sexta-feira, 30 de março de 2012

Post.it: Flores de Março

Aquelas que nos perfumam a alma. Que nos entram no coração como se fossem uma Primavera que não sucumbe às intempéries do tempo. 
Que nos esculpem os sonhos com entalhes de esperança. Para nos fazer acreditar que há sempre uma flor a nascer depois da mais profunda dor. 
E mesmo que tenham espinhos magoados pelo seu viver, é tal a beleza da sua visão que ousamos aproximar-nos. 
É tal a singeleza das suas pétalas, que nos atrevemos a tocar-lhes. É tal o aroma que irradiam, que nos aventuramos a abrir-lhes a porta do sentir, para que possam em nós repousar, para que possam em nós florir.
Depois, depois partem, seguindo seu rumo, na mudança das estações.
Porque nós, incapazes de as colher do jardim onde vivem, limitamo-nos a enviar-lhes em devoção, um terno beijo com o olhar…
  

quinta-feira, 29 de março de 2012

Post.it: O que a vista não alcança


Todos temos segredos. Segredos do que somos, do que fomos. Alguns têm segredos magoados, derrotados pela vida. Segredos ansiosos por serem descobertos, partilhados, não com todas as pessoas, apenas com alguém que nos cative e nos ofereça num olá a promessa de um até breve…
Foi assim que me confessaram com saudades na voz. Por esse até breve que não passou de um quase, e, só olá…
“Conheço o seu segredo. Esse que guarda bem guardado o que esconde de todos aqueles que não param um pouco para o descobrir. Dos que não encontram nos seus olhos o caminho para a sua alma. Eu descobri o seu segredo, reconheci-o no instante em que o vi. Não o revelei, guardei-o para mim como se fosse um tesouro que temos que proteger da cobiça alheia. Rasguei todos os mapas, para que não descobrissem o caminho e de alguma forma lhe alterassem a beleza original. Protegi-o como o bem mais precioso que se pode alcançar na vida. Guardei-o porque me fez sentir feliz reconhece-lo como se fosse um vale encantado, um oásis no meu deserto de emoções.
Como o descobri? Perguntas-me. Li-o no seu sorriso cantante de fonte a jorrar poesia. Dizem que me enganei, que fui influenciada pelas emoções, que a minha solidão o idealizou, que estou louca em acreditar numa pessoa que não existe tal como a sinto, que sofro de miopia sentimental. Riu-me deles, porque eles não sabem, o seu segredo. A verdade do que é, quando deixa de fingir o que não sente, quando revela a coragem de ser apenas um ser humano, quando despe as roupas desse personagem que encarna todos os dias ao despertar, todas as noites até ao adormecer. Veste essa personalidade para que não o magoem mais, a vida nem sempre lhe foi favorável… Disfarça bem cada sombra na ilusão duma gargalhada, num sarcasmo ferido. Mas quando chora do outro lado do telefone e eu choro com ele, deste lado, porque não consigo secar-lhe as lágrimas, porque estendo os braços e não o alcanço para o abraçar. Então busco palavras que me doem no peito, só para o sentir feliz, digo-lhe para voar, para voar para longe, mesmo que seja para longe de mim.
Afinal, eu sei o seu segredo, está onde a vista não alcança mas onde chega o coração”.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Post.it: Saborear a vida

“Tornei-me um estudante da vida e a vida ainda tem muito para me ensinar”, diz Clint Eastwood, com a sua voz rouca e arrastada de 82 anos. Surpreende esta humildade e consciência.
Quantos de nós com muito menos idade, proferiremos com a mesma docilidade esta afirmação? Talvez seja um processo de amadurecimento que ainda não atingimos. Muitas vezes suspiramos não pelos anos passados mas pela sabedoria que os acompanha. “Quem me dera saber aos 20 anos o que sei hoje”.
Mas tudo tem o seu tempo e por vezes é preciso saber esperar sem ter pressa de chegar. O tempo que nem sempre caminha à mesma velocidade dos nossos desejos de conquistar, de revelar, de descobrir, de tocar. Contudo noutros momentos adquire uma jovialidade e leveza deixando-nos para trás enquanto nos ultrapassa num aceno de leve brisa.
Porém, quando olhamos os ponteiros do relógio comprovamos que o tempo permanece inalterável na sua sequência de segundos e minutos. Que o dia amanhece e a noite adormece na promessa de que o Sr. Tempo não se vai esquecer de virar a página do calendário. As saudades vão partindo, novos sonhos vão surgindo, como uma história que se vai contando devagar, deixando-nos suspensos da sua continuação. Caminhamos, palmilhamos as autoestradas da vida, cruzamos pontes, navegamos por rios, voamos sobre continentes, porquê? Porque faz parte de nós esta necessidade de ultrapassar os nossos limites, de descobrir longe o que talvez esteja perto.
Mas aos 82 anos, ou antes, ou depois, descobrimos que “Não há como parar e sentar” para saborear cada partícula de vida.

