quinta-feira, 28 de março de 2013

Páscoa Feliz


Que cresça a Páscoa dentro de nós
Que ela desponte, que ganhe voz.
Para nos renovar o sonho, a esperança,
E afastar por fim a dor da lembrança.
Para deixar na terra a semente da paz,
Que dure mais que um tempo fugaz.
Que a Páscoa nos ensine o perdão,
Que a Páscoa nos renasça no coração.
Para acabar com toda a solidão,
Daquele que se torna nosso irmão.
Que ressurja o amor e a amizade,
Em infinitas primaveras de felicidade.
Mas não esperes pelo Domingo Pascal,
Para melhorar tudo o que está mal.
Páscoa deve ser hoje e, amanhã também,
Quando ofereces o teu carinho a alguém.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Post.it: Aquela eterna flor


“Não sei se foi aquela rosa, se foi aquele jardim que me fez despertar no coração ensejos de Primavera. Não sei se foi a maciez das pétalas, se foi o seu perfume que me fez despertar nos sentidos sonhos de felicidade. Não sei se foi a sua cor, se foi a sua forma que me fez despertar nas noites a luminosidade alegre dos dias. Não sei se foi a estação do ano, se foi o dia do mês que me fez despertar no peito o ideal de um horizonte perfeito. Não sei se foi a palavra dita, se foi a palavra adivinhada que fez despertar no solo do meu viver, a semente da mais terna esperança”.
 Num suspiro de tristeza a borboleta abre as asas e parte numa brisa de saudades. Porque só ela sabe que nenhuma outra flor, voltou a colorir da mesma forma aquele jardim. Nenhuma outra Primavera conheceu tanta beleza depois daquela flor que um dia por lá passou.
A borboleta fecha as asas já não quer voar, porque nenhuma outra flor lhe fez o coração pousar tão serenamente na sua existência como ela.
A natureza renasce em cada estação, mas para a borboleta, aquela flor ficará eterna na sua lembrança.

terça-feira, 26 de março de 2013

Post.it: A janela de cortinas fechadas


Resolvi "enterrar a cabeça na areia como a avestruz", dizem porque nunca a vi fazer tal coisa, ou deixo a cabeça por entre as almofadas, já não consigo, ver e ouvir tanto sofrimento à minha volta, tanta dor alheia, que anula a minha e sinto-me pequenina, porque me dói o amor não correspondido, a solidão de quando estás presente e ficas a ler o jornal sem nada dizer.
Já não consigo olhar pela janela e ver aquela mulher à chuva, fazendo que passeia o cão enquanto lança um olhar de ansiedade a uma janela de cortinas fechadas, houve um dia que uma sombra passou junto das cortinas, então ela parou, em suspenso, de qualquer movimento que não aconteceu, soltou um suspiro e lá continuou na sua voltinha “dos tristes” ansiosos que alguém lhes roube a tristeza já que lhe roubou anteriormente o coração sem nada lhe oferecer em troca, nem um aceno, daquela janela de cortinas fechadas.
Já não consigo acender a televisão e encontrar as mesmas notícias, de quem morreu, de quem matou, roubou ou violou, de quem sucumbe à crise e da própria crise que parece uma anaconda gigante serpenteando aqui e ali uma dor que nos saqueia tudo, o corpo, a alma, os sonhos e nos deixa uma sensação sufocante de medo, medo de que o nosso periclitante mundo de certezas colapse definitivamente.
Mas tu, imperturbável a tudo, continuas a folhear o jornal, fazes uma pausa, estremeço, anelante de uma palavra, de um gesto, a oferta de um momento nosso, mas viras a página e prossegues a leitura num silêncio que invade toda a casa, que desce das paredes e inunda-me o corpo como se fosse um cataclismo de emoções sufocadas, há muito, há demasiado tempo. Volto para a janela, lá está aquela mulher, observo-a, tento decifrar o enigma que é para mim a sua vida, continua a chover mas ela parece não o sentir apesar do cabelo molhado, da roupa encharcada, da alma submersa, o cão bem lhe deita um olhar apelativo com o pelo ensopado, sacudindo-se de vez em quando, mas a esperança continua a move-la todos os dias para junto daquela janela de cortinas fechadas, quer faça sol ou chuva.
Já não consigo, acender a televisão, já não consigo abrir a janela, nem olhar para aquela presença tão ausente dentro da nossa casa, que já não consigo chamar de Lar.
Apesar de não a ver, imagino que aquela mulher continua lá, debaixo daquela mesma janela. Porque há vidas que se repetem na dor, incapazes de seguir outro caminho. Tal como há outras vidas que nunca abrem a cortina, nunca largam o jornal, para nos dar um novo alento de felicidade. Felizmente que há outras, muitas outras que rasgam os jornais, que escancaram as cortinas, que abrem todas as janelas, que arejam o coração e desenham para elas um novo futuro.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Post.it: O meu ídolo


