sexta-feira, 29 de junho de 2012


Post.it: A hora que é tua


Esta hora, a tua hora, aquela onde tudo te pode acontecer. A ti que esperas por ela há tanto tempo. Como se nessa hora depositasses toda a tua esperança. Como se ela fosse a derradeira, porque finita no tempo pode ser infinita o momento em que a vives, em que a sentes, tua…
Esta hora que desenhaste no peito com cores dum arco-íris de tons vibrantes, quase que me atrevia a dizer, de paixão, mas o teu olhar maduro de encantos, já não se deixa aprisionar por adolescentes enredos que desmoronam demasiadas vezes em rios de pranto.
Basta-te a hora, a dulcíssima hora em que a tarde cai e que de mansinho bate à tua porta no convite para um passeio, talvez nostálgico, talvez saudoso, de uma outra hora que não bateu no relógio da vida. Mas se permitires que mais alguém partilhe esta tua hora, quem sabe, talvez, um pequeno e atrevido raio de sol ainda faça despontar um suspiro que aparentemente não diz nada mas significa tanto, tanto, como esta hora.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Post.it: Prisioneira


Porque reclamam das prisões, ou desse sol sombreado. Da rotina dos dias, desse encontro permanente com o mesmo rosto? 
Eu que vivo na mais plena liberdade grito por tudo isso. Apelo em cada recanto a ousadia de me prender. Não, não me chamem louca por ter o sonho de ser prisioneira, entrar nessa cela e deitar fora  a chave para que dela nunca possa sair. 
Porque lá fora nada me importa tanto como o que  posso ter aqui, neste lugar que é meu sentido, meu caminho encontrado. 
Porque reclamam das prisões se a maior beleza consiste em permitir que nos roubem o coração, que o prendam em abraços, que nos furtem beijos por entre as sombras do entardecer. 
Estivesse eu presa desse terno enlace e não aceitaria amnistia alguma, dar-me-ia como culpada,  e cumpriria alegremente a minha doce  e  perpétua pena…

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Post.it: Da minha janela


Debruço-me e vejo na rua, a passar, rostos que me contam histórias num silêncio que ganha voz através da minha. 
Incapaz de calar por mais tempo as horas que lhe enchem os dias, e os dias de que lhes preenchem os anos. Que lhes transparece no rosto, que lhe marcam a sombra do olhar mesmo quando desenham a medo o esboço de um sorriso.
Abro a janela pela manhã, entra-me o sol e o reflexo do céu no mar. Esse oceano que uns dias acorda em tempestades de azul, gritando numa sinfonia de ondas, palavras que tento entender, antes que morram no areal da extensa praia. 
Enquanto que me oferece outros dias, cheios de calma. Nesses dias, deita-se no meu olhar e convida-me a navegar na extensão das suas ondas, numa viagem rumo ao infinito. Uma viagem que apela ao esquecimento, à alienação do mundo. 
Um convite a que me afunde no seu abraço, que me funda com as suas águas mansas e renasça, límpida e serena. 
Quase cedo ao convite, quase lhe entrego o desalento do meu sonhar. Mas depois recordo-me dos vendavais com que recorta a costa e permaneço na minha ilha ancorada. 
Entretanto, fico na janela da vida, a ver o mundo passar, desejando cada chegada, sonhando com cada viagem que nos traz cada vida que em algum instante se cruza com a nossa. 
Que nos faz sair da janela e caminhar pela mesma estrada.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Post.it: Pecado é não viver