 

terça-feira, 27 de março de 2012

Post.it: Para não esquecer os castelos de areia

Escrevo, enquanto procuro no horizonte da minha existência algo que preencha a maresia divagante dos sentidos. Escrevo em busca duma âncora, que me faça permanecer neste porto sem demandar para outros mares.
Escrevo para que as palavras ganhem asas e voem na direção de um sonho que se sonha com o coração acordado.
Escrevo para ser uma árvore que estende nas entranhas da terra raízes capazes de suplantar as intempéries da vida. Escrevo para construir degraus, que me levem ao topo do meu pequeno universo, onde basta estender a mão para tocar numa estrela.
Escrevo em busca de uma praia deserta de mágoas. Uma praia banhada de águas que são lágrimas de gente feliz. Escrevo para que a brisa que passa, não despenteie a crista das ondas, e apenas lhe desenhe beijos que se estendem no areal.
Escrevo para que os castelos de areia não sejam nunca desfeitos nem esquecidos. Para que as bolas de sabão sejam mais do que a transparência efémera de uma beleza que não perdura. Escrevo para abrir portas por onde possa entrar. Janelas por onde possa espreitar. Escrevo para que um dia, quem sabe, sente-me a teu lado, mergulhe no teu olhar e acredite que escrevo, somente, para ficar...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Je t’embrasse



Abraço-te
Dia que me amanheces,
Em sorriso cândido de madrugada.

Abraço-te
Vida que me aconteces,
Em cada nuvem de sol raiada.

Abraço-te
E nesse abraço de ti vazio,
Encontro ainda assim plenitude.

Abraço-te
Em palavras que silencio,
Esperança que me dá quietude.

Um coração assim abraçado,
Também sente e se enternece.
Mesmo sem nunca ser amado,
Por quem o abraço lhe oferece.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Post.it. Por onde voam as andorinhas?

Onde andas andorinha, que a minha vista não te alcança? Será  que não queres regressar e trazer-me o teu cantar de primavera? Talvez sintas que o inverno ainda me habita no peito, ausente de cor, ausente de qualquer flor.
Não sabes, andorinha, como preciso das tuas asas, para o meu alento transportar. Já pedi boleia ao vento, mas ele cansou-se do meu penar. Não sabes andorinha como preciso da ternura das tuas penas, para das minhas me olvidar. 
Se soubesses, andorinha, como o  céu sem ti fica vazio, falta-lhe a alegria que desenhas no ar. Se soubesses, andorinha, como choram os pardais nos umbrais das janelas, uma saudade que é tão grande, tão grande como a minha.
Até os rios, quase secos de tanto te chamar, desenham novos caminhos, para em vão te perscrutar. E o sol que lá no alto tudo vê, perante este quadro de tristeza, combina com a lua para a noite retardar, quem sabe assim encontres o rumo para a mim retornares.
As flores agitam-se como campainhas a tinir o teu nome, até as papoilas já chegaram e, tentam emergir como faróis por entre as outras para te mostrar a direção a seguir.
As gaivotas juntam-se em bandos, na missão de te procurar. Os ninhos vazios nas casas caiadas, são lares sem sonhos, nas noites frias e desoladas.
O calendário marca o teu regresso, mas tu não vens para nos trazer no teu rasto, asas de primavera que tecem um novo verão.
E eu que te espero, eu que te procuro, perco-me no horizonte sem te encontrar no meu olhar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Post.it: Todos os nomes da vida

Ela chorava e ria sem poder conter no peito tanta alegria. Esse encontro que sabia a reencontro consigo no outro e do outro em si. O rosto reluzia e os olhos cintilavam como estrelas em pleno dia. Perguntaram-lhe o que tinha, se estava bem ou se sofria e sem saber como lhe chamar, sem saber como explicar a dor de prazer que lhe inundava de festa o coração – Chamou-lhe Amor.
Esperava, desesperava, ansiava, quando começaria, quando terminaria, quando o veria, quando o receberia nos seus braços de mãe. Mãe repetia saboreando cada silaba e a palavra esvoaçava-lhe no ventre. Esse ventre cheio de vida, cheio de amor.
Navegante em estreia por essas águas da existência, chamou-lhe numa pressa de advento -  Nascimento.
Queria abrir os braços, estender a alma, para abraçar o mundo, o seu mundo, que se aproximava, que lhe iluminava o coração como se fosse um sol. O sol da sua vida. Que lhe roubava feliz o alento e lhe deslumbrava a razão. E com adolescente urgência de querer, quando lhe questionaram tanto júbilo, sem resposta rebuscada. Chamou-lhe apenas - Chegada.
Era impossível quebrar aquele círculo de amor. Era impossível romper os laços soldados com tanta ternura. Podia esticar, aceitava o dilatar, não o despedaçar e,  nunca o romper. Não chorava, prometera a si própria que não o faria. Compreendia que era a evolução natural da vida, que tudo segue o seu destino.
Perguntaram-lhe o que tinha, O que podia ser feito para a ajudar. Deixou o olhar caído no chão, como se nele sentisse também o coração e sem saber que outro nome lhe dar chamou-lhe – Despedida.
Silêncio era tudo o que lhe dançava na alma. Perdera as palavras, a vontade de as ouvir, de as proferir e até de as sentir magoadas. Silêncio era tudo o que desejava, como se fosse um cobertor macio e quente que lhe confortava o frio interior, um vazio desconhecido, que não conseguia colocar em expressões verbais, que não conseguia sentir sem gemer. – E nas dores de que a vida é feita, dos nomes que a preenchem, mais um lhe acrescentou - Luto.
Fazia sentido completar assim todos os nomes da vida. Mas a vida é uma criança irrequieta, que não para um só instante. Que depois de cada final renasce, talvez, com maior beleza. Porque há nela uma enorme vontade de sair de cada tenebrosa noite e voltar a ser brilhante madrugada. A vida existe para encontrar o seu outro nome - Felicidade.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Plantar uma árvore

