sexta-feira, 29 de julho de 2011

Livro


Esse que guardas na estante
Esse que esqueceste de ler
Se olhares, verás, lá estarei,
Mas se um dia me folheares,
Voarás nas minhas asas.
Em folhas de encantamento,
Momentos do meu sonho.
Ensejos da nossa fantasia.
Por esse mundo partilhado,
Por um universo revelado.
Amores que te contarei,
Todos com finais felizes.
Porque a dor já basta,
Na realidade em que vives.
Serei a tua doce companhia
O embalo do teu final de dia
Mas se me esqueceres,
Sabe, que aqui continuarei.
Com as asas fechadas
E sem conseguir voar…


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Post.it: Não quero ser adulta!

Nunca compreendi os adultos, nunca entendi as suas permanentes angústias, lutas e derrotas. Por isso jurei que quando crescesse nunca me iria tornar adulta. Já sinto os raciocínios a agitarem-se ao ler isto e a esboçarem um sorriso de reconhecimento entre esta minha decisão e a atitude dos adolescentes tardios de muitos adulto desta nossa geração. Mas não é esse o sentido que foi a minha decisão, porque sempre admiti a necessidade de se ser responsável, organizado, coerente, civilizado e humano nesta sociedade de comuns direitos e deveres.
Insurgi-me sobre o ser adulto na sua faceta egoísta de disputas vãs. De casamentos em que assinam um contrato sem aptidão para lhes respeitar os termos. Da educação que não conseguem passar aos filhos, valores que não lhes ensinam, talvez porque também não os conheçam. Das rivalidades nos empregos. Das quezílias entre vizinhos ou entre amigos que se revelam pouco amigos.
E sobretudo por perderem a capacidade de se surpreenderam, de se extasiarem com um pôr-do-sol, ou com aquela sensação de rolar na relva, de ficar deitada tentando adivinhar que figuras desenham as nuvens no céu, ou ainda de correr num imenso campo de girassóis.
Um dia, porque há sempre um dia, num momento em que somos obrigados a questionarmo-nos sobre o que nos tornámos, como temos crescido e agido, quando olhamos em redor e não gostamos da nossa realidade, da nossa vida. Recordamos, o que pensávamos sobre os adultos que nos antecederam. Que jurámos nunca imitar, nem seguir-lhes as pegadas. Afinal acabámos por “calçar-lhes os sapatos”. Não por admiração, mas porque não resistimos à tentação de nos acomodarmos e algures no nosso percurso de crescimento esquecemos as nossas promessas. 
Numa tradução adaptada, recordo uma velha canção “Algures por baixo do arco-íris existe um lugar onde a felicidade pode habitar se te atreveres a sonhar”.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Post.it: Ecos

Procuramos ecos que nos prolonguem, que nos eternizem. Que ultrapassem a nossa finitude e nos elevem para o espaço sideral. Procuramos ecos no que somos, no que fazemos, no que damos. Porque o eco é a confirmação de que conseguimos chegar, de que conseguimos tocar, de que conseguimos entrar e quem sabe, permanecer.
Ecos de sons levados pelo vento mesmo quando são ressonância de lamentos. Ecos de luz, de cor, no desejo de se estender para lá do arco-íris. Ecos de voz que chama e clama por outra voz que a si retorne. Que o adorne de palavras que ecoem dentro do peito. Num doce chamado, que o longe responde e que nele se  esconde. Não sei se brinca, se mente ou apenas intenta. Quando à pergunta feita, aceita ou rejeita, na resposta que me alenta e inquieta. Faço silêncio, escuto com atenção. Palavras que são as minhas, palavras que voltam sozinhas. Nunca foram reflexão, apenas repetição, ecos do coração.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Post.it: A direcção do olhar

Há quem seja feito de passado. Viva de histórias guardadas a que chama recordações. Há quem caminhe sem sair do mesmo lugar. Passam os dias, passam os anos, e um dia quando o final se aproxima de si, não o aceita porque não caminhou para ele. Então dá-se conta que não tendo passado pelo tempo, o tempo, passou por si. Não adianta negar, não adianta parar o tempo só porque nós parámos, ele prossegue alheio à nossa vontade. Passa como se tivesse asas de vento. E quando reclamamos da sua rapidez. Responde-nos com altivez , - O tempo é igual para todos, uns vivem-no com o olhar preso no que passou, na infelicidade que viveram, outros têm o olhar apontado para o futuro, aproveitam cada instante para procurar a felicidade que ainda não alcançaram. 
E porque o tempo continua a passar, não se esqueçam de escolher a direcção do vosso olhar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Post.it: Promete-me