“Não são para ti as minhas palavras” dizes-me com aparente indiferença, mas eu bebo-as como se me fosses um oásis.
Adormeço e sonho que as dizes no meu ouvido e que elas me despertam de mansinho como se fosses uma verdade na minha vida. Mas logo um raio de sol faz questão de me lembrar de que é tudo apenas fonte do meu desejo.
Não sabes como é difícil dizer ao coração que vive numa ilusão. Não imaginas como é impossível dizer à minha alma que não és a sua gémea, e que fomos separados em algum momento, pelas vicissitudes transcendentais da vontade deste universo estrelar.
Por vezes num ataque de orgulho ou de ego magoado, num quase desespero causado pela infinita espera, rasgo todas as tuas fotos, todos os teus posters, destruo os vídeos e até os cd(s). Mas no dia seguinte acordo vazia, como se me tivessem roubado a “sangue frio” toda a esperança do peito, então corro para a loja,  torno a comprar as mesmas fotos, posters, cd(s) e vídeos e regresso para casa retemperada na dor e de expectativa renascida.
Só então percebo como estamos infinitamente ligados, como foi doloroso acordar e não te ver nas paredes do meu quarto, de não mergulhar no teu sorriso, de me sentir embalar no som da tua voz e acreditar, porque nunca vou deixar de acreditar que as palavras que cantas, as cantas só para mim. Dizes tudo o que sinto, tudo o que preciso de ouvir, como se me conhecesses de uma longa jornada que fizemos juntos, como se me completasses, como se me preenchesses.
Em todos os concertos lá estou na frente da fila só para ficar mais próxima de ti, para sentir o teu cheiro, para imaginar que toco a tua pele, para fantasiar que um dia, um esplendoroso dia, os nossos olhares vão cruzar-se, parar e ficar para sempre juntos nesse momento que sei, será eterno,  pode ter a duração de um segundo, mas ficará na minha vida como uma perpétua sensação de felicidade, só mensurável pelo relógio do coração.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Nada é por acaso


Nada é por acaso,
Nem sequer o ocaso.
Nem a chuva, nem a flor
Nem o frio, nem o calor.
Nem a felicidade do encontro,
Nem a tristeza do desencontro.
Nem tu, nem eu,
Nem a terra, nem o céu.
Nada é por acaso,
Nem sequer o ocaso.
Nem a luz, nem a escuridão,
Nem a nostalgia do coração.
Nem o sonho acordado,
Nem o querer alcançado.
Nem tudo é o que parece,
Quando se finge que se esquece.
Nem tudo é apenas o que é,
É preciso acreditar, ter fé.
Para tudo há uma explicação,
Que nos vai além da razão.
Está em ti, está em mim,
Em cada princípio, em cada fim.
Porque está em todos nós,
O ficarmos sempre ou nunca, sós.
Porque nada é por acaso,
Nem sequer o ocaso.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Não o sabemos...