Planta uma árvore forte.
Planta uma flor de esperança.
Planta a semente da sorte.
Planta uma terna lembrança.
Estende na terra as raízes.
Estica longe os teus abraços.
Faz-nos por momentos felizes.
Na sombra dos teus braços.
Acaricia a luz do sol.
Faz cócegas nas nuvens.
Ouve a melodia do rouxinol
Que nos canta suas viagens.
Planta um sonho colorido,
Na fantasia de cada um.
Planta um desejo divertido,
Em quem vive sem nenhum.
Cresce em nós palpitante,
Cheia de luz e de cor.
Sê um sereno rio cantante,
Seiva de vida e de amor.
Planta em nós a felicidade
E a coragem de a conquistar.
Em sementes de liberdade
Que nos permitam voar.
Fica para sempre aqui.
Neste lugar que te ofereço.
Deixa-me permanecer em ti.
Mesmo quando sem ti adormeço.

terça-feira, 20 de março de 2012

Post.it: Um minuto sem solidão

Quando nos conhecemos, perguntaste-me de que era feita a minha vida.
- De dias, de muitos dias, sem grandes histórias para contar, respondi. E a tua questionei.
- De 100 anos de solidão…
Por um momento, por um breve momento, ao ver-me refletida no teu olhar, sonhei que afastaria para todo o sempre essa solidão. Depois, quando os teus olhos voaram para lá do horizonte, quando o teu sorriso esmoreceu, entardeceu-me o coração e uma penumbra lunar invadiu-me o sentir.
Ansiei ainda desenhar no teu querer, um ano sem solidão, mas o silêncio já cavava sulcos ondulantes nas profundidades do teu mar, enquanto partias no embalo da corrente.
Um dia! Gritei por dentro da alma que se calava gentil, com receio de te ferir os sentidos e, esperei anelante, uma resposta que não veio.
Uma hora! Ainda me atrevi a sussurrar no fôlego de um suspiro que caiu por terra ao perder a razão de existir.
- Como vai a minha vida? Feita de dias, muitos dias, sem grandes histórias para contar. E a tua? Pergunto ao vento que passa.
Enquanto esboço no ar traços sinuosos duma esperança que te pede, um minuto!
 Apenas um minuto, aquele que vais perder a ler este pequeno escrito. E ao te adivinhar aqui, sinto completo esse minuto, que me perdura no peito como se fosse uma hora, um dia, um ano, ou todo o sempre, em que se afasta a tua, ou quem sabe a minha, solidão.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Post.it: Tempo de ser Pai

