terça-feira, 31 de julho de 2012

Post.it: Escrever nas férias


No primeiro dia de férias, respirei fundo e prometi, “Não vou escrever nas férias, vou saborear os dias e sentir a agradável sensação de não fazer nada, de me desvanecer, de partir de mim e permanecer ausente desta rotina que nos consome a vida quando a derramamos em dias, meses e anos presos na teia invisível dos nossos hábitos ou acomodações. 
Hoje, quem sabe, apenas hoje já não vou pedir mais do que este dia, para fechar os olhos e sentir, não o passado, não o futuro, mas apenas o presente. 
A brisa a dançar por entre as árvores, o murmúrio do mar a desvanecer-se na praia. Afinal, relembro-me que estou de férias, que não tenho de obedecer escravizadamente ao compasso do relógio.
Vou acordar sem a ordem pragmática do despertador. Vou levantar-me porque me apetece sair da cama. Vou tomar o pequeno-almoço devagar  na hora que desejar, sem o fazer por ser um ato programado.
Não, não vou escrever, mas escrevo.” Então concluo com algum alívio, que escrevo, não porque seja um hábito mas porque gosto de o fazer, em qualquer altura, mesmo até em férias.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Post.it: Fui eu quem te perdeu


Somos uma multidão, uma multidão de vidas, de seres desiguais em pequenas igualdades que nos unem nuns pontos e separam noutros.  Somos uma multidão de formas de existir, de crescer e sobreviver em caminhos paralelos com alguns, inusitados cruzamentos. E somos tantos, mas tantos que quando perdemos algum, mal damos pela sua falta, ou talvez seja esta afirmação apenas uma teoria, que na prática não resulta, porque na verdade, consoante a herança que fica no ADN da nossa história, no lugar recôndito da nossa memória, assim é a dor de uma ausência, temporária ou perpétua, voluntária ou sem escolha possível.
Somos uma multidão que gosto de comparar com a que vislumbro no céu, uma multidão de estrelas que aqui na terra têm o seu brilho, mais ou menos iluminado. Que chega à nossa vida, invade-a com a sua alegria e um dia quando parte, deixa atrás de si um rasto longínquo, a que chamamos saudade. Sem saber que outro nome  dar ao vazio que deixa neste pequenino espaço do nosso céu existencial. E não se iludam quando digo, pequenino espaço, porque independentemente da sua dimensão, importa mais a intensidade com esteve presente. E sem falsa modéstia, sem orgulho e sem vaidade, fico a pensar, o quanto de mim perdeu em cada partida, de tudo o que ainda tinha para lhe dar. Mas, depois, abraço, o abraço vazio e confesso sem pudor, que fui eu quem te perdeu…

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Post.it: O que traz o olhar


Agora que este blog não recebe comentários diretos por razões que me escuso de explanar, vou recebendo por email, telemóvel, sms ou presencialmente alguns. Observações que são elogios, incentivos, perguntas, respostas ou até reparos. Comentários que fazem crescer os simples post-it(s) para lhes conferir uma maior dimensão humana.
Perguntaram-me um dia, “Que traz o teu olhar? Mas não respondo, há palavras que não devemos pronunciar, não por medo ou covardia, mas porque são demasiado intimas, demasiado preciosas para que as leve o vento na indiferença das suas asas. Para que as afogue a chuva na sua última gota de inverno. Para que a derreta o verão com todo o seu calor que nem a brisa marítima refresca.
Porque ao dizê-las, deixam de ser apenas minhas e passam a ser de quem as recebe.
E, depois? O que farão com essas palavras? Cuidarão delas como eu cuidei? Alimentá-las-ão para que cresçam? Ou pelo contrário, deixarão que se percam irremediavelmente no vazio sideral? 
Não, não vou responder, não vou revelar o que traz o meu olhar, não abrirei a janela da alma, não mostrarei o caminho do coração. Terão que o descobrir sem a minha ajuda, terão de caminhar para mim, aproximar-se, mais, debruçar-se para ver.
Mas não bastará um passo, nem uma palavra, é necessário um reciproco olhar. Porque as coisas verdadeiras da vida não se realizam na distância. Não acontecem só porque se acede a uma rede cibernética. Porque os braços não abraçam através dum ecrã e o coração não tem uma tecla para se ligar e desligar.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Post.it: Can I hold you?