Há sempre uma tristeza no ser feliz,
Uma tristeza que continuamente nos diz,
Que nunca vivemos no agora,
Mas apenas no que já se foi embora.
Há um caminho que chama por nós,
Quando nos ensurdecemos a essa voz.
Há diante de nós uma mão estendida,
Recusamos julgando ser de despedida.
Há um sol que tanto nos quer brilhar,
Mas nem sequer o queremos olhar.
Há uma noite radiante de estrelas,
Quando lhes fechamos as janelas.
Há um coração que nos quer sorrir,
Há uma primavera para nos florir.
Há uma felicidade a bater-nos no peito
E nós agarrados a um sonho desfeito.
Temos tudo, tudo o que queremos,
Só que vê-lo, não o sabemos…

quarta-feira, 20 de março de 2013

Post.it: Maresias


Há um rio que tem o teu nome escrito nas fontes do  meu pensamento. Células que me correm nas veias, percorrem-me o corpo, inundam-me a alma e desaguam-me no coração.
Há em mim um rio de suave corrente que não tem pressa de chegar à foz do seu desenlace. Já conheceu mares de tempestade, já conheceu margens de tristeza, que me deixaram melancolia nas águas. Gotas de um olhar que nunca chegou a me olhar. Mas agora que este rio que sou já conhece o caminho, deixo-me apenas navegar porque sei que um dia acabarei por chegar a esse destino que é meu. Mesmo que nunca navegue pelos teus mares, que nunca encontre conforto no teu cais, que nunca deixe pegadas na tua praia, que nunca desenhe nas tuas rochas o nome do meu ensejo, nem nenhuma gruta albergue o eco do meu querer.
Haverá sempre um rio que tem o teu nome no ADN da minha vontade e me faz ser a vaga que transporta pelos oceanos, maresias de afecto.

terça-feira, 19 de março de 2013

Post.it: Vou segurar a tua mão


O meu futuro começa hoje, hoje que plantaste a semente do meu destino na terra fértil do amor. E eu começo a crescer no teu peito de carinho, começo a ocupar um lugar sereno na tua vida. Um dia, quando me receberes nos teus braços vais prometer-me que todos os dias serão nossos, que todos os sonhos serão realizáveis, que crescerei num mundo sem dor, que serei a princesa do teu reino. Que nunca conhecerei dificuldades porque tu tornarás tudo fácil. Claro que mais tarde ou mais cedo perceberei que muito que tentes cumprir essas promessas não o conseguirás plenamente, afinal não és um Super-Homem, mas para mim serás sempre um Super-Pai, não és um Herói para salvar o mundo, mas és o meu Herói porque me salvas das minhas quedas, porque me amparas nas minhas mágoas. Que me acalenta nas birras nocturnas e disfarça as olheiras com um sorriso de quem passou a noite a adorar o milagre de me ver crescer. Que celebra cada pequeno gesto meu como se fosse a maior maravilha que já conheceu: os primeiros passos, as primeiras palavras, o gatinhar, as gargalhadas e depois, tantas coisas, ainda haverá muito para descobrirmos juntos, para nos maravilharmos juntos.
Quanto a mim, prometo que quando nascer, vou segurar na tua mão e nunca mais a vou deixar pelo caminho de seres pai e um dia na continuação do futuro que começa hoje, talvez, avô…


segunda-feira, 18 de março de 2013

Post.it: A tua face


“Desiste, esquece” E eu quase desisto, e eu quase esqueço, mas de repente vindo do nada sobe-me pelo corpo uma vontade de te abraçar, de te reter, de te aprisionar na minha vida, no meu querer. “Esquece”, repetem-me as vozes conselheiras, “esquece” grita-me a razão plena de sensatez, mas a memória teimosamente guarda-te num qualquer recanto de mim. E como desistir de todos os sonhos que me fizeste sonhar?
Muitas vezes parece que desisti, parece que te esqueci, mas cai uma folha e vens-me à lembrança, por todas aquelas folhas que já vimos cair. Passa uma nuvem e lembro-mo de todas as que um dia desenhámos no céu. Até aquele murmúrio de mar quando beija a rocha tem o som da tua voz, segredada nos momentos mais nossos.
“Desiste, esquece”, continua a Razão a insistir para contrariar a dolência do coração. “Vocês nada têm em comum” insiste para derrotar com a sua a minha teimosia de te lembrar. É verdade, reconhece a alma, é verdade confirma a consciência. Então o que me prende a ti, o que me impede de voar para lugares mais tranquilos?
E sem encontrar resposta prossigo no dilema. De súbito, do nada,  ergo o olhar entristecido, encontro um esplendor desconhecido, e nele encontro a razão de estar aqui, contra a minha vontade e apesar da minha vontade que me faz sua prisioneira. Então de mansinho, como uma caricia repouso em pensamento um beijo na tua face,  é ela que me detém, é ela que me faz sentir tão feliz nesta minha inexequível felicidade.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Post.it: Gostava de ser velha


