segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Post.it: Agosto

E cá estamos, na última semana de agosto, como quem sente que é a despedida do verão. Um verão suave, sem grandes choques térmicos, sem grandes fogos, sem grandes histórias marítimas. Porque mesmo as pequenas já deixam as suas marcas, por vezes inesquecíveis. Mas o tempo passa e, dizem, tudo cura. Será?
Afinal, haverá outros agosto(s), a gosto de uns, com a tristeza de outros. E a vida segue o seu ritmo. Quem quiser, quem puder, que a acompanhe ou fique a ver passar, num qualquer cais de partida. Porque há sempre algo que nos parte, em cada dia. O sol, o luar, a onda que parece que volta, mas já não é a mesma, a que nos transporta o olhar, quem sabe, um pouco do sentir, do sonhar, do chorar. De esperanças que, no vai e vem, vão chegar, mesmo que depois tenham de partir. Pensemos positivo, uma tem de partir para que outras possam entrar na nossa vida e a levar para outras viagens.
São as viagens dos dias, dos meses, dos anos. E assim nasce a última semana de agosto, o único agosto do ano. Só sente saudade quem não o viveu em pleno ou quem pensa que nenhum mês será como ele. Mas pode ser. Afinal o que tem ele de especial?
- Nós, os amigos, o mar, o sol.
- Nós, que continuamos aqui pelo resto do ano.
- Os amigos, que também nos acompanharão.
- O mar, que está sempre à nossa espera em qualquer estação do ano.
- E o sol, que também nos brilha no peito quer faça chuva, sombra ou luz.
É apenas a última semana de um mês, prenúncio de outro. Apenas um mês, que existe para fazer a ponte com o seguinte e com a vida. A vida, que está sempre à nossa espera com mais um dia, uma semana, um mês… Só é preciso força e coragem para caminhar por ela e chegar. E lá chegaremos.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Intervalo

Sou o intervalo que a vida fez,
Quando o dia na noite descansou,
Num abraço que nem o frio desfez,
O luar no raio solar se entrelaçou.

Nesse intervalo em que fui dia,
Nem impasse em que fui noite.
Mesmo na mais breve alegria,
O amor fez-me seu horizonte.

Longe, que de tão longe,
Só o alcança o meu olhar.
Esse ontem e esse hoje,
Por futuro tenho o sonhar.

Porque no intervalo fiquei,
Perdida no meio do nada.
Procurei, não encontrei,
Nada para além da estrada.

Feita de tantos passos por dar,
No seu contínuo e longo viajar.
Asa que foi condenada a voar,
Sem ter onde o cansaço pousar.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Post.it: Agradeço a cada não...

Se queria algo e não o consegui, talvez não precisasse tanto daquilo como imaginava”.

E no entanto lutamos. Adormecemos e acordamos com o mesmo objectivo atingir a nossa meta. Todos os dias podem tornar-se iguais em batalhas e derrotas. Até que a um dado momento, percebemos o aviso da vida, do destino, das forças do universo, sei lá…
Algo que nos diz que se o que queríamos nunca o conseguimos, se o  que sonhámos não aconteceu, se aquilo que lutamos não conquistámos, então, não era mesmo para acontecer, não fazia parte da nossa existência e a verdade é que desistir não pode ser considerado uma fraqueza mas antes a coragem de reconhecer que está na hora de seguir em frente, de fazer outras escolhas. Afinal, tentamos, tentamos muitas vezes, demasiadas (dizem-nos), talvez, suficientes para por fim reconhecermos que já não valia a pena.
Por isso em cada hoje sinto que venci e agradeço a cada fracasso a capacidade, a coragem que me fez superar os mais difíceis obstáculos. Agradeço a cada “não” ter-me levado a procurar o “sim” com tenacidade e persistência.
Agradeço ao que não consegui, ter-me feito escolher outro caminho, que talvez tenha sido melhor que o anteriormente desejado.
Agradeço à razão ter superado o coração e evitando sucumbir à efemeridade da paixão, à futilidade do desejo.
Percebo então a verdade  desta frase, “Se queria algo e não o consegui, na realidade não o queria tanto como na verdade supunha…