Até parece o título de uma melodia marcadamente romântica, marcadamente triste. Não porque o romantismo tenha de ser triste, mas porque nem sempre a vida é feita de encontros. Nem sempre um sentir contagia o outro de maneira a perfazer a feliz equação de que um mais um dá dois. Já nem a matemática nos fornece a solução mais simples, apenas dígitos, com resultados que, exatos, rumam irremediavelmente para o infinito. O que é bom, dirão uns cheios de esperança na concretização das suas inúmeras expectativas, algures numa galáxia de hipóteses. Enquanto outros, cansados de tantas adições, subtrações e divisões, gritam num desespero silenciado, que vão definitivamente, desistir de tentar!
Mas não desistem, continuam a remar contra a maré, submergem o remo nas profundezas marítimas e rumam para outro cais.
Um que seja de chegada e não de partida, para mudar o título da sua história e em vez de sentirem que não conseguem abraçar a felicidade, ela lhes diga num largo sorriso, “Posso abraçar-te?”. Nesse momento oferecem o corpo ao abraço, e o coração a um compasso uníssono. No entretanto, esperam pela pergunta, sem que a espera signifique estagnação, quietude, mas depois de tantas tentativas de direcionar o leme do barco da vida, necessitamos, quem sabe, do terno empurrão das ondas para sentir que estamos finalmente no caminho certo…


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Post.it: Mulher dos 3 aos 80 anos


Li um dia que, só com o passar dos anos aprendemos a valorizar a essência das coisas.
Dizia que: Uma mulher aos 3 anos sente-se uma rainha no topo do mundo.
Aos 8 sente-se uma cinderela rodeada de presentes e outros mimos.
Aos 15 sente-se feia e desajeitada, nem quer sair de casa.
Aos 20 continua a achar-se feia mas ainda assim quer ir para as festas.
Aos 30 ainda se acha feia mas não tem tempo para se deprimir com isso.
Aos 40 persiste que é feia mas começa a considerar a beleza secundária para a vida.
Aos 50 vê-se como é e  aceita-se porque gosta de viver dessa forma.
Aos 60 começa a estar grata pelo que é e por tudo o que já viveu e ainda poderá conhecer.
Aos 70 começa a gostar de si e a valorizar tudo o que sua existência lhe permitiu ser.
Aos 80 desliga-se do espelho e começa a espelhar no seu modo de vida, alegria e ternura.
Então, pensei com alguma melancolia, será vou ter que esperar até aos 50 para me aceitar? Até aos 60 para reconhecer os benefícios de existir? Até aos 70 para gostar de mim e valorizar-se como pessoa e até aos 80 para perceber que nada é mais importante do que o motivo que nos leva a sorrir e a ternura que sentimos por tudo e por todos que nos rodeiam.
Entristeceu-me e desejei ter começado a perceber aos 3 enquanto era rainha, que não o devia ser da beleza mas da simpatia. Continuado aos 8, não como Cinderela para receber presentes mas para os partilhar.
Desenvolvido aos 15, mesmo feia e desajeitada mas sempre como muita amizade. Ou aos 20 festejando cada dia não a beleza mas a alegria de estar aqui e ter um largo caminho com múltiplas possibilidades.
Mas também aos 30 com muitas tarefas mas sempre com tempo suficiente para estar com quem precisasse de minha afeição.
Chegar aos 40 e sentir que tanto o passado como o presente e o futuro são a melhor coisa que temos, pelo que fomos, somos e poderemos ser, tornando-nos melhor a cada passo que damos.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Post.it: Um divórcio de veludo