Ser pai é mais do que comprar as fraldas, é também mudá-las quando estão sujas. Ser pai é mais do que comprar as papas, é também sentar-se e dar-lhas, colher a colher. Ser pai é mais do que ir visitar o filho ao quarto quando já dorme, é também contar-lhe uma história para adormecer, aconchegar-lhe a roupa da cama e dar-lhe um beijo de boas noites. Ser pai é mais do que o ver caminhar, é também ensinar-lhe os primeiros passos, evitar-lhe as quedas, abraçá-lo e incentivá-lo a seguir em frente. Ser pai é mais do que dar-lhe uma casa cheia de tudo, é também dar-lhe um lar repleto de amor.
Mas ele pensou que tinha tempo para tudo isto. Deu tudo por certo e seguro. Primeiro tinha que acabar o curso de Direito, conjugar os horários com o emprego e os estudos. Um dia teria a recompensa dos seus esforços, em tempo e bem-estar para a família. Um dia teria tempo para ser feliz com o filho e proporcionar-lhe tudo para alcançar a felicidade. Porque era em nome da felicidade que tudo fazia, que tudo adiava. Mas a felicidade não pode ser adiada, não pode esperar que alguém tenha tempo para a apreciar. Tinha tempo, repetia para si, tentando convencer-se que estava a fazer a melhor opção. Mas o tempo não esperou por ele, a família não adiou a sua vida na espera de que ele tivesse tempo para a viverem em conjunto. Soube-o um dia quando chegou a casa e encontrou apenas as paredes despidas, quando o silêncio o recebeu à chegada e os papéis do divórcio o aguardavam na bancada da cozinha. Passou a visitar o filho em fins-de-semana alternados. Sentia que era pouco, muito pouco o tempo que passava com o filho, porque uma distância emocional crescia entre ambos. Entretanto outro “pai” ocupava um espaço na vida do seu filho, um espaço que devia ser seu. Uma figura paterna que oferecia-lhe um tempo que ele, o pai,  não tivera para lhe dedicar.
A vida seguia o seu percurso, entretanto, acabara o curso, arranjara um bom emprego e tinha agora um tempo que não sabia onde ocupar dentro da casa vazia.
No dia de S. José, também chamado, Dia do Pai, pendurou o diploma, no espaço da parede onde antes estavam as fotos do seu filho a crescer. Não ia passar o dia com ele, porque este, estava na escola e depois tinha o treino de futebol, mais tarde tinha os tpc(s) e por conseguinte, não tinha tempo para jantar com ele, com um pouco de sorte, quem sabe, o filho tivesse tempo para lhe telefonar ou mandar uma sms.
Sentou-se no sofá em frente ao televisor, olhou pela milionésima vez para o telemóvel mudo. Pegou-lhe, marcou um número, do outro lado respondeu-lhe uma voz familiar, uma voz cada vez mais gasta pelos anos mas ainda cheia de carinho.
- Olá pai, telefonei-lhe para lhe desejar um bom dia e saber como tem passado.
- Olá filho, ainda bem que telefonaste, estava mesmo a pensar em ti, queres ir à pesca neste domingo? Levas o meu neto, faz tempo que não o vejo.
Era assim que lhe falava, sem cobranças, sem queixumes, com a mesma alegria de sempre, e com a mesma disponibilidade para estar com ele, para lhe ouvir as mágoas e oferece-lhe uma palavra de conforto. Não tinha diplomas, mas tinha a sabedoria da vida, essa sabedoria que cresce em quem tem tempo para estar com a família, para a conhecer, apoiar e sentir. Numa casa que não tinha muita riqueza mas tinha sempre vozes de alegria, conversando, partilhando e construindo um lar onde nada faltava, nem tempo para ser pai.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Post.it: Uma estrela contou-me

"Estava eu, pequena estrela, ainda aprendiz de como cintilar no universo, a tentar manter-me firme no meu quinhão de céu, quando, sabe-se lá porquê, deram-me ordem para nascer na terra. Tentei rebelar-me, mas em vão, porque nestas coisas dos deuses, não vale apena encetar qualquer género de discussão. 
E foi assim que me vi a gritar a plenos pulmões sem saber que isso era respirar, sem saber que isso era sobreviver. Perscrutante na senda da vida, lá fui superando as quedas, ultrapassando os obstáculos. Enquanto que habituada a brilhar, senti-me muitas vezes subjugada para a escuridão e aprendi a humildade que devemos sentir na relação que estabelecemos com os outros. 
Entendi que nem todos podemos ser estrelas e que por vezes só o somos porque os outros nos elevam a essa posição com o seu reconhecimento e carinho. Percebi ainda que brilhar só faz sentido quando a nossa luz serve para iluminar um caminho que parece indefinidamente escuro".  Sabe que agora, a pequena estrela de tudo o que aprendeu,  pode ser uma estrela cintilante ou apenas uma pedra,  porque não importa a forma, mas a função e a missão cumprida.
“Um dia regressarei. Confidenciou-me num suspiro, não de saudade pela partida, mas com a ansiedade do retorno. O regresso às origens, ao lugar onde  pertence, ao seu berço de vida.
 - Vais ver-me todos os dias? Pergunta-me num tom inquieto.
- Claro que sim. Respondo-lhe com prontidão.
- Aliás, estou sempre a olhar para as estrelas, sinto nelas algo de familiar, como se fossem a ligação de outros olhares que também as observam.
Dirige-me um olhar cintilante, daqueles que só uma estrela possui, e sorri, com um sorriso ingénuo de criança, daqueles que já nem mesmo as crianças detêm, porque o perdem demasiado cedo no precoce desencantamento da inocência.
- Então já percebi porque andas sempre a esbarrar com todos os postes. Estás sempre a olhar para nós, lá no céu.
- Que fazer quando o olhar tem asas que não conseguimos aprisionar, na esperança de que esse voar, um dia nos leve para um local onde queiramos permanecer indefinidamente...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Post.it: Cuidar do amar