Entristecem-me as pessoas que estão sempre a dizer “que não vão chegar lá”, mas chegam, entre receios e hesitações e entre dias arrancados às noites, “chegam lá”. Esse “lá”, que cada um tem o seu, em forma de meta, em forma de idade. E quando “chegam”, foi através dum percurso sempre repleto de pessimismos, fazem-no sem retribuir o sorriso ao sol que lhes ilumina o dia, sem apreciar o renascer da primavera. Sem se aconchegarem confiantes na ternura de cada amanhecer, sem reconhecerem a esperança de cada nova oportunidade. E porquê? Porque se condicionam na antevisão de um final. Erguem os olhos a um céu de temor e sussurram “que é pecado”.  Enumeram-nos como se dominassem uma doutrina: A ira, quando a raiva nos cega; A gula que nos torna insaciáveis; A luxúria do prazer; A soberba da arrogância; A preguiça que nos faz cair na letargia; A vaidade refletida no excesso de atenção ao corpo.
Mas o verdadeiro pecado é conter a ira por não ter capacidade de reagir. Cair numa anorexia voluntária por excesso de regramentos. Em suma, não aproveitar os pequenos prazeres da vida. Não cuidar de si com receio de que lhe apontem indícios de futilidade. Apagar o arco-íris e viver uma existência a preto e branco.
Pecado é não desejar,  quando na vida há tanto para conquistar. Não sonhar, quando há tantos sonhos para concretizar. Deixar de viver o futuro por estar agarrado ao passado com medo do desconhecido. Pecado é chegar a um dia em que se olha para trás com a certeza de que a felicidade esteve sempre, nas nossas mãos.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Se for amor...


     Se for amor...
     Que não venha sozinho,
     Que te traga no caminho.
     Se for amor...
     Que venha para ficar,
     Que venha para me amar.
     Se for amor...
     Que me seja primavera,
     Jardim de tanta espera.
     Se for amor...
     Que me seja paixão,
     Feliz no coração.
     Mas se não for amor,
     Que me murche no peito,
     Sonho que nasce desfeito.
     Se não for amor,
     Que me seja verdade,
     Antes de se tornar saudade.
     Quando é amor...
     Não se engana a realidade,
     Na mais luminosa felicidade.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Post.it: Sou a tua Vida


Sabes quem eu sou? Descobre-me. Atreve-te. Não será fácil. Tens de despir-te de ti e acreditares que podes mergulhar em mim sem te magoares. Avança, devagar, não tenho pressa, não tenho onde chegar, apenas te quero acompanhar. Posso esperar por ti todo o tempo do mundo. Para concretizar os teus desejos, para vencer os teus medos. Não sou como tudo o que conheces, não sou essas desilusões infinitas que temes descobrir, também tenho muito de alegria para te mostrar. Desvenda os mistérios que tenho para te revelar. Ofereço-tos, cuida deles, deixa-os crescer e desabrochar dentro de ti.
Transforma-os em pequenos astros luminosos que iluminem as sombras do anoitecer. Não desistas na primeira adversidade, porque eu não vou desistir de ti. Mesmo quando parece que  queres ausentar-te de mim. Quando adormeces sem  me abraçar. Quando te desperto e me recebes com mau humor. Sei bem que não sentes tudo o que dizes. Sei bem que não me queres magoar, apenas não sabes como ultrapassar cada obstáculo com que te deparas. Nada posso fazer por ti, mas posso fazer tudo contigo. Posso dar-te o sonho mas terás de ser tu a concretizá-lo. Posso dar-te a vontade de caminhar, mas não o passo. Vamos, avança, descobre-me, vamos estar juntas por muito tempo, muito tempo. Enquanto tu me quiseres…

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Post.it: Quando o verão se despedia


Hoje que o primeiro dia de verão nos presenteia com a sua chegada, que nos convida a renascer das sombras e encher de sol a alma, lembrei-me de falar de um final de verão…
Nasci, quando o verão já se despedia, quando as andorinhas já ensaiavam os primeiros voos da partida. O sol começava a deitar-se mais cedo e a lua pendurava-se de mansinho no céu, enquanto as estrelas cintilavam com um olhar irrequieto que contestava o  precoce anoitecer. Nasci quando o verão já se despedia, quando as férias acabavam e já cheirava a mochilas novas, a livros por estrear. Quando as roupas coloridas eram de novo arrumadas para dar lugar a outras mais quentes e de mangas compridas, cobrindo o bronzeado, essa caricia do sol sobre o corpo, então,  o pensamento levava-me para luminosos areais e mares que no seu doce balanço me convidavam a um mergulho acalentador. Mas chegara a hora de fechar as folhas do romance, aquele que sempre levo para me fazer companhia numa fresca sombra, mas que nunca leio porque o espirito ávido de aventura perde-se continuamente por entre a maresia da praia, o voo feliz das gaivotas e a perfeita união entre o céu e o mar.
Nasci quando o verão já se despedia, não que isso me entristeça, até porque gosto do ciclo renovado da natureza, mas ficou-me na memória genética esta herança de despedida que  constantemente se repete no meu viver. E tudo aquilo que abraço com fervor acaba um dia, mais tarde ou mais cedo por me deixar os braços vazios, enquanto a lembrança fica cada vez mais repleta de saudades, por este nascimento que surgiu quando o verão já se despedia.
No entanto,  recolho as folhas de outono, seco as chuvas de inverno e abraço com alegria as flores da primavera enquanto aguardo a chegada do verão. 
Porque em cada despedida haverá sempre uma nova chegada.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Post.it: Ver passar...