Foi a expressão que utilizou a minha amiga. Já a tinha ouvido, num outro contexto, mais politico, económico e até mesmo social. Mas no fundo queria significar o mesmo, separação, fracionamento, afastamento.
 Caminhos que se apartam e seguem percursos autónomos, distintos. Mesmo que por alguma razão específica mantenham laços, há uma separação, um corte com o passado, com o próximo futuro. Há um não, a tudo aquilo que noutros tempos se disse sim, perspectivando que se tornaria um eco infinito no tempo.
 Mas é um “divórcio de veludo”, volta a reafirmar, como se assim o sentisse mais macio, menos doloroso, menos cruel para os sonhos construídos e tão penosamente destruídos.
É de ‘veludo’ porque as partes envolvidas estão de acordo, mas e o antes e o depois? Pergunto ao silêncio, a esse silêncio que ela ainda não escutou porque não teve tempo para questionar o depois nem recordar a esperança que depositou no antes, quando tudo era ainda partilhado e vivido em conjunto.
Mudo de assunto, sem perscrutar estas questões na expectação de que este “divórcio de veludo” lhe seja realmente anestesiante, porque mesmo quando sabemos que tudo passa, descobrimos um dia que ficamos mais pobres de ideais, mais vazios de esperanças e depois de separar todos os bens e todos os momentos que ficam como recordações, sentimos que ficamos, nessa partilha,  sem um pouco de nós…
Mas se tiver que acontecer, que aconteça da melhor forma possível e que seja, realmente, um “divórcio de veludo”.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Post.it: A juventude? Isso passa-lhes


Quando me dizem que os filhos não querem estudar, que não querem arrumar o quarto, que não querem comer, levantar-se cedo, que se deitam de madrugada, que não querem dialogar, que não querem sorrir, que não querem, quase, existir…
Respondo-lhes, a juventude? isso passa-lhes! Não sei se é uma certeza, pelo menos em termos psicológicos, mas é seguramente uma esperança. Lamentam-se uns, enquanto outros apontam o indicador para a culpa, que tem de pertencer  sempre a alguém. Não sei se haverá um culpado, aceito simplesmente que “faz parte”, do crescimento. Afinal, sempre ouvi comentários idênticos para a geração dos meus avós e pais. Já o dizia Sócrates (470-399 a.C.), “os jovens de hoje gostam do luxo, são mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Contradizem os pais”.
Ou numa estranha atualidade, refere Aristóteles (384-322 a.C.), que “os jovens estão sempre em busca da realização de desejos, aventuras e fortes emoções. São coléricos, irritados e geralmente agem por impulso.  Apreciam as honras e as vitórias, e gostam de demonstrar superioridade. A cólera faz com que ignorem o medo. São magnânimes (de alma generosa), porque ainda não apresentam preocupação de existência. Nas ações preferem o imediato, o belo e o útil. Gostam mais dos amigos do que das pessoas de outras idades”
No entanto, reconhecendo alguns pontos de verdade,  gosto de pensar com alguma tranquilidade, que todos já fomos jovens, acusados da mesma irreverência, mas que todos nós crescemos, tornamo-nos pais/mães, cidadãos, seres humanos, exemplares, ‘uns mais do que outros?’.
Acabamos sempre, ou quase sempre, por levantarmo-nos ao som do clarim do dia, vestimos o fato do oficio, oferecemos generosamente as  palavras que estiveram durante tantos anos caladas, por opção ou porque não as sabíamos colocar no vento. Relacionamo-nos com os outros de uma forma mais ou menos harmoniosa, revelamos aos nossos companheiros de jornada, aos colegas, aos amigos, um coração, que já batia dentro do peito, que crescia, por vezes a medo, que se afirmava, que lutava para se tornar num futuro.
Acredito que é para lá que caminham, como outros antes o fizeram, escrevendo com muitas ou poucas palavras, a senda da sua história.
Por isso, continuo a repetir, ao desconforto que essa fase nos deixa por vezes, no confronto do dia-a-dia, com essa juventude irreverente que, isso passa-lhes…

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Post.it: Para G. Garcia Márquez