Somos tão iguais e, simultaneamente tão diferentes. Completamo-nos, antagonizamo-nos. Somos mar e terra, sol e lua, somos homens e mulheres, somos seres humanos. Somos seres racionais, inteligentes e civilizados. E no entanto por vezes não somos nada disto, a desumanidade cresce em nós, a insensibilidade perante os que estão para além de nós, gera uma raiz de indiferença que cresce qual erva daninha germinando sem encontrar limites.
No entanto precisamos dos outros, tal como eles de nós, para nos sentirmos inteiros. Para encontrarmos o nosso equilíbrio, estabilidade emocional, o nosso ninho de pássaros cansados em busca de um poiso seguro, de um lar,  de um futuro edificado no amar, no partilhar.
Ficamos demasiadas vezes pela paixão, com medo de dar o passo em frente.  Porque nem sempre é fácil chegar ao cuidar. Mais do que uma questão de verbo, cuidar é o processo natural de apreender o amar. Não aprender, porque isso dizia-se no passado e muitas famílias cresceram e pereceram nessa espera. Amar é intrínseco à pessoa que na outra reconhece o encontro de vidas para a viver num só caminho. Mas mesmo esse caminho que desejaríamos sereno, nem sempre o conseguimos realizar. É necessário cuidar dele, alisá-lo, retirar-lhe as pedras que surgem aqui e ali, as ervas rebeldes que podem conduzir a uma escorregadia queda. É necessário cuidar, cuidar sempre, sem adiar, sem nos acomodarmos e ficarmos à espera de sermos simplesmente cuidados. Mas para cuidar é preciso “ter um coração grande, um coração que não encolhe quando o outro engorda, adoece, ou perde o fôlego”.
Quantas vezes caímos na atracção do que nos parece mais fácil, “saltitar”, para permanecer na paixão, nessa adrenalina que nos vicia, mas também cansa e angústia a cada começo, a cada final e, acabamos muitas vezes, demasiadas vezes, sós, sem ninguém de quem cuidar ou que cuide de nós.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O lugar dos segredos

Deixa-me revelar-te os segredos.
Onde escondo todos meus medos.
Deixa-me traduzi-los em palavras.
Para voarem como se tivessem asas.

Os que sufoquei no cume do universo.
Os que não escrevi em cada verso.
Aqueles que desenhei na espuma do mar.
Os que escondi nas sombras do luar.

Que delineei nas pétalas das flores.
Os que pintei de invisíveis cores.
Aqueles que te declarei com o olhar,
Sem os conseguir mais silenciar.

Todos os que escrevi no vento,
Para logo os apagar num lamento.
Aqueles que compus no azul celeste.
E que gelaram no frio do clima agreste.

São teus, porque tos quero oferecer,
São teus, de já perdidos no meu viver.

terça-feira, 13 de março de 2012

Post.it: No destino sem leme

“Navego à deriva porque me tiraram o leme”, por vezes sentimos que a nossa  vida navega sem sentido. Num rumo que não obedece à nossa vontade. Tentamos agarrar os remos, mas mesmo assim não conseguimos contrariar a corrente. Por vezes pensamos, podia ter sido diferente, ou talvez não.
 É impossível saber, como teria sido o destino se fosse conduzido unicamente pela nossa vontade. Umas vezes rebelamos--nos contra as forças contrárias, contra essa aceitação forçada que esse destino nos impões. Outras vezes, desistimos de lutar porque nos parece desde logo, uma batalha inglória.
Enquanto uma voz cada vez mais longínqua continua a dizer-nos, podia ter sido diferente.
Fizemos tudo o que devíamos? Fizemos tudo o que podíamos? Nunca se faz tudo, nem sequer o suficiente, mas reconfortamo-nos no mérito de termos tentado. Aos poucos vamo-nos consciencializando que não depende unicamente de nós, que na vida não podemos agir como solitárias ilhas, aliás, nem as ilhas mais isoladas estão completamente sós, têm o mar à sua volta, um mar que lhes determina os contornos, um mar que as invade tempestivamente ou as embala com o seu carinho.
Quanto a nós, navegamos, muitas vezes à deriva, porque nos tiraram o leme das mãos e nos desenham outro rumo. Mergulhamos em dúvidas, tão repletas de certezas. Poderíamos ter experimentado esse caminho aparentemente mais sereno, poderíamos ter construído, quem sabe, a felicidade…
Quanto a mim, reflicto, que podia fazer por cada vida que não quis acompanhar a minha? 
Apenas consolar-me, poderia ter sido diferente,  mas  não necessariamente melhor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Post.it: Embalo africano