Promete-me que serás diferente. Que lutarás por aquilo em que acreditas. Que não desistirás até atingires a meta. Que superarás todos os obstáculos. Que te levantarás todas as vezes que caíres. Que não te acomodarás só porque é difícil. Que não te deixarás ir na corrente só porque é mais fácil. Que não te deixarás convencer a ser assim, só porque todos o são. Que saberás dizer não quando for necessário, mesmo quando te implorarem um sim. Promete-me que não te tornarás indiferente ao mundo em que vives. Que não lhe virarás as costas só porque não é bonito. Que o enfrentarás mesmo que te magoe. Que não te desculparás com a falta de tempo e arranjarás força de vontade para cuidar dele.
Promete-me que não sufocarás a tua consciência só para não a ouvires chamar-te à realidade.
Promete-me que não te deixarás dominar pela inveja. Que não entrarás em rivalidades só para subires na vida.
Promete-me que serás gentil com os mais fracos e compreensivo com os que se julgam mais fortes. Que darás a mão a quem precisar dela para se apoiar. Que calarás os teus problemas para escutar quem os tem muito maiores. Que não sobrevalorizarás a tua dor perante a dor dos outros.
Promete-me que farás tudo para teres orgulho em quem és. E que um dia, daqui a muitos anos, olhes para trás e sintas que mesmo não tendo tudo, tens aquilo que conquistaste com o teu esforço. E se tiveres perdido muitas batalhas sabe que venceste a guerra, a tentação de ser apenas mais um, igual a todos os outros. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eterno devaneio

Dá-me o hoje, o agora,
Aquele breve instante.
Em que a última estrela
Já se vai embora,
e o dia bate radiante,
na vidraça da tua janela.

Dá-me um último beijo.
Não lhe chames o primeiro,
Muitos te dei em devaneio,
Quando à noite a navegar,
Por sonhos de marinheiro,
Não conseguia despertar.

E então viajava pelo teu ser
E dele fazia o meu lar.
Tornando-te o meu mundo,
Onde me queria perder
Para então me encontrar
Nesse milésimo de segundo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Post.it: Medos

Tenho medo que a vida passe por mim e não a viva.
Que o amor passe por mim e não se detenha. Que a Primavera se encha de flores e não as veja. Que o sol amanheça e não me aqueça. Que o mar me estenda uma onda e não mergulhe nela. Que a noite venha e não me adormeça. Que a madrugada se anuncie e não me desperte. Que o vento sopre em meu redor e não o sinta. Que a chuva caia sem me refrescar. Que tudo aconteça e que nada me aconteça.
Porque estava distraída. Porque buscava o certo no lugar errado. Somos as escolhas que fazemos, somos o futuro que construímos. Tudo nos foi oferecido, esteve nas nossas mãos. Deixámos partir, deixámos voar, deixámos acabar sem começar. Desistimos antes de lutar, ou lutámos pelas coisas erradas com receio de nunca encontrarmos as certas. Porém resta-nos sempre a possibilidade de enquanto aqui estivermos possamos mudar a nossa história. Escrever-lhe um novo capítulo. Acrescentar-lhe um anexo. Podemos trocar o medo pela coragem.

Era uma vez: Tempo de mais

“Tu sorrias e falavas comigo sobre nada e eu sentia que, por isso, tinha esperado tempo de mais!” (R. Tagore)
Descobriu esta frase num daqueles livros de pensamentos sobre temas etéreos como a amizade e o amor. Tocou-lhe porque era exactamente isso que sentia. Quando a encontrou, a primeira coisa que viu foi o seu olhar. Seguiu esse olhar como se tivesse encontrado um lugar conhecido. Viu-a e quis abraçá-la! Pensou que era tolice, pois nem a conhecia! Mas cumprimentou-a, deu-se a conhecer, descobriu o seu nome, soube quem era e o seu coração ficou aí, nesse lugar conhecido que passou a ser o seu.
Ao ler esta frase de Tagore percebeu: toda a vida tinha esperado por ela. Uma espera de tempo a mais! Por isso, assim que sentiu o seu olhar, reconheceu-a e ela passou a ser o seu tempo e o seu lugar!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Post.it: Bastam algumas gotas