Gostava de ser velha, hoje, agora, de ter a sabedoria do tempo, aquela que o vento não  leva na sua erosão de lembranças, de esperanças.
Gostava de já não ter sonhos, porque todos eles foram alcançados, vividos, repartidos.
E mesmo que ser velha significasse estar perto do fim, mesmo assim gostava de ser velha, só para conhecer a história da minha vida, para a reler nas horas calmas e já não ter nada para lhe acrescentar, talvez um suspiro, um sorriso, uma lágrima de felicidade. Talvez uma caricia nessas folhas da memória que sentiria nesse dia com a paz que os anos trazem, na sua generosa oferta.
Gostava de ser velha, hoje, agora, para já não ter dúvidas, apenas a certeza do que sou, nascida desse caminho acre e doce que percorri. E hoje sem saudades, sem mágoas ficar a saborear os dias, sem pensar nos meses, sem almejar os anos.
Gostava de ser velha, hoje, agora e saber que cada espera valeu a pena, que cada dor foi apenas o parto difícil da vitória, que cada tristeza foi simplesmente o prelúdio de uma alegria maior.
Gostava de ser velha, hoje, agora, contigo, que um dia chegaste, não sei se foi cedo, não sei se foi tarde, mas chegaste e ficaste comigo, até eu ser, felizmente, velha…

quinta-feira, 14 de março de 2013

Post.it: Dentro de ti


Googla-te (pesquisa-te). Não procures no universo de redes sociais, de sites, de bites e de bytes. De informação e desinformação. De atracção e abismo. Não procures no monitor no emaranhado de teclas.
“Procura dentro de ti”, não vás para fora de ti, fica cá dentro. Aqui onde as moléculas te contam histórias verdadeiras. Onde as células te desvendam caminhos de vida. Onde os neurónios te oferecem sonhos que podes realizar. Aqui onde a alma escondida revela o melhor que há em ti. Aqui onde o coração vibrante de emoções anseia pelo teu abraço. Aqui onde o teu mar liberta de vez em quando uma gota de saudade, de esperança.
Aqui onde os olhos te abrem amplas janelas de verdadeiras paisagens, e podes tocar nas flores, sentir a brisa, escutar os murmúrios das fontes, o riso das cascatas e ver em todas as dimensões, aquele olhar que completa o teu, aquele sorriso que se ri com o teu, aquele abraço que se fecha com o teu.
Googla-te no universo que tens dentro de ti. Tecla-te na pele. Desvenda-te, encontra-te, cresce e entrega-te em bondade e só depois, muito depois, podes procurar longe, com a certeza de que estará sempre perto.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Post.it: Gente fria também chora


Lembro-me daquele rosto firme que nunca esboçava um sorriso. Lembro-me do seu olhar com expressão vazia, da sua voz cavernosa.
Lembro-me dos seus passos pesados que se ouviam muito longe como se se anunciassem antecipadamente.
Lembro-me das suas mãos grandes, grossas, com as marcas da enxada cravadas na pele. Lembro-me que cheirava mal, como eu a as outras crianças dizíamos irreflectidamente,  só alguns anos mais tarde reconheci aquele odor a suor noutros corpos cansado por trabalharem a terra de sol a sol. Não me lembro dos seus cabelos, se eram negros ou brancos porque se escondiam sob o chapéu de abas largas. Lembro-me de como nos gritava e perseguia numa pesada corrida quando lhe invadíamos maroteiramente o pomar para roubar meia dúzia de maçãs que comíamos deliciados.
E lembro-me daquele dia em que um de nós mais assustado caiu de uma das suas árvores e perdeu  os sentidos. Então aquele rosto que nunca esboçava um sorriso enrugou-se mais, o seu olhar perdeu a habitual escuridão, a sua voz calou-se e nós sem saber se fugir ou se ficar, trememos, não sei se por medo da dor do nosso amigo, se pelas lágrimas que aquele homem ‘gigante’, chorou...

terça-feira, 12 de março de 2013

Post.it: Nunca é tarde, só às vezes...