Gosto de ouvir as histórias desta amiga de longa data, de longa memória. Gosto de saborear as suas recordações, de as sentir como se fosse minhas. São memórias que se vão desvanecendo no tempo, mas que ela conta ainda com o olhar cheio de brilho, como se os estivesse a viver e a sentir com o mesmo entusiasmo.
“Tenho lembranças esquecidas, ou melhor adormecidas, que despertam impulsionadas por instantes especiais. Como aquele momento único, aquele em que nasce um neto, algo só comparável ao nascimento dum filho, com a vantagem de que o podemos apreciar sem as dores do parto. É um momento vivido com ternura do início, desde a comunicação da notícia ao final, o encontro. A visualização daquele pequeno rosto, que desde logo nos deixa desde logo embevecidas de amor. Sinto como se reencontrasse na minha neta a filha renascida porque é a sua cópia fiel. Foi então  que me veio  à memória uma cena que já há muito tinha esquecido. Que aconteceu há muitos anos atrás, quando trabalhava nuns pais africano. Deixava a minha filha entregue aos cuidados duma empregada da casa. Lembro-me como se fosse hoje. Era tipicamente africana com uma cor bem escura que lhe dava um brilho especial. De sorriso permanente e um corpo sempre dançante enquanto desempenhava as suas tarefas. Um dia cheguei a casa, e encontrei-a na cozinha, estava a lavar a loiça, transportava nas costas a minha filha amarrada por panos coloridos. Lembro-me que era uma cena lindíssima, Shaira assim se chamava, dançava e cantava enquanto a minha filha, uma bebé loirinha de grandes olhos azuis sorria, divertida com o embalo. Fiquei a observar sem ser capaz de me mover. Gostava de ter registado a ocorrência, mas fiquei imóvel, com receio de quebrar o encanto. Naquele dia tal como hoje, enternece-me aquela imagem de unidade. De harmonia entre povos que embora culturalmente diferentes, conseguem realizar momentos de grande cumplicidade. E penso com saudade, (quem me dera que a minha neta conhecesse e crescesse com essa diversidade para aprender a amar cada povo e cada cultura)”.
Não preciso de fechar os olhos para visualizar tudo o que ela me diz, porque o descreve com tanta paixão, de repente estou em África, naquela cozinha, enquanto Shaira lava a loiça e embala a menina, embala-a nos mesmos panos traçados com que acalenta os seus filhos, e ambos são felizes e sorriem, porque sentem o mesmo amor que as aconchega, independente da cor da pele, dos meios económicos, da marca, sem marca comercial dos panos traçados.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Poemas tristes

“Nunca escreves poemas felizes”.
É o comentário que sempre dizes.
Fui reler cada linha mal esboçada,
Cada rima timidamente enunciada.

Talvez me digas algo de verdade.
Neste tom magoado de saudade.
Nesta demora por um infinito amor.
Que me dê à vida a renovada cor.

Como se uma eterna inquietação,
Não me despertasse uma paixão.
E nesta inexistência, neste vazio,
Neste viver sem atravessar o rio.

Escrevo com dormente ansiedade,
Desenhando no acalmar da idade,
Uma fina linha de quase nostalgia.
Que sem me roubar a parca alegria.

Deixa-me a alma só e tão desolada.
Que a  dor  surge  então desfiada.
Num vasto rosário de negras nuvens.
Que em todas as minhas viagens,

Procura neste longo e  eterno  voar,
Apenas a reciprocidade de um olhar.
Para encontrar as palavras felizes,
Que não escrevo, nem tu as dizes.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Post.it: Os dias da Mulher

Para quê celebrar apenas um dia, esquecendo todos os outros ao longo do ano?
Bem sei que esta data relembra e homenageia a coragem de grandes mulheres. Mulheres que saíram do silêncio, que adquiriram visibilidade e conquistaram direitos que quase não nos apercebemos de usufruir porque os sentimos como nossos desde sempre.
Mulheres que escreveram novos capítulos na história da humanidade, alterando-lhe o percurso relativamente às décadas anteriores.
Mas sempre fui anti-rótulos, anti-clubes. Celebrar o Dia da Mulher, soa-me um pouco a exclusivo, a uma barreira, a uma quase fronteira, como se todos os outros dias não nos pertencessem e nós, queremos todos, todos os dias que temos para viver num período de tempo que nos pertence.
Estamos aqui e pretendemos conquistar o nosso lugar ao sol. Claro que reconheço o mérito dessas mulheres que não se acomodaram, que quiseram ir muito além das regras estabelecidas, mas a verdade é que a civilização se faz essencialmente de pessoas anónimas. De mulheres que todos os dias constroem um pouco de futuro para si e para os filhos que colocam no mundo.
 O que nos deixa tristes  em muitas situações é esse mundo. Um mundo que não nos apoia, que não nos reconhece a luta. Que não cria estruturas para suavizar a dureza do caminho. Que nos arrasta pelas torrentes avassaladoras das crises económicas, sociais e politicas. Que nos marca culturalmente, que nos define como fracas anatómica e psicologicamente, quando somos nós que abraçamos esse mundo de desigualdades. Que esquece em suma que somos nós que geramos e criamos com dedicação e firme labor, os grandes líderes de cada nação,  reis e príncipes,  presidentes e ministros,  génios das ciências e das artes,  grandes figuras públicas e tantas outras  anónimas, sem olhar a distinções, sem criar excepções, porque o coração que nos bate no peito, não conhece género, apenas amor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Post.it: O mundo como o conhecíamos...