Porque o assunto geral é a crise. Que entrou nas nossas vidas, de uma forma mais ou menos agressiva. Que prometeu ser provisória mas que  ameaça permanecer por tempo indefinido. Que nos prometeu ser pequena e pouco incomodativa mas tende a dilatar-se pelos quatro cantos da nossa existência, limitando as nossas vontades, desejos e sonhos. Questionamos esses limites, queremos conhecer os passos que podemos dar. Entretanto vamos cortando aqui e ali, para diminuir a nossa crise. A angústia cresce cada vez mais em nós como se fosse uma nuvem que ameaça tornar-se um nevoeiro que nos rouba o brilho do sol, então recolhemo-nos numa mágoa que não conseguimos retribuir aos culpados, porque os desconhecemos, porque tememos que em parte tenhamos sido nós, com gastos inconscientes. Afastamo-nos, fechamo-nos, silenciamos o sentir. No entanto esta crise não pode gerar uma outra crise, a de falta de entreajuda, de solidariedade e de amizade, quando para isso bastam algumas gotas:
- Gotas de perdão para quem nos magoa sem o perceber.
- Gotas de carinho para quem necessita dele.
- Gotas de amor para que este nunca sucumba.
- Gostas de afecto por todos aqueles que se cruzam connosco.
- Gotas de paciência para com aqueles que têm uma perspectiva diferente da nossa.
- Gotas de tempo para oferecer a quem necessita de contar com o nosso apoio.
- Gotas de silêncio para saber escutar o desabafo dum amigo.
- Gotas de amizade para a repartir por todos em nosso redor.
- Gotas de justiça para não incorrer em erro.
- Gotas de humildade para reconhecer o nosso engano.
- Gotas de alegria para repartir por quem a perdeu
- Gotas de ânimo para construir a felicidade.
Porque mesmo sendo pequenas, todas as gotas juntas, constituem um vasto oceano.

Era uma vez: o "vagabundo"

Andava pelas ruas da pequena cidade, à beira-mar. Parecia ter sempre um destino certo, mas nunca ninguém o viu chegar a nenhum lugar concreto, pois caminhava, caminhava e raramente parava. Aparecera há pouco tempo na cidade e ninguém conseguira descobrir donde vinha nem ao que viera, muito menos dizer a sua idade ou conhecer o seu nome. Começaram a falar dele como o “vagabundo”, não só pelo seu caminhar incessante, mas também pelas suas roupas muito usadas e pelos sapatos gastos e sem atacadores. Apesar do seu aspecto limpo e do olhar lúcido, a alcunha pegou.
Quando ouviu falar dele, Joana sentiu-se diferente, como se algo novo tivesse nascido dentro dela. E desejou conhecê-lo. Sentia-se presa, como se tivesse caído num buraco da vida onde acabara por se refugiar segura, no seu trabalho e na sua casa. Queria mais, mas tinha medo e não sabia como alcançá-lo. Passou a olhar para todos os homens, na esperança de que algum fosse ele. Nesse fim de tarde, passeava na rua larga, à beira mar e viu-o, ao longe, a caminhar na praia com os pés na água. Soube que era ele Quis vê-lo cara a cara e desceu à praia. Transpôs o areal e começou a caminhar em direcção ao “vagabundo” também com os pés na água. Joana reparou na sombra que o acompanhava, muito alongada, devido ao sol já baixo, também em passo decidido e ritmado. Quando se encontrava já próxima, Joana ficou impressionada e parou.
A expressão do “vagabundo” era a de alguém que vivera desde sempre e transportava no coração e na mente recordações e saberes que ninguém mais guardava ou sequer adivinhava e o seu olhar parecia ter a idade do mundo e poder ver coisas que ninguém mais via. Mas, o corpo direito e quase esquelético, o rosto levantado e o andar firme davam a sensação de ser ainda jovem e de esperar tudo da vida e dos outros.
Ela ficou a olhá-lo, de coração inquieto Conheceria ele o lugar onde ela estava, as resposta que ela procurava? Poderia ele ajudá-la, acalmar nela a inquietação e o medo de descobrir a respostas para ela?
O homem aproximava-se sem alterar o ritmo do passo nem a direcção do olhar. Passou por Joana, que permaneceu parada, seguindo-o com o olhar e ainda a pensar se ele saberia responder-lhe e perguntando a si própria “será que não me viu ou apenas me ignorou?”
Como se tivesse ouvido a pergunta silenciosa, ele parou e voltou-se. Fixou o seu olhar no dela. Não disse nada. Olhou-a apenas, intensa e demoradamente. Foi como se lesse os seus pensamentos e compreendesse toda a inquietude que lhe ia na alma.
Com grande surpresa e um pouco assustada, Joana sentiu que o estranho se preparava para falar.
- Vi-te, obviamente, estavas mesmo à minha frente e não tiravas os olhos de mim.
A sua voz soou límpida e clara, macia e aconchegante, serena e cheia de uma força que também transparecia no olhar profundo, brilhante e meigo.
Joana não chegou a assustar-se. Pelo contrário, aquela voz serenou-a por dentro e ela sentiu-se como se tivesse chegado a um lugar conhecido, confortável e seguro.
- A inquietação e o medo que trazes contigo não vão desaparecer de um momento para outro e não sou eu nem ninguém que te vai ajudar a resolver ou a descobrir as respostas que procuras. Só tu o podes fazer.
Sem se dar conta, Joana quase gritou:
- Como?
- Com serenidade, vontade e esperança!
- E como as encontro?
- Dentro de ti e em algumas pessoas.
- Como tu?
- Como todos os que sabem ouvir o coração e criam pensamentos de verdade e paz. Esses sabem sempre onde buscar e que caminho seguir porque seguem a verdade do que são e do que sentem e agem de acordo com ela.
- Mas eu não sei qual é a minha verdade: o meu coração quer uma coisa e eu quero outra.
- O coração é sempre verdadeiro. A mente é mais habilidosa, sabe encontrar desculpas e explicações. A verdade está no coração – o que sentes é verdadeiro.
- Como sabes o que sinto?
- Porque estás inquieta e pensas que não sabes o que fazer. Mas o teu coração já to disse, tu é que não queres acreditar e refugias-te no teu silêncio, escondida da verdade que está dentro de ti.
- É mais seguro.
- Será? Só tu podes seguir o teu coração. Também podes ficar, calá-lo e lamentar para sempre não o teres seguido.
- Mas é tão longe onde ele me quer levar!
- Sim. Os outros são sempre longe! É preciso sair de nós e essa é uma viagem difícil de fazer!
- Tenho medo!
- Nunca tenhas medo do coração. Ele é verdadeiro.
- Segues sempre o teu coração?
- Sigo.
- Foi ele que te trouxe até aqui?
- Trouxe-me a ti.
- És um anjo?
- Segue a verdade do teu coração. Confia e terás a coragem de ir onde ele te quer levar.
Voltou-se e partiu.
Joana ficou imóvel a vê-lo desaparecer na praia deserta, com a sua sombra cada vez mais comprida e ténue. Estranhamente, sentiu-se tranquila e liberta.
Ninguém mais o viu na cidade e, mesmo sem saberem quem era, sentiram a falta do homem que parecia trazer a eternidade consigo. Ficou apenas a lembrança do seu contínuo caminhar e do seu olhar. No coração de Joana, ficou a paz daquele encontro e quem a conhecia descobriu nela uma nova luz. Por isso, ninguém estranhou quando fechou o consultório e partiu, dizendo que, do outro lado do mundo, “os outros esperavam por ela.”