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Post.it: Viagens

Quem viaja diz que quer conhecer o mundo, outros povos, outras culturas, paisagens diferentes, monumentos, etc., tudo o que nos conta uma história, tudo o que nos revela o que fomos. 
Quem viaja quer partir à descoberta do que está longe, sair do seu conforto, desbravar caminhos da memória. E sem saber que esse mundo, esse povo, essa cultura, conta histórias não só dos outros mas a sua própria história. Na forma como se olha, na forma como se sente. 
Quem viaja parte, e parte porque quer regressar ao seu porto seguro, ao seu lar, a cada abraço que ficou à sua espera. Cada viagem é um nascimento, um peito que se abre e recebe cada outro. 
Cada passo não nos leva para outros horizontes, leva-nos para dentro de nós na revelação do nosso crescimento. “E há fronteiras exteriores que nos reenviam de forma persistente para uma fronteira interna e não há ninguém que caminhe sobre o mundo que não acabe a um certo momento por dar-se conta, talvez com alegria talvez com dor, que vem caminhando sobretudo dentro de si”. 
Porque nos buscamos aqui e em todos os lugares. Porque nos achamos nos mais recônditos espaços e rimos ou choramos de emoção perante uma paisagem, um monumento, uma lenda, uma pintura. Cada viagem é mais, muito mais do que o planeamento, a marcação de hotel, o arrumar da bagagem, o cumprir horários, o caminhar, o fotografar, implica sempre uma mudança em nós, na nossa rotina, uma adaptação, um confronto com cada desafio, e o reconhecimento de que algo nos falta, essa realidade, esse tempo, essa linguagem, essa memória, o deslumbramento, o momento. 
Já não nos basta a janela aberta, nem a porta que se abre ao mundo, é preciso sair por ela, caminhar, navegar, voar em nós. 
Porque sabemos que por cada rumo certo é preciso de vez em quando andar à deriva, ao sabor do vento, da maré, ao sabor do sentir. 
E numa qualquer viagem da nossa vida talvez venhamos a ter consciência de que “nenhum país é mais estrangeiro do que o nosso coração”.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Post.it: E assim me nascem as primaveras

Procuro a coerência, o consenso, o senso comum, a verdade, o equilíbrio, a harmonia das cores, das formas, o casar das letras, a descendência das palavras, a geração multiplicada das frases para que o futuro seja escrito com a tinta celular da vida. E que esse futuro conte uma história, aqui e ali colorida, limada nas suas pequenas mas dolorosas arestas, que se torne um testemunho de crescimento, que construa caminhos para se aproximar cada vez mais da meta de ser feliz. Que ajude nas mais difíceis subidas, que auxilie nas mais longas descidas. Que seja um par de asas para voar até ao universo dos sonhos, aqueles que nos surgem enquanto dormimos, aqueles que nos acompanham enquanto acordados.
Que nos seja um suspiro, uma lágrima sem tristeza mas porque tocada no mais sublime sentimento nos seja na finitude da existência um dos mais infinitos momentos. Então realidade e felicidade numa união de facto consolidada, nunca serão saudade mas sempre e só continuidade. 
E tudo porque as vogais deram as mãos às consoantes e num porvir que se aproxima do amanhã foram por fim ancoradas viajantes escrevendo nas calmas marés a mais suave curva do horizonte. 
Então nasceram estrelas no mar, então cintilaram astros no céu e a terra estendeu abraços e dançou com os oceanos. 
A escrita desenhava linhas de paraíso que partindo do coração, passavam pela mão e tornavam-se revelação exultante de nós, nascente fecunda de todas as primaveras.