O mundo tal como o conhecíamos terminou, reconhecemos, a cada passo que damos, a cada olhar que lançamos em redor e dentro de nós. Não sei se é uma mudança boa que se avizinha, algo que tememos porque ainda estamos arreigados de saudosismos. Ou por recearmos que tudo à nossa volta se desmorone, as estruturas emocionais, os pilares sociais, o cais onde aportávamos quando tínhamos necessidade de o fazer.
O mundo tal como o conhecíamos terminou. Não, não vou deixar aqui queixumes sobre a crise, já muito foi dito, muitas lágrimas derramadas, muita tinta a descrever a situação, entrevistas, opiniões e pouco ou nada de soluções. Mas adiante.
Vivemos num mundo que não passa de uma aldeia global, une para o bem e para o mal nações que deixaram de conseguir ser donos do seu destino para estarem todos eles interligados.
E quanto mais ligados, mais dependentes, mais ausentes da dor alheia. Afinal quem consegue dividir a sua amizade com 3000 amigos virtuais? E quando se precisa de um real, haverá por aí um abraço disponível?
- Bom.. Diz-me uma amiga, daquelas que ainda partilham connosco um chá das 5. Não é fácil gerir tanta informação. Além disso temos que cuidar da quinta. Olhei-a com o mais puro olhar de ignorância. “Quinta? Tu tão orgulhosamente citadina, não te estou a ver envolvida em coisas campesinas”. Riu-se a bom rir. “Nada disso, estou a falar do jogo do facebook, o Famerville, onde temos que dar comer ao gado e cultivar os campos”.
Estranho este envolvimento em pessoas que já têm tanto que fazer, casa,  carreira e filhos. Como dizia outro dia uma amiga minha, “já não há tempo para pais e filhos dialogarem”. Nem entro nas questões de privacidade, porque cada um cede voluntariamente a sua, quase sem se aperceber.
Outra amiga deixou de me escrever  emails, para “me trocar” pelo facebook, bom lá vai telefonando de quando em vez quando, no intervalo das ordenhas, suponho.
Outro dia outra amiga escreveu num trabalho, “O futebol é um desgosto”, quando deveria escrever, “O futebol é um desporto”. Preocupada com a gaffe, não sabia como havia de a corrigir porque saiu  assim impressa. Amenizando a situação brinquei. – Olha, fugiu-te a boca para a verdade. Mas nos tempos que correm seria mais correcto dizer “ fugiu-te a tecla para a verdade”.
Porque o mundo tal como o conhecíamos terminou. Fica-nos a esperança de que cada mudança seja sempre para melhor, mesmo que no início nos deixe um pouco desnorteados.

terça-feira, 6 de março de 2012

Post.it: Dieta da felicidade

Quando a felicidade “engorda e emagrece”, o coração.
Concebemos desde sempre que a Felicidade é a plenitude de todas as boas sensações e realizações. Que se concretiza numa vida perfeita, partilhada com alguém perfeito e constituiriam uma família igualmente perfeita. Sonhos à parte, mas nunca desfeitos, vamos vivendo a amargura de uma procura, duma espera nunca alcançada. Até descobrirmos, mais tarde ou mais cedo, que a felicidade sempre nos  acompanhaou ao longo do tempo, pequena e discreta, esperançosa dum olhar amistoso sobre ela. Dum coração aberto para a aconchegar e cuidar.
Só então percebemos que “é melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera”.
Descobrimos como é bom chegar a casa cansada e encontrar tudo no mesmo sítio. Pegar no comando da tv e escolher o canal que nos apetece sem que esta fique monopolizada no  futebol ou num qualquer jogo electrónico.
Viajar de carro com a companhia das nossas músicas preferidas, cantar, dançar sem olhares críticos sobre nós.
Viver sem ter que estar permanentemente a negociar, decisões, gostos, desejos, horários, etc., ceder para ser conciliador, mas por vezes amargurados porque nem sempre é uma cedência unilateral
Descobrimos que estando bem connosco e em paz com o universo, estamos felizes...
Essa felicidade que poderia ser uma dieta quando saboreada a conta gotas, tem um gostinho especial, o das coisas boas e belas que podemos encontrar no nosso dia-a-dia. Porque a felicidade pode ser simplesmente:
A visualização serena de um por do sol. Um debruçar do olhar sobre o azul do mar. Um livro que nos leva para uma nova realidade. Uma conversa com amigos. O despontar de uma flor. Um passeio no despertar da manhã. Um silêncio para escutar os sons da natureza. A paz de cada despertar e de cada adormecer.
E sobretudo reconhecer que a felicidade:
Não depende dos outros mas de nós. Não está no exterior mas dentro do nosso ser.
Que não está nas grandes coisas mas sobretudo nas pequenas. Que não é feita de espera mas de conquista. Que não pode ser adiada mas vivida no instante em que surge. E sobretudo que está sempre esteve presente na nossa vida se a soubermos reconhecer.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Post.it: Papoila