Quantas vezes já nos disseram que nunca é tarde, para mudar o rumo da nossa vida, para recomeçar, para perdoar, para seguir em frente sem olhar para trás. Quantas vezes seguimos esse conselho na esperança que não seja realmente tarde para entrarmos no caminho por onde devíamos ter seguido e que, por falta de coragem, não conseguimos tomar essa decisão. Nunca é tarde para dizer as palavras que nos embargarem o peito, que nos sufocam a alma, que nos dançam nos sentidos. Palavras que adiamos tantas vezes, talvez à espera que alguém as diga antes de nós. 
Nunca é tarde para agradecer cada gesto de amizade, de carinho, de amor que nos deram todos aqueles que já passaram por nós e sobretudo aqueles que ainda permanecem.
Nunca é tarde para lhes tocar à campainha, para lhes telefonar, para lhes escrever, para lhes comprar uma flor ou oferecer-lhes apenas um abraço.
Nunca é tarde para mudar, para recomeçar…
Mas não nos devemos acomodar à ideia de que nunca é tarde, porque se nos adiamos indefinidamente, um dia será tarde demais.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Post.it: O pescador de ilusões


Fez-se ao mar nesse dia como o fazia todos os dias, todos os anos da sua vida. Fez-se ao mar com o mesmo pensamento de todos os dias, o mesmo sonho de todas as horas. Fez-se ao mar porque era pescador, mesmo quando regressava sem pescado. Era alvo de olhares fulminantes, de risos gritantes, corpo de embate de palavras pouco abonatórias. Mas ele parecia alheio às críticas agrestes, às atitudes rudes e todos os dias fazia-se ao mar. “Mas que pescas tu se nada trazes?”, o pescador sorria de uma felicidade que ninguém compreendia mas invejava. Sem responder seguia com passos leves sobre o areal. E no dia seguinte lá estava de novo, pronto para partir mar adentro. Alguns pescadores mais curiosos seguiram-no num desses dias, esconderam-se numa enseada e esperaram, sem saber o quê, mas esperam, pelo que esperava o pescador. Ouviram-no rir, falar, apontar para o vazio da onda que passava, depois para a nuvem que deslizava e, de seguida, estender os braços como se abraçasse o mar. Aproximaram-se devagar, uns diziam que devia estar louco, que o melhor era regressarem para o cais, mas os outros insistiram em ir até lá e escutar o que dizia o pescador. “Com quem falas, alguma sereia? Tentaram brincar. “Falo com as ondas, falo com as nuvens, com o meu amigo mar”. “E eles respondem?" Continuaram no mesmo tom jocoso. “Respondem”, afirmou com ar convicto. “Que tonto és, claro que não falam. Porque perdes tempo por aqui a falar com a água em vez de falares com os homens?" “Porque os homens, julgam, criticam, condenam, sem tentar compreender, o mar escuta pacientemente, embala, ampara e, solidário, murmura em eco o nosso lamento. Os homens nada têm para me dizer enquanto que o mar tem tantas histórias para contar”.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Post.it: De mulher para mulher


Transporto comigo o testemunho da tua existência. Carrego o peso do caminho que tu começaste a desbravar e que eu levo um pouco mais longe. Nem que seja nesse grão de areia que arranco com esforço da dura rocha, para que um dia ela não seja mais um obstáculo na vida de outras mulheres, filhas da minha geração e das seguintes. Sou aquilo que aprendi contigo a ser, nesses passos que desenhaste para que eu não me perdesse deles. Quero deixar os meus, periclitantes e ávidos do teu saber.
Transporto comigo o símbolo da vida nesse abraço em forma de ninho, de cais, de pilar. Tenho cravado na alma a tua essência de luta, nas batalhas ganhas e perdidas dessa guerra de ser mulher. Ergo a chama da tua existência, clamo-a no vento para que a história não te esqueça, para que o tempo não te apague.
Vejo-te Eva em cada rosto de mulher que caminha lado a lado com os homens.
Reconheço-te Maria em cada abraço que transformas em lar no peito.
 Encontro-te Tereza de Calcutá em cada acto de generosidade sem distinção.
Admiro-te Mary Curie em cada revelação da ciência.
Descubro-te Joana d’Arc na coragem que desafiou a morte.
Prezo-te Mary Quant na “descoberta dos joelhos das mulheres” e almejo mais longe pelas mulheres que um dia descobrirão o rosto.
Homenageio-te também  a ti que sem deixares nome na história do mundo, deixas na minha história, nos meus genes.
E a ti que não sei quem és, mas tenho a certeza que semeias a paz em teu redor, que distribuis amor à tua volta, que cultivas a bondade para a partilhar.
Recebi a herança de ser mulher e espero estar à altura de a passar aos vindouros, com a mesma perseverança, os mesmos valores, e uma cada vez maior conquista, não de espaço geográfico, mas de corações.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Post.it: A felicidade é simples