terça-feira, 19 de julho de 2011

Post.it: O que a gramática não diz

Podes dominar as regras gramaticais, ser exímio em ortografia ou até possuíres a mais bela caligrafia. Mas de que serve tanta teoria, tanta técnica, se não conseguires escrever algo que chegue ao coração do teu interlocutor?
Serão os verbos capazes de amparar uma lágrima que teima em deslizar? Poderão os adjectivos só por si dar ânimo a quem precisa duma palavra amiga? Será que os nomes ou pronomes chegam para preencher o vazio de uma alma?
Quantas vogais e consoantes  perdem-se à deriva num  rio de frases, em busca dum caminho para acalmar as emoções. E acabam tantas vezes por se tornar apenas barbarismos, sejam eles anglicismos, galicismos, italianismos ou outras importações de palavras que os eruditos exibem com a vaidade de quem conhece todos os arcaísmos e neologismos.
 Quando o que a humanidade necessita é de encontrar nas palavras despretensiosas, nas simples proposições, no após a dor causada, quem sabe, a humildade de um perdão. Com a delicadeza de quem cuida, de quem ama o seu semelhante.
Mas a escrita cada vez mais uma arma em vez de um abraço, espraia-se em debates contra as banais convenções, éticas e xenofóbicas.
Outros há, que quais pintores de abstraccionismo, compõem versos de poesia ausente. Deslizam pela escrita em escorreitas figuras de estilo. E ao seu estilo embalam, mas não respondem, nem tão pouco correspondem com uma palavra gentílica, que traga a solução.
Quanto a mim, adepta da comunicação, mergulho sem medo em águas onde mal sei nadar. Apenas para te escrever, o que na ignorância do meu saber, o meu coração de carinho te pode oferecer.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Post.it: O que nos diz a natureza