Vivi vidas milenares, em muitos caminhos, em muitos andares. Vivi vidas sonhadas, perdidas e achadas. 
Cruzei universos, galáxias de paixão. Numas encontrei  a esperança,  noutras apenas a ilusão. E depois de tanto andar, tanto que a minha história já não sabe contar, estou aqui. Não vos vou falar de lágrimas, não vos vou falar de mágoas.  Quem as quer secar, quem as quer ouvir? Quem quer parar, parar para sentir?
Já vivi furacões, mares que tocavam o céu. Já vivi maresia, quase, quase de magia. Nos paraísos que encontrei, oásis de ternura. Não sei se me abandonaram, ou se fui eu quem os abandonou, num qualquer momento de pungente loucura. Hoje, tenho as mãos vazias, iguais aos meus dias. 
Envelheci? Mas o Tempo não envelhece! Cresci? Mas o Tempo não cresce! Estou cansado. Sim, o Tempo também se cansa, de que vivam o tempo, sem tempo  para o desfrutar. E quando lhes dou tempo para recomeçar, esquecem-se do tempo, em que tinham  tempo para amar. 
Já vivi vidas milenares por isso lhes digo, arranjem tempo para o tempo apreciarem. Porque o vosso tempo, pode, num qualquer dia, acabar. 
Porque viveram  a vida apenas vendo o tempo a passar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Post.it: Um suspiro do coração


“O amor tem destas coisas”, dizia uma amiga minha ao comentar o casamento da duquesa do nosso país vizinho, já octogenária, cujo nome me escuso de mencionar. Num primeiro impulso adorei a sua ingenuidade, depois passei a detestar a minha descrença numa humanidade que já não se gere essencialmente por sentimentos leais e verdadeiros. Os anos que passaram por mim, deixaram lições que aprendi com maior ou menor dificuldade. Ao longo desse tempo fui perdendo esperanças, lembranças, talvez até ideais. Mas quero acreditar que não deixei pelo caminho o essencial e que sou um ser humano com qb de são e de louco, que sou uma cidadã cumpridora e uma amiga verdadeira.
Enquanto divagava na análise dos meus valores, e num balanço de consciência, a minha amiga de feitio germânico, como gosta de referir do topo dos seus “oitenta e alguns, nem muitos nem poucos”, palavras dela. Volta a insistir com a sua natural graça, “Mas há quem acredite num amor encontrado aos 80 e tal anos? Tenham lá paciência, que o vosso romantismo já extravasa os limites da lógica! Digam-me em boa verdade, quem é que se iria apaixonar pelas minhas rugas, quem é que se quereria casar com o meu reumático ou partilhar a vida com a minha já notória senilidade? Que não é tanta assim,  porque ainda tenho consciência da realidade. Só se eu tivesse muito dinheiro ou uma posição social invejável!?” Rimo-nos em conjunto da imagem que se desenhou na nossa imaginação. Do seu humor jovial, da sua franqueza e sobretudo rimo-nos com ela, pela sua destreza de ideias, que está longe da senilidade que refere com grande candura. E cresce-nos a certeza que se já perdeu a ingenuidade dos verdes anos, mas a vida recompensou-a com a alegre sabedoria do amadurecimento.
No ar fica a dançar a questão: Até que idade se pode amar?
Não sei responder à questão, no entanto, desejo sobretudo que se ame enquanto existir nos pulmões um folego de vida capaz de pronunciar aquela doce palavra que nos suspira do coração.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Post.it: Utopia