No princípio era o verbo, gostar, ser gostado. No princípio era simples, partir de manhã para regressar a casa à noite. No princípio bastava um sorriso, uma conversa agradável, um abraço, claro que também se desejava ter saúde e algum dinheiro para manter o conforto. Mas no princípio bastava o silêncio que o coração escutava e entendia. Agora nada nos basta, não queremos somente ter saúde mas ter uma beleza modelada, o dinheiro já não é apenas para o conforto mas para pequenos/grandes mimos. Quanto ao amor, até nisso o conceito de felicidade se modificou, já não nos basta ser alguém para conversarmos, para partilharmos momentos de ternura, queremos mais, muito mais, queremos viver com letra maiúscula, um grande AMOR. Encontrar uma paixão que nos seja eterna, um desejo que nos seja perpétuo, uma troca que no fundo do nosso comodismo, esperamos que seja sobretudo de recebimento. Queremos ser felizes como o são os heróis no cinema, as personagens nos livros, ou nós, nos sonhos.
Olhamos para os solteiros como se fossem seres condenados à infelicidade, talvez porque ainda não descobrimos que se pode ser feliz sozinho e isso não ser sinónimo de miserável solidão.
Nem percebemos que no amor não há uma medida certa, que nunca é pouco e muito menos demais.
Que ser feliz é mais do que possuir bens materiais, que podem ser apenas agradáveis ou confortáveis. “A felicidade depende mais do que temos na cabeça do que nos bolsos”.
Viver de fantasias, pode permitir-nos voar, mas mais tarde ou mais cedo teremos de aterrar num solo por vezes árido e duro.
Ser feliz não é encontrar a felicidade em algum lugar, mas senti-la em nós, quando fizemos o possível e aceitámos o improvável. Se a meta está demasiado alta para a alcançar, devemos reduzi-la, se vivermos de sonhos impossíveis, devemos acordar e viver o possível. “Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.
Não vamos complicar, não vamos buscar na distância aquilo que só podemos encontrar na simplicidade da vida.
“A felicidade é um sentimento simples. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormentam e provocam inquietude no coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmos, mas não felicidade”

quarta-feira, 6 de março de 2013

Sou...


Sou uma poetisa falhada,
Uma mulher mal-amada.
Uma curva na estrada,
Há espera de nada.
Sou uma lua sem sol,
Amanhecer sem rouxinol.
Sou um dia sem horas,
Sentindo que demoras.
Sou irmã da solidão,
O vazio em cada mão.
Uma vida sem cais,
De constantes vendavais.
Sou uma mulher sem dor,
Uma mulher sem cor.
Sou uma, sou tantas,
Sem abrigo, sem mantas.
Sou primavera sem flor,
Sou um corpo sem amor.
Sou tão longe e tão perto,
Que a tua mão quase aperto.
Mas na minha longa viagem,
Sou uma nuvem de passagem.
Sou uma lágrima que caiu,
Quando o teu olhar partiu. 