A oliveira mais antiga de Portugal - Santa Iria, Loures
 Devíamos aprender com a natureza as lições que ela te ensina a cada passo. Olhar em redor, ela está lá, mostrando-nos que é possível ultrapassar todos os obstáculos, sobreviver às intempéries da vida. Devíamos caminhar devagar, absorver o ar que a brisa nos oferece. Sentir os passos palmilhando o caminho, essa terra que se estende como um tapete para atenuar a dureza do percurso. Observar as árvores, admira-las na sua firmeza, aparentemente mais frágil do que a rocha, no entanto mais forte, porque luta contra os elementos, porque vence a adversidade, porque se reforça a cada luta, a cada obstáculo. Pousar o nosso olhar naquela oliveira milenar (2850 anos), admirar a sua coragem, a sua permanência. Que histórias contam as suas raízes sobre as entranhas da terra. Que nos contam os seus ramos sobre as viagens da nuvens, das aves migratórias, dos pôr-do-sol que já viu, dos invernos que lhe gelaram a alma, dos verões que a fizeram rejubilar. Aceitemos a sua lição de existência, de solidariedade e de apoio, de partilha e de entreajuda. Admiremos a sua capacidade de sobrevivência e de perseverança. Apreciemos os seus ramos erguidos, braços de luta que não se deixam derrotar ao primeiro embate. Quanto nos falta engrandecer para ter espírito de árvore.


As árvores, a terra e o sol exauram.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem
Com o vento soltam ais como se suspirassem
E gemem, mas a queixa não é sua. (A. Gedeão)

                  “Como as árvores fortes envelhecem,
                    Na glória da alegria e da bondade
                    Agasalhando os pássaros nos ramos,
                    Dando sombra e consolo aos que padecem!” (Olavo Bilac)

                                              A árvore é uma habitação perdida e encontrada
                                              Na sombra de uma árvore. o tempo já não é o tempo
                                              Mas a magia de um instante que começa sem  fim
                                              A árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
                                              E de sombras interiores (Ramos Rosa)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Neste lugar

Não preciso ver-te
Para saber que estás aí.
Não preciso tocar-te,
para sentir o teu ser.
Não preciso ouvir-te,
para saber o sentes.
Basta-me saber que existes.
Que estás aqui para mim.
Que acordamos no mesmo sol.
Adormecemos no mesmo luar.
Que sonhamos sonhos idênticos.
Que travamos as nossas lutas
E construímos os nossos castelos.

Que existimos,
Que oferecemos,
Que partilhamos,
Que crescemos,
Num lugar chamado,
Coração.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Post.it: Peregrino

Rosto moreno, esboço de trilhos vincados na face. Descreveria facilmente o cansaço do tempo, na curvatura do corpo. Como se estivesse debruçado sobre os anos. Os anos que doeram ao passar. Não pela lentidão ou rapidez dessa passagem, mas pelo que lhe roubaram das expectativas que trazia. Diz em jeito de gracejo, que anda à procura dos anos que perdeu algures por onde passou.
Mas o seu olhar brilha como se um raiar do sol espreitasse por eles. A sua idade é uma incógnita, que não esconde nem evidencia. Deixou de os somar cronologicamente para os narrar em momentos vividos, em momentos sentidos e continuamente recordados.
Caminhos, conhece muitos. Quanta estrada, quanto pó, quanta chuva e vento. Mas sempre com um sorriso, sempre com renovado alento. Neste seu percurso de peregrino segue a sua missão. Essa legação que aceitou propagar por pela senda da vida, vestiu as dores alheias, calçou os seus destinos, caminhou a seu lado sem saber onde esse caminho o levaria. Deu liberdade aos seus passos. Mas quantas vezes parou nos seus cansaços. Descansou sem ter abraços. Questionou céu, indagou o mar.  Para voltar a prosseguir por onde o destino lhe indicou. Entendeu por fim para onde ia. - Nunca a estrada estará acabada, cada trilho leva a uma nova jornada. Murmura numa voz esvaída de timbre. Transporta o pesado fardo da vida, aliviado pela força da fé. Quem o vê seguir estrada fora, sente que passa e que ao passar permanece.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Post.it: Educação

Estava eu mergulhada na minha leitura quando fui bruscamente interrompida. Ergui o olhar meio incrédula. Quem chegava trazendo consigo tal multidão de sons? A minha amiga já famosa neste espaço de escrita, claro.
- Não sabes o que me aconteceu.
Suspirei em silêncio. Adivinhando mais uma das suas muitas desventuras. Mas como amiga é para essas coisas, ofereci-lhe toda a minha atenção.
- Imagina que me bateram no carro! Já ia atrasada para a minha aula de ginástica, saí da garagem e dei de caras com um fulano que passava em excesso de velocidade, é que ele nem me viu de tão acelerado que estava! E depois ainda disse que a culpa era minha porque vinha a sair duma garagem. Claro que eu sei o código e reconheço a sua prioridade, mas não reconheço é a sua falta de educação. Chegou a pé de mim e disse “mulher ao volante, perigo constante”
Olha subiram-me uns calores, passei-me,  girei a baina e preguei-lhe um sermão daqueles que ele acabou por declarar-se culpado porque ia distraído ao telemóvel. Ora não querem lá ver, o raça do homem que ainda nem um palmo da cara tinha, já se armava em machão?!
Não suporto tal coisa, tu sabes que eu sou uma pessoa calma e polida, mas não tolero machismo.
Deu-me vontade de rir, mas não me atrevi. Confesso que certas atitudes também me fazem sair do sério. A razão é algo muito relativo, cada um defende a sua. E as leis são na maior parte dos casos meramente interpretações que cada um usa a seu jeito. Claro que há regras e a fundamental, penso, é a educação.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Início