Queria-te perto, tão perto que sentisses o bater do meu coração. Queria-te perto tão perto que escutasses os meus pensamentos. Viver uma realidade sem condicionamentos, cerrar as grades do tempo para que a felicidade durasse 48 horas por dia. Romper com as correntes da rotina que nos aprisionam nos hábitos e nos impedem de fazer a cada instante coisas novas, criativas e inovadoras.
Queria acordar com o bom dia do sol e adormecer no embalo do luar. Lá fora a chuva cai de mansinho. E então enrolar o sono no teu abraço quente, para despertar no teu olhar, saltar da cama, correr para a vida lá fora, como se ela fosse um imenso areal sem limite de horizonte.
Abrir os braços e espantar a preguiça, fechá-los e apertar neles o sonho de liberdade, nesta anarquia de emoções.
E nesse cansaço inquieto que só a ventura pode dar, mergulhar nessa onda e ser mar, sereia ondulante, ninfa inspiradora de solitários marinheiros.
Queria-te perto, tão perto, que outro tão perto não existiria.
Perto tão perto como a noite que se completa no dia…

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Post.it: A verdade do silêncio


Toda a verdade existe, toda a verdade é justa e como tal deve ser aceite. Independente de ser a verdade geral ou individual de cada um de nós, mas essencialmente por que é a verdade, a nossa verdade.
Porque ela é em si mesma, verdadeira e boa na sua intenção e conceptualização. No entanto e porque cada um puxa a asa da sua pertença, rapidamente chegamos à conclusão que não há maior verdade do que a do silêncio, porque ela é incapaz de conceber o seu reverso.
Lembro-me de quando estudei música, tive uma professora que me deixou uma grande lição para a vida. Perguntava-nos o que era a música e nós respondíamos automaticamente que era a organização dos sons, ela acrescentava: e dos silêncios.
Já a minha avó (adotiva) costumava dizer na sábia ternura dos seus cabelos brancos, “Quem não mente não é boa gente”. Péssimo exemplo para as crianças, pensava no imediato,  mais tarde fui percebendo a que mentira ela se referia. Não era o oposto da verdade mas a sua gentil omissão. Aquelas “meias” verdades que utilizamos quando não pretendemos magoar alguém a quem queremos bem.
Até Confúcio dizia, “É o silêncio o único amigo que não nos atraiçoa”. Reforçando a ideia, lembro a teoria dos monges do deserto “Se o meu silêncio não vos recebeu bem, não seriam as minhas palavras a fazê-lo”. 
Por vezes só o silêncio basta como explicação, como resposta, como verdade. E porque o reconheço, assim me calo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não se dão flores


Não encontrei presente refinado,
Que fique bem a teu lado.
Ouro, diamantes esmorecem,
E todas a palavras emudecem.

Só o silêncio te conhece,
Quando o sol em ti adormece.
E o luar desenha no espaço,
Toda a ternura de um abraço.

Não se dão flores,
A uma flor,
Que já florida nasceu.

Dá-se um querer sem dores,
Dá-se amizade, dá-se amor,
E todas as estrelas do céu.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Milagre de Sto. António

Santo António, bem sei,
Que estamos em contenção.
Mas aquilo que desejei,
Não custa nem um tostão.

Apenas um milagre, bom amigo,
Um milagre de generosidade.
Bem sei que conto contigo,
Para me trazeres a felicidade.

Porque o amor não paga imposto,
E o carinho ainda não está taxado.
Peço-te, concretiza o meu gosto.