Gosto de te ler, não só pelo que escreves, mas sobretudo por te encontrar presente em cada frase. Em cada expressão, onde te despes dos preconceitos e das banalidades e nos revelas traços bem delineados da tua alma. Aqui e ali, atiras-nos pequenas achas da fogueira em que arde o teu coração e que queima o meu com argumentos que me deixam anelante duma continuação, e esta, surge de imediato no virar de cada página. Então deixo-me navegar por esse rio que anuncia o mar num derradeiro encontro. É um momento de paz, há tanto desejado nessa completude de vidas que desejam um futuro perene.
Fecho o livro porque o rubor já me invade o rosto e os olhos ameaçam juntar à tua a minha corrente de lágrimas, não, não é de tristeza, garanto-te,  enquanto te aperto nos braços com receio que as tuas palavras queiram fugir das páginas, são lágrimas de alegria, de harmonia, de consonância, por tudo aquilo que dizes. Como se falasses de mim ou, quem sabe, arrisco o impossível, para mim. E mesmo quando já te despedes, sei que ficarás, na estante da minha sala, aconchegando-me o olhar, reconciliando-me com a sucessão dos dias.
Dizem que já não vais voltar a escrever, que estás senil. Então idolatro a tua ‘loucura’, essa loucura que me fez permanecer prisioneira da tua obra, condenada a admirar-te para a eternidade, a tua eternidade, porque a minha, é demasiado finita para caber nela toda a minha veneração.
Consolo-me ao adivinhar a continuidade que alcançarás, por todos os 100 anos que conhecerás, não de solidão, mas de encontros com muitos e muitos corações que vão elevar-se nas asas da tua escrita ao lerem-te e relerem-te para a cada momento te reencontrarem.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Post.it: Bom dia mar



Bom dia, gaivota que já estendes as asas no vento. Bom dia, mar que já adornas a praia. Bom dia, dunas que ainda acalentam o luar. Bom dia, sol que começas a subir no horizonte. Bom dia, silêncio que embalas quem ainda permanece no enlaço dos sonhos.
É cedo, ousa suplicar, num pedido sempre recusado de que permaneça mais um pouco nela. É tarde murmura ele com voz de penumbra presa a uma ancora que não resiste  por mais tempo ao chamamento das sereias. De coração dividido aparta-se o abraço, que se estende até ao toque do último dedo desentrelaçado. Resta o olhar numa última caricia enquanto ele entra no barco e se confunde com a imensidão do mar.
Há de voltar prometem-lhe as ondas do oceano num aceno serpenteante e ela acredita, porque precisa de acreditar, para partir daquela praia e encarar o seu viver.  Acredita, mas não consegue conter a lágrima diária que lhe espreita no olhar. Já devia ter-se habituado, repete incessantemente aos seus pensamentos, mas olha a extensão oceânica e o coração aperta-se-lhe dentro do peito enquanto solta mais uma gota de saudade.
Bom dia, sol que o acompanhas lá do alto na sua longa jornada. Bom dia, gaivota que voas a seu lado e levas no teu voar todo o seu sentir para lhe oferecer. Bom dia, silêncio, não deixes que ele escute a sereia e fique enredado no seu canto sedutor. Bom dia mar, leva-o, sê caminho de partida, mas sobretudo de regresso.
Bom dia, praia deserta de outras histórias, de outros passos, além dos meus e daqueles que fazem do mar a sua vida, enquanto eu faço dele o meu descanso…

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Post.it: O calor do verão em cada estação


Levo o inverno a sonhar com o verão, com mergulhos no mar, com a pele despida de toneladas de roupa. Porque já me cansei da lareira que não chega a aquecer a alma. De músicas que não já não me aquecem o coração. Nem o chocolate quente, nem mesmo o café fumegante me convence do seu milagroso remédio para escaldar os dias de invernosa solidão. E não me venham falar de encantos outonais, da beleza das folhas caídas. Da chuva a deslizar na janela, a correr pelos rios, a formar cascatas e a inundar os mares. Quando ela vem carregada de vento e de água e me molha até aos ossos, quando forma poças que os carros transformam em duches literalmente  de água gelada e pouco limpa.
Convenhamos, onde está o romantismo livresco de tudo isto?
Só na expetativa, no sonho do verão, da luz solar que inunda o dia e entra pela noite adiando-a a cada minuto. Nas caipirinhas, caipiroscas, ou mais na moda os mojitos, (para mim, sem álcool, por favor!). Então o calor responde ao meu apelo, vem cheio de fulgor, feliz pela chamada. Tão imponente no seu poder que me deixa, (derretida) e sem capacidade de argumentação. Adoro um bom verão, caliente. Cheio de risos, de cabelos ao vento, de passeios de bicicleta, de piqueniques à sombra, de gatos invasores,  até das formigas devoradoras. Da fruta fresca da época, dos gelados, dos passeios matinais, das férias com ou sem subsídio, do reencontro de amigos. Mas tudo dentro dos temperados 25º, 26º, cedo até aos 28º, afinal é verão, mas mais que isso já começo a desesperar, sobretudo se todas as sombras estiverem ocupadas, se tiver que ir para uma fila para comprar uma garrafa de água, se o ar condicionado avariar, se a casa estiver um forno, se me invadirem as alergias, se me atacarem os insetos, se, se...
Já começo a ter saudades do inverno, das suas consequências, quais? Neste momento em que tenho tanto calor, todas elas me parecem um paraíso, chuva, frio, vento, o que não daria por um pouco desta tempestuosa mistura.
No fundo, tudo isto é um estado de espirito. Quando estamos bem, tudo está bem, tudo corre pelo melhor.
Porque não há frio que congele a simpatia, nem calor que derreta a generosidade.
E esteja onde estiver, faça o tempo que fizer, devemos sempre aproveitar o melhor de cada momento.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Post.it: Sementes de bem querer