É preciso confiar,
É preciso cuidar.
É preciso amar.
É preciso acreditar.
Pegar na mão,
Recebendo com carinho.
Oferecendo o coração,
O mais seguro ninho.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Post.it: Aquela boneca triste

Fiquei prisioneira daquele olhar triste. Ela que estava igualmente prisioneira naquela montra. Tornou-se o seu lar enquanto espera por mãos que a abracem, que lhe acariciem a dor, a solidão, que lhe embalem a mágoa. Mas que tristeza é essa que carrega consigo?  Afinal todas as bonecas têm expressões alegres, são feitas para divertir e embalar as infâncias felizes. No entanto, aquela boneca triste nega-se a olhar-me, como se estivesse em si escondida uma nostalgia longínqua. Imagino as mãos que a  moldaram, que lhe pintaram a tristeza nos olhos. Os lábios silenciosos calam, sabe-se lá que segredos. Quem lhe terá roubado o sorriso? Quem lhe terá  roubado a infância, os sonhos de crescer envolvida em ternura?
Acaricio-a com o olhar através do vidro da montra, quem me dera devolver-lhe o sorriso e o desejo de ser feliz. Quem sabe se o meu ensejo mais profundo conseguiria chegar até às mãos de quem a criou e a tornou  num corpo de pano, rosto de borracha misturado com o sal de lágrimas, duma dor que não conta, mas revela subtilmente nas bonecas que cria e oferece ao mundo, com a mensagem implícita: Deixem as crianças crescerem felizes, não lhes roubem a infância porque esta nunca mais regressa.
Há histórias com final feliz e esta é uma delas, a boneca triste já encontrou  um novo lar. Encontrou mãos que a abraçam. Uma alma gentil que cuida dela com carinho, que lhe devolve o sorriso. Claro que nós não o podemos ver mas sabemos que  ele está lá.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Era uma vez: No reino mágico das fadas - o despertar (fim)