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Post.it: Em nome do futuro

Ao longo da vida todos perdemos algo ou alguém. Também ganhamos algo, muito, mas comparativamente com o que perdemos, nunca chega a preencher esse vazio.
É uma dor que nos magoa bem dentro do peito e dói como se fosse uma ferida que não se vê, mas sente. Porém a medicina que tanto tem avançado cientificamente, ainda não encontrou cura, para a tratar, para a arrancar de dentro de nós, e se houvesse um tratamento rápido e eficaz, na verdade não o queríamos, precisamos desse luto para que cada final nos seja um renascimento, uma transformação, uma pacificação. Precisamos da dor para fazermos as pazes com o mundo, para aceitarmos as regras do universo. Não é fácil, nem com o apoio sempre disponível dos outros, esses, que são uma extensão de nós na amizade e na plena dedicação. É-nos sempre estranho este sentimento de perda, quando a vida nos rouba o que temos de melhor, de maior. Quando a doença lhe põe termo, quando um acidente coloca um limite ao seu futuro, mesmo não querendo, aceitamos. Mas quando uma guerra (uma incoerência do Homem) é a causa de tanto flagelo, de tantos pais sem filhos, de tantos filhos sem pais, então, é-nos humanamente impossível de admitir que uma violência mate indiscriminadamente vidas inocentes. Sobretudo quando por humanidade se define que são gente, benevolência, benignidade, bondade, caridade, complacência, compaixão.
Como podemos aceitar, conviver ou fazer a guerra? Uma guerra que mata em nome da paz e dos direitos humanos. Na verdade não podemos, não conseguimos entender e no íntimo de nós cresce a revolta a incompreensão.
Ao longo da vida todos perdemos algo ou alguém, felizmente, nem todos conhecemos certas formas de perda, todas elas difíceis, todas elas dolorosas, mas umas doem mais do que outras, sobretudo quando nos são causadas por pessoas que deviam construir e garantir o nosso futuro, destroem-no, aniquilam-no definitivamente.
E na nossa dor individual, e na dor dos que nos são próximos, chegam-nos outras dores, que embora distantes nos tocam de uma forma sentida e que nos fazem refletir sobre a nossa pequenez em como devemos sair dela e abraçar a magnificência dos outros, aqueles que ultrapassam o sofrimento da perda com a maior coragem, a maior capacidade de amar. 
Quando recebi a imagem que publico, tive necessidade de lhe dar palavras, de a estender, de a levar mais longe, de lhe dar a merecida visibilidade, para que a humanidade a veja, sinta e a receba e abrace. Tentei escrever, mas senti que nenhum texto por melhor construído que seja, que nenhuma intenção por muito solidária que se manifeste, conseguirá transmitir a dimensão sofredora e humanitária que nos deixa esta imagem e a sua história, por isso fica a vontade, o desejo de que ela nunca mais se repita em nenhuma guerra, em nenhuma perda. Porque toda a vida merece um futuro longínquo de pais com os seus filhos, de filhos com os seus pais.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Post.it: Quem vive de perto, escreve de dentro

De dentro de nós, de onde uma estranha e terna voz nos embala os sentidos. Desse fundo, o nosso mundo por vezes tão singularmente profundo que nos anda quase sempre á flor da pele. Toca e é tocado, abraça e é braçado. E desse toque quase subtil germinam em nós primaveras no peito, o mais quente e doce leito. Mas que em outros momentos fazem  aflorar vendavais na mudança das marés que trazem ao convés da alma, vagas ondulantes de mágoa e de esperança. Sentimentos enevoados pelo torpor da crescente e longínqua lembrança que desmaia suave na quentura das praias já quase desertas ao entardecer.
Enquanto as palavras que se escrevem no fino areal desfazem-se nos afagos do mar. Nessas areias que num remoto passado já foram rocha, tão forte, tão erguida aos céus, tão frágil, tão desmoronada aos encantos do vento quando ele lhe soprou promessas sem nunca as cumprir. “Não importa”, murmura o eco na orla do horizonte, porque acreditar é ser feliz. Se não acontecer, se não se realizar, fica a alegria do ter sonhado, do ter sentido. E no intervalo da chuva há um pouco de nós que não é molhado, que não é magoado e esse pouco, sendo pouco, sabe a tanto, quando tanto se tem de capacidade para o sentir.
Afinal basta estar por dentro, afinal basta estar perto de quem escreveu, de quem viveu, de quem leu, para o sentir, para o guardar. Esse efémero momento quando o sol se ergue faminto de beijos e a lua sonolenta de tanta noite, parte levando um sorriso matreiro no dia cresce. 
A vida, essa continua e, o amor, quem sabe um dia acontece…