Que nas festas de Lisboa tenha a sorte,
De encontrar um coração apaixonado,
Que prenda o meu, e me dê um norte.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Post.it: A química de uma lágrima


De que são feitas as lágrimas? De água e sal, dizem os entendidos. De dor e mágoa, dizem os sábios. De sonhos e de alegria dizem os utopistas.
Quantas as lágrimas podem  nascer da  estranha e dolorosa união entre o  rio da razão com o mar das emoções. Mas também, quem as consegue conter quando por vezes, nos espreitam ternas e sorrateiras, as lágrimas de saudade.
Outras mais determinadas, ultrapassam as fronteiras apertadas do orgulho e saltam fogazes em lágrimas de vontade. Tão fortes como estas, gritam-nos outras rasgando o silêncio deixando por fim sair, todas as lágrimas de frustração.
Quando toda essa água magoada, encontra no peito a sua estrada, sai-nos dos olhos, em fontanário, e transborda de uma alma que se agita porque nenhuma água a acalma.
Um dia porém, o sol volta a irradiar uma luz que lhe aquece o peito, e o sorriso renasce por entre as nuvens, então uma lágrima atrevida faz a festa divertida e chora a última da despedida ou a primeira da chegada. Agora que, choram de tanto rir, choram porque voltaram a acreditar. Nas lágrimas que também podem ser felizes sem nos cair do olhar.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Post.it: Já não te dedico versos


Fecho o livro que estava a ler, cheguei à última página, por momentos, invade-me uma sensação de orfandade, de quase saudade pelas páginas que chegaram ao fim, e não se pode dizer que tenha sido um final feliz. 
Porque é um livro de poesia, onde o poeta se derrama em versos que seguem no rio da escrita, perdendo-se por mares de solidão. E intuo um sentimento de fracasso, na sua missão de conquista. Onde ímpeto do escritor não encontrou resposta para as suas questões mais íntimas. Porque as tem, acreditem, deixa-as, não nas linhas que escreve, mas nas entrelinhas dos seus versos entrelaçados por entre as rimas.
“Já não te dedico versos de amor, para quê, se tu não os lês? (“Claro que leio”) já te adivinho a pronunciar num esvoaçante pensamento. 
Claro que lês, reconheço, mas não com o coração. Não com o sentimento de reciprocidade que o meu espera do teu. 
Já fui longe, tão longe, para te trazer: todos raios de sol, todas as gotas de chuva, todas as ondas de mar, todos os oásis do deserto, todas as sombras do luar. Já construi pontes de esperança. Até te trouxe relâmpagos para te iluminarem o caminho de volta aos meus braços. E no entanto continuas aí, algures neste universo de vidas, nesta dimensão de espaço e de tempo, que é, neste momento, a única coisa que temos em comum. Tudo o resto diferencia-nos, afasta-nos, faz-nos seguir caminhos eternamente distintos.
Já não te dedico versos de amor, para quê se viras a página e me arrumas automaticamente na estante, empilhado junto com muitos outros livros que já te contaram histórias. Mas as suas histórias não contêm o mesmo fervor, o mesmo desejo de tornar realidade a fantasia que descrevo em plumas de vento, só para te levar comigo, para permanecer contigo, por dias, meses de um folhear tranquilo. 
Nesses dias em que me deixas dormir a teu lado, pousado na tua mesa-de-cabeceira enquanto me torno, alegremente, guardião dos teus sonhos…
Mas não, já não te escrevo versos de amor, porque sei agora que vou ficar para ti,  como uma  página em branco, onde nunca irás escrever a conjugação de um verbo feliz…”

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Post.it: Juramento à vida

Todos nós, humanidade devíamos fazer um juramento, assumir um real compromisso perante a vida. Esse bem essencial que nos faz nascer, crescer e prosseguir a nossa existência.
Devíamos, nesse juramento, prometer que todas as nossas acções e pensamentos tinham como única intenção e desejo, fazê-la feliz. 
Uma jura que devia ser de fidelidade e de respeito para com a sua integridade e vontade de viver em pacifica harmonia com ela. Reconhecer que a vida é um todo, nossa e de cada um que a possui e vive num mesmo sentido, objectivo e missão.
Numa ética, límpida e assertiva, condensada num compromisso de vigência desde o seu início até ao seu final. Porque a vida dá-nos tudo, enquanto nós, lhe oferecemos na maior parte das vezes, apenas, indiferença. Temo-la como certa, temo-la como infinita...
Afinal e estabelecendo (símile com o vulgar anexim relativo à pescada) antes de ser, já a tínhamos, vida que já existia, ainda que inominada e, por conseguinte, pertence-nos por inteiro, podemos fazer com ela o que bem entendermos, ou não, segundo rezam os altos cânones.
Porém, a vida  apela à urgência de uma deontologia, uma norma, que a proteja na sua prerrogativa de existência, que  necessita para manter a sua integridade, a sua dignidade, o seu direito de ser feliz.
Além disso, se há uma Declaração Universal dos Direitos do Homem, ela quer que seja reconhecida uma Declaração Universal dos Direitos da Vida, enquanto pertença de cada um. Com o direito de não ser maltratada, alienada, esquecida, magoada e o dever  intrínseco e obrigatório para quem a possui, de cuidar e amar a sua vida.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Post.it: Coisas pequenas