Olhou uma vez mais a paisagem. A luz da manhã acabada de raiar enchia o ar de tonalidades difusas e suaves, realçando os verdes do arvoredo e dos prados e fazendo cintilar as águas serenas e brilhantes do rio que percorria a planície, tornando-a húmida e a frescura. Toda a Natureza começava a acordar, parecendo desejar um bom dia à princesa. A brisa matinal fazia cantar árvores, arbustos e até as rochas que ponteavam a paisagem, as variadas espécies de aves cantavam, parecendo conversar entre si, num desafio de pios e trinados a muitas vozes, até os insectos e répteis se ouviam no seu movimento por entre pedras e ervas baixas. Lá longe, as montanhas douradas pareciam aconchegar toda a planície, num abraço protector.
A princesa conhecia cada pormenor desta paisagem que olhara vezes sem conta e na qual, em cada dia, descobrira novo encanto. A custo, desviou o olhar e voltou à penumbra da sala que a acolhera durante o seu longo exílio. Procurou sentido em tudo e voltou a observar a enorme porta de madeira repleta de apontamentos das suas recordações. Sentou-se no cadeirão maior, onde tantas vezes se sentara e adormecera. Deitou-se e deixou a sua mente descansar e o corpo relaxar. Sentiu-se a adormecer, mas não se importou. Tinha tempo.
Parecia-lhe que acabara de adormecer, quando ouviu uma voz distante que mal compreendia: “Clara, Clara. Estás a ouvir-me? Ainda estás aí?”
Não percebeu o sentido do que a voz longínqua dizia e prestou mais atenção. A voz tornou-se mais perceptível: “Tenho saudades de te ouvir! Queria tanto que ainda estivesses aí!”
Marbel ficou ainda mais intrigada e, vagamente, soube que falavam com ela, apesar do nome. Um nome que nunca ouvira mas que lhe parecia estranhamente familiar. Esforçou-se por ouvir melhor. A voz, sabia que já a ouvira. Mas, onde? “Clara, meu amor. Sei que não me ouves, mas eu continuo aqui, à tua espera. Faz hoje 100 dias que aqui estás, calada e desligada de tudo. Mas eu não vou desistir de ti!”
Marbel, mais que ouvir, sentiu aquela voz e reconheceu o carinho e a sensação de bem-estar que ela lhe provocava. Apercebeu-se lentamente de outra mão que tocava a sua, em suaves massagens. Inquietou-se e pensou que estava a sonhar. Quis acordar e voltar à janela, apeteceu-lhe voar em direcção ao céu, percorrer a planície e subir às montanhas douradas, planar sobre o lago das mil cores e pisar a ponte de água sólida e azul fundo. Mas, por alguma razão, sentia-se imobilizada, com uma estranha sensação de entorpecimento e de distância em relação à realidade. E a voz continuava lá, as mãos (agora eram duas) apertavam a sua, carinhosamente. “Às vezes, penso que ouves, quero acreditar que ainda estás aí. Quem me dera que acordasses! Quem me dera que aquele estúpido acidente não tivesse acontecido!”
Marbel olhava em redor. A sala estava vazia e, sem perceber como, tinha-se tornado fria e as inscrições da porta tinham desaparecido. A janela parecia mais longe e estava a ficar escuro. Como, se era manhã? Acidente? A voz falava acidente? Será que se referia à travessia do lago e à prisão e rapto que sofrera na ilha? Mas isso fora há tanto tempo e tudo se resolvera!
Desejou que a sua mãe e Ornix chegassem depressa. Pareceu-lhe ouvir os seus passos. A porta abriu-se e eles entraram, mas parecia que não a viam. Só olhavam um para o outro, sorriam, abraçavam-se e beijavam-se, como se estivessem sós. Quis gritar: “Eu estou aqui!” Mas a boca não lhe obedeceu. Porém, a mãe olhou-a e sorriu-lhe e inundou-a com aquele seu olhar cheio de luz e esperança. Disse-lhe adeus e foi-se embora com Ornix, deixando a sua luz na sala. Tentou levantar-se e segui-la. O grito “mãe” morreu nos seus lábios. Sentiu-se perdida. Agarrou-se à voz.
“Clara, meu amor, quem me dera que te decidisses a voltar”. Reconheceu claramente a voz que continuava a dirigir-se a ela com ternura e a imagem de um rosto ganhou vida na sua mente. A luz continuava a encher a sala, apesar da mãe ter partido e, a pouco e pouco, foi descobrindo que já não era a mesma sala. Só um clarão e uma superfície lisa e branca com um candeeiro que iluminava tudo.
“Clara, abriste os olhos! Vê, sou eu!”
Conheceu a voz e identificou o rosto. Na sua mente foram surgindo flashes de memória: uma notícia – qualquer coisa de crise e corrupção no governo; um embate estrondoso e uma dor lancinante; muito barulho e gritos e sirenes; e uma viagem em que voava sozinha sobre a água. E o reino mágico? A ilha? O lago? A rainha Amada? As montanhas douradas? Quis voltar para o seu aposento de exílio, para as recordações gravadas na porta de madeira, mas não as encontrou, perdera o caminho! Sentiu-se perdida e assustada. Fechou os olhos para fugir à intensidade da luz e esconder-se em si própria. Mas a voz continuava lá, só a voz. As mãos tinham desaparecido. “Doutor! Venha. A Clara abriu os olhos e mexeu-se! Doutor!”
“Clara?” Na sua mente surgiu outra recordação – a imagem de Clara. “Eu sou a Clara!” Os flashes de memória voltaram, desta vez com mais sequência e sentido. Tivera um acidente e sentira que ia morrer. Mas não! Apenas fora para o reino mágico! Compreendeu: fora um sonho – um sonho muito comprido! E bom. Abriu os olhos e olhou em redor, estava num quarto de hospital.
A voz voltou: “Clara! Voltaste!”. Não era uma voz – era a outra metade de si! Apareceu tudo em catadupa, as lembranças, o sentimento e … o medo. Fechou os olhos, assustada com a realidade, e pensou: “Sou eu! Eu sou a Clara! Estou doente? Estive a dormir?” A palavra “coma” veio-lhe ao pensamento. Voltou a sentir medo. Deixou-se embalar pela voz e afagar pelas mãos que tinham voltado. Reconheceu o toque, ficou comovida com ele e com a voz doce e terna: “Meu amor, volta. Não me fujas outra vez!”
Compreendeu e aceitou. Abriu os olhos, ao mesmo tempo que as palavras lhe nasciam no coração e a boca as deixava sair, com esforço: “Voltei e vou ficar! Meu amor!”.
Anos mais tarde, recordavam aquela manhã do despertar e, num abraço confortável e carinhoso, observavam a planície, onde corria um rio, nascido nas montanhas que se avistavam ao longe. Clara não quisera perder completamente o reino unido das fadas e dos seres brilhantes e, por isso, tinham vindo morar ali, naquela casa afastada da cidade.
Muitas vezes falavam desse reino e de como seria bom que, neste nosso mundo, os responsáveis políticos tivessem a sabedoria da rainha Amada e de Ornix! Muitas vezes pensaram em escrever a história e publicá-la. Quem sabe, faria alguma diferença! Chegaram a escrevê-la, mas nunca a publicaram – era um reino perfeito de mais para alguém acreditar!
………….
Fim