Acredito que és uma luz que surgirá no fundo do túnel. Acredito que as nossas vidas têm um encontro algures mais adiante. Não sei onde, não sei quando, mas sei que assim será. E essa esperança faz-me despertar todas as manhãs na confiança, não que seja esse o dia, mas que através dele, esteja um pouco mais perto de ti. Sei que até lá tenho que cruzar oceanos de vida, tenho que naufragar para aprender a reconhecer a importância de emergir. Sei que não será fácil a viagem, mas tenho a expectativa de que seja salutar. Se fosse demasiado fácil não sentiria o seu passar, não lhe daria o real valor. Acredito em ti, acredito em mim mas sobretudo acredito em nós. E se um dia chegar ao meu final sem que estejas lá transportando o sol no olhar, mesmo assim, agradecerei, cada sonho que me fizeste sonhar. Cada sorriso que me despontaste no coração.
Não me vou fixar em pensamentos tristes, em planos frustrados. Não vou dar por perdidos todos os dias em que adormeci a sonhar com a promessa que o vento não concretizou. Não vou transformar cada momento num eterno lamento. Porque só esta expectativa, este desejo, este pó de bem querer, foi o suficiente para estar aqui, plantando pequenas sementes na esperança que germinem em felicidade. Porque esse é o meu rumo, talvez até, a minha missão, deixar em ti um pouco da minha, emoção.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Post.it: Voltei das férias...

Voltei das férias, voltei, mas não regressei a mesma pessoa. Pelo menos nos primeiros dias, na primeira semana, quem sabe até no primeiro mês, porque o corpo ainda sabe a mar e sente o desconforto de retomar as roupas habituais. Porque a alma, ainda esvoaçante não consegue aquietar-se e moldar-se à rotina do amanhecer quando o despertador o ordena. Porque os olhos, ainda repletos de azul sentem doloroso o olhar que embate a cada instante nos edifícios de betão. Mesmo quando aqui e ali tentam esquivar-se para espreitar por uma nesga fugaz, esse ínfimo espaço que lhes permite soltar um plangente suspiro de visão, não é o mar mas o rio que banha a cidade, mas dá para pacificar um pouco a saudade.
 Não é a mesma coisa! Grita exigente, o coração. Claro que não é, sobretudo para este coração que se espreguiçou no quente areal, que mergulhou nas águas quase serenas do oceano e que se deitou confiante nas ondas sentindo com o mar, uma comunhão de vida.
E o sol, esse astro que por mais que me digam que é o mesmo, não o acreditam os sentidos. Era mais brilhante, mais radioso, aquele que via nascer no imenso horizonte, enquanto a lua ainda permanecia alta no céu, acenando-lhe um adeus cheio de promessas de regresso. O sol acreditava e a lua voltava…
Este sol que ontem me deitou no regresso, não é aquele que vislumbrei num pôr-do-sol, lá bem na pontinha do continente, onde a terra abraça o mar, onde o mar se aconchega nesse abraço terrestre e ficam juntos a ver o dia partir, a ver a noite chegar…
Voltei das férias, mas ainda me sinto algures por lá… dançando no vento, caminhando na praia ainda deserta, conversando com as marés, apanhando conchas, construindo castelos de areia onde a esperança de infinitude possa morar.
Voltei das férias, ou, talvez não…