Já tarda a Primavera, porque a sinto a dançar no meu peito em alvoraço,  quer voar, ser andorinha e anunciar o nascimento de cada flor que desperta radiante de luz.
Já tarda a Primavera que me transborda a alma de risos juvenis, com sons de expectativa por essa Primavera que tarda, quando procuro em cada recanto e não encontro ainda, vestígios de ti.
Os Malmequeres já apareceram, cheios de folhas para desfolhar amores que se fantasiam perfeitos. Os botões de Rosa já desabrocham perfumando o ar, até os, Cravos já querem espreitar para saber se é Abril, também eles querem florir.
Só tu tardas, Papoila, minha flor singela, aquela que renova sempre o promissor sonho de renascer do nada e dar ao solo mais agreste a ternura da tua existência.
Tardas em encher de cor o meu olhar, de redobrar a coragem, irromper contra as agruras do meio e impor serena e firme a certeza que define a linha do horizonte.
Porque és tu, Papoila de cor tão rubra, que em tom de festa me que inunda de Primavera o alento. És tu que ilumina o manso trigal e que no seu doce  ondular, dá um retoque de ternura ao vento, como se o vento te pudesse abraçar.
Papoila de cor escaldante, que de ti me tens cativa. O teu toque de seda, a  tua maciez aveludada, quase tacto de pele despida, quase chama que me desperta o sonhar à muito adormecido.
Dizem que como flor significas fragilidade, beleza efémera, deixando no ar a mensagem de que nada é eterno. Que enganosa pode ser a leitura sobre a tua presença. Para mim, és eterna porque sempre regressas, porque te cumpres numa perpétua Primavera.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Post.it: Enamoramento

Quando se fala de pequenos momentos, de pequenas coisas, fica a sensação de uma insignificância que não merece, uma letra da nossa escrita. Que não vale a dispensa de um neurónio de pensamento, uma célula de vida, uma molécula de atenção, um átomo da nossa esperança, um nano de sorriso, sequer.
Porque foi um só momento, um breve momento, em que entrou na sua vida e não quis nela permanecer mais tempo do que isso. E esse momento que sendo tão curto, podia não ter significado nada, significou muito. Porque todas as letras se juntaram para lhe falar de amor. Porque aquele neurónio lhe dedicou doces pensamentos. Porque cada molécula criou uma corrente de paixões. Porque uma célula, uma simples célula fez-lhe estremecer o coração. Então, esse átomo de esperança a fez sonhar de olhos bem abertos e um nano sorriso cresceu no seu rosto, como se a lua se tivesse desenhado nele. Porque o sol lhe prometeu mais do que um adeus, uma eterna permanência. Eterna como um momento que não se contabiliza em horas, minutos, nem segundos, mas na definição daquele abraço, no calor que se mantêm, mesmo depois da partida.
Fica, o que se escreveu, fica o que se deu, cada pensamento, cada pedacinho de vida a seu lado sentida. Fica um coração que já bateu ao mesmo ritmo de outro. Fica a lembrança daquele sorriso. Fica por dentro, a correr-lhe nas veias uma célula que baptizou com o seu nome. E na alma a mais perene lembrança, daquele momento.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Demasiado jovem

Ainda és demasiado jovem
Para saber que a vida se faz de fracassos e vitórias.
Para somar apenas as mágoas em vez das alegrias.
Para olhar o passado e esquecer de lutar pelo futuro.
Para perceber a importância dos instantes de felicidade
Para divagar o olhar no horizonte sem a prisão do relógio.
Para entender que só o tempo nos ensina a viver.
Para não preciso fazer tudo agora, aprender tudo hoje.
Para olhar no espelho e ver no rosto mapas de vivências.
Ainda és demasiado jovem
Para  não celebrar o presente dos anos, as lições da vida.
Para não receber de olhos bem despertos o nascer do sol.
Para temer o futuro que se deve  encarar como um desafio.
Para não beber dum só fôlego todo o azul do céu.
Para não subir a correr as montanhas da conquista.
Para não deixar correr livremente o rio da inspiração.
Para controlar os fortes ímpetos do coração.
Ainda és demasiado jovem
Para saber que cada momento não se repetirá.
Que se deve viver com a surpresa da revelação.
Que não se é eternamente “demasiado jovem”.
Mas que se pode ser "para sempre jovem",
Se de tudo o que se aprender, guardar-se um sorriso.