terça-feira, 5 de março de 2013

Post.it: No fundo da gaveta


“Que me importam os sorrisos trocistas, as palavras de gozo, sou assim e com esta idade dificilmente mudarei. Gosto de mim como sou, ‘ romântica incurável’, doença que espero sofrer até ao final dos meus dias. Posso estar fora de moda, obsoleta, antiquada, mas, deixo-me facilmente envolver por uma doce nostalgia quando abro a gaveta da escrivaninha.
Lá permanecem arrumadas cartas que ainda falam. Cartas cheias de esperança por uma leitura atenta.
Cartas de um passado revolto, de um amor emudecido, de uma saudade calada bem escondida no fundo da gaveta.
E essa folhas amarelecidas pelo tempo de memórias tão minhas anseiam por outros olhares, por outras mãos que as acariciem.
Mas já se me vai conformando o coração de que o único olhar sobre elas, a única impressão digital que vão conhecer seja a minha.” Confissões de uma amiga que invejo, sobretudo quando a minha gaveta, procuro algo semelhante, mas não encontro nenhuma carta, nem sequer um rascunho, só uma pen drive perdida, cujo conteúdo já não me recordo, um cd-rom que já não abre, uma disquete que já não pode ser utilizada. Mudam-se os tempos, evolui a tecnologia, “mas não muda nunca o coração”. 
Espero que ela tenha razão…

segunda-feira, 4 de março de 2013

Post.it: Lugares


Há lugares onde deixamos um pouco de nós. Boas recordações, tristes memórias, onde perdemos, onde abandonámos uma célula de emoções. E aí onde ficámos, e aí onde não voltámos, estamos sempre lá, mas com medo do regresso.
Do reencontro com a felicidade que entretanto partiu, ou com a tristeza que aí deixámos e sabemos que ainda espera por nós.
Passamos ao longe, quando o longe nunca é suficientemente distante para esquecermos, e vemos aquele banco vazio. Aquele banco que já nos descansou os passos, que se enterneceu quando ouviu as nossas confissões, que se emocionou quando sentiu a palpitação dos nossos corações, que se comoveu quando amparou uma lágrima, que estremeceu de alegria com a nossa gargalhada, que vibrou com a nossa felicidade e chora agora a nossa saudade.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Post.it: Os meus 25 anos


25 anos, onde andam os meus? Escondidos naquela ruga mais profunda que ladeia os lábios, onde antes estava um sorriso. Perdidos entre os cabelos onde a melanina vai rareando. Coloco-me ao espelho, perscruto com curiosa ansiedade vestígios desses anos, mas não os encontro.
“Estão ali!” grita o coração em pulos de alegria. “Onde, onde?” Pergunta a alma saudosista. “Ali, ali, não viste aquele brilho flamejante que espreitou no canto do olho?”
 “Qual quê, era uma lágrima de nostalgia a espreitar” Suspira a alma em desalento. “Tu e o teu pessimismo, qual lágrima, qual quê! Sei bem o que vi, era uma luz, a luz dos 25 anos. Conheço-a bem, é alegre, cheia de uma felicidade desbravadora, repleta de sonhos, corajosa, tem poucas mágoas para trás e um futuro luminoso pela frente.” A alma devolve-lhe um olhar benevolente enquanto lhe diz com ternura,  “Pobre coração, ainda acreditas nisso? Vives num mundo de fantasia. Sabes bem que os 25 anos não são assim tão felizes. Queres voar mas cortam-te as asas, queres sonhar mas não te deixam dormir. Queres construir um futuro mas tiram-te as (ferramentas). “Minha pobre alma, sempre tão negativa”, replica o coração. “Por acaso esqueceste a fé destemida que te fazia ver o sol quando chovia, que te fazia colher flores mesmo que fosse Inverno?”. “Sim lembro-me desses tempos, mas também me lembro dos fracassos e dos espinhos dessas flores”.
“Minha alma amargurada, deixa-me que te diga que se semeaste otimismo, se plantaste sementes de paz, se disseste o que pensavas quando pensaste bem no que dizias, se te esforçaste por ser cada dia melhor, então fica certa que viveste bem a vida. Uma vida que ela te retribuiu ensinando-te que a vontade constrói-se, a bondade aprende-se e a felicidade está em valorizar o que se tem sem se tornar infeliz pelo que não se pode alcançar.
“Coração amigo, sempre bom companheiro de jornada, tens razão no que dizes, afinal já não tenho 25 anos mas me resumo feliz.”