Coisa pequena, aquele coração que se aninha no ventre materno à espera de nascer e tornar-se numa grande vida. Aquela voz de ave que homenageia o sol e enche de melodia o silêncio da madrugada. Ou a pedra sem aparente valor e que depois de lapidada torna-se no mais belo diamante.
Coisa pequena, aquela lágrima que um lenço ampara afagando talvez uma grande dor. Ou ainda, a semente que é atirada ao solo com desvelo, que germina e cresce em seara de trigo.
Coisa pequena, aquela mão que segura a nossa e nos guia tranquilamente por um caminho seguro. Mas também, a nota musical que irá compor, quem sabe, uma grandiosa sinfonia.
Coisa pequena, aquele degrau que nos leva ao topo que pretendemos atingir. E, aquele rio que nos conduz até ao mar. Tal como aquele oásis num imenso deserto que nos proporciona uma frescura salvífica.
Coisa pequena, o mundo no meio do universo, repleto de pessoas que na sua vontade e coragem saem da sua pequenez e demonstram a sua  grandeza.
Mas o olhar ilude-nos e não conseguimos ver as coisas pequenas, que só o coração pode entender.
Afinal, são essas coisas pequenas que nos fazem sentir que, “Amar, amar, amar. Só vale a pena, se tu quiseres confirmar. Que um grande amor não é coisa pequena. Que nada é maior que o amar”.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Post.it: A minha tristeza


A nossa vida ao passar vai guardando momentos, entre os que permanecem firmes do que eram, ou alterados pela erosão dos anos que passam. O que fica em nós são poeiras no ar que revisitamos de vez em quando.  Como quem abre um velho livro do qual já esquecemos os pormenores da história mas que nos deixou uma sensação de saudade.
A minha tristeza não é por esse mar que nos separa, mas por esses olhos que partiram dos meus antes do tempo. Antes mesmo de prometer voltar.
A minha tristeza não é pelas pontes que criam a distância, mas pelos corações magoados. Pelos que não constroem laços de perpetuidade
A minha tristeza não é pelos caminhos que se desencontram, mas pelo sono que adormeceu sem sonhos.
A minha tristeza não é pela tua ausência, mas por essa presença que se torna cada vez mais longínqua.
A minha tristeza não é pelo frio do Inverno, mas por adivinhar que a Primavera não voltará  a renascer no encontro do teu olhar.
A minha tristeza não é pelo passado, mas pela inexistência de um futuro partilhado.
A minha tristeza não é pelo silêncio que nos foi calando, mas por todas as palavras que nos esquecemos de dizer.
A minha tristeza não é pelo final, mas pelo durante que poderia ter sido um plantar de alegria em vez de um colher de tristeza.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Crianças a crescer


Porque hão de as crianças crescer,
Mesmo antes do sol amanhecer.
Despertar do seu mundo de fantasia,
E caminhar pela rotina de cada dia.

Choram ainda pelo leito perdido,
Choram pelo sono interrompido.
Num colo que está cheio de amor,
Mas que não aconchega o torpor.

Já vão para a escola aprender,
A somar, a ler e a escrever.
Coisas muito difíceis de alcançar,
Para quem apenas quer brincar.

À noite o cansaço e a saudade,
Aconchega-se no lar feito ninho.
E foge-lhes tão rápido a idade.

Desse rosto de criança,
Desenhado com carinho,
Na nossa eterna lembrança.