste”.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Post.it: É longe...

É longe, é sempre tão longe antes de se dar o primeiro passo e o seguinte e o seguinte. De repente tudo fica mais perto. É claro que ainda não está suficientemente perto para lhe tocar com o olhar. Que ainda se estende para lá da linha do horizonte. Mas se cada passo continuar a seguir-se ao anterior e permanecer firme em busca do seguinte, um dia, o longe será perto.
Quase  o suficiente para lhe tocar com a ponta dos dedos, para o sentir a entrar no peito numa sensação de vitória. Porque nunca foi um sonho, mas um projecto, um início de percurso. Por uma estrada que mais tem mais do que esperança,  tem vontade, tem muito, tem quase tudo de nós.
“Já não tenho idade para reconstruir a vida, para me reinventar, para começar de novo, para voltar a acreditar”.
Mas o que tem tudo isto que ver com a idade? Tem apenas com a vontade. Tem que ver com o que somos quando nos libertamos do que fomos.
O futuro é essa porta que abrimos, é esse caminho que nos convida a segui-lo.
Sim, é longe, continuará a ser longe se não o encurtarmos.
E por mais longe que seja, certamente, lá chegaremos. 
Não perguntes “como”, pergunta antes “quando” e eu te responderei “quando tu quiseres”…