Dentro de mim

Dentro de mim tem rio.
Dentro do rio tem água,
Que corre em desafio
Afastando esta mágoa.

Dentro de mim tem trovão
Vento, raio, tempestade.
Gritando esta paixão
Que morre de saudade.

Dentro de mim tem você,
Luz da minha alegria.
Que se esconde e ninguém vê.
Julgando ser a minha fantasia.

Dentro de mim tem universo
Que de infinito tem fome.
Dentro de mim tem um verso
Que rima com o teu nome.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Post.it: O que me falta

Quantas vezes fazemos de cada passo um obstáculo. Quantas vezes fazemos de cada começo, não uma oportunidade mas uma antecipada derrota. Admiro a coragem de quem nada possui, mas ainda tem sorrisos para distribuir. Quem sendo pobre distribui a sua riqueza. Aqueles que aprenderam a valorizarem o interior e a encontrar alternativas para as dificuldades que a vida lhes colocou.
São lições que nos pedem uma aprendizagem. São exemplos que nos exigem que os olhemos com respeito e que nos olhemos com olhar crítico pela nossa acomodação. Pelo nosso desânimo, quando nos sentimos limitados, obstados, porque o dia amanhece cinzento e chuvoso, porque está muito calor, porque a roupa que queríamos vestir já não nos serve. Porque o espelho nos revela mais uma ruga no rosto, que devíamos entender como a prova de que continuamos neste caminho que se chama vida. Que deixámos para trás anos de construção, de batalhas vencidas, de amigos que plantámos no coração, de amores com ou sem espinhos, de filhos que ajudamos a crescer. Que temos um presente, o hoje, e a chance de em cada dia erigir o novo amanhã. Um futuro talhado de obstáculos que nada mais são do que forças impulsionadoras para conquistar a felicidade. Porque, “O que me falta, não me faz falta. O que não tenho, não careço.”  

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Post.it: Chamam-lhe velha

Chamam-lhe velha, afastam-na como se tivesse alguma doença contagiosa. Chamam-lhe farrapo e tratam-na como se fosse lixo. Ensinam as crianças a chamar-lhe “bruxa” e estas acreditam que é maléfica. Mas que pode aquele corpo carcomido pelo tempo, pela dor, pela mágoa, pela rua onde vive e pelo tecto de estrelas que lhe cobre o sono, fazer de mal?
Segue a rotina dos dias, levanta-se a custo, arruma os cartões que serviram de abrigo, limpa o chão que lhe serviu de leito. Não pode dormir até tarde, a polícia dá-lhe ordem para circular. Há que manter as aparências daquele bairro chique da capital. Caminha, qual caracol arrastando os seus parcos haveres. Protege-os como se fossem tesouros. Tesouros do seu passado, herança do que foi. De quando em vez,  balbucia, palavras que ninguém entende aos transeuntes que lhe lançam um olhar de desprezo, os mais preconceituosos dizem que são pragas. Inventam-lhe histórias:  que é chefe de gangues, que vive de esmolas mas tem grandes moradias. Inventam-lhe histórias, porque não conhecem a sua verdadeira história. No final da tarde senta-se num banco de jardim, a sua sala de estar, retira do saco uma carcaça rija, parte pedaços e saboreia como se fosse um manjar dos deuses, um pombo aproxima-se. É conhecida pelos gestos rudes, pela agressividade das palavras, adivinha-se que vai espantar rapidamente o pássaro. Olha-o indecisa por entre os cabelos em desalinho, a ave aproxima-se ganhando coragem, ela parte um pouco mais de pão, hesita,  lança-o devagar.
Chamam-lhe  velha, farrapo, tratam-na como se fosse lixo, uma pobre coitada, condescendem. Mas pobre que partilha a sua pobreza é certamente rico no coração.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Post.it: É preciso fluir

Observando a água, observando a vida. Ela flui sem cessar, nada a pára, a menos que encontre um obstáculo, mas rapidamente descobre um novo caminho, uma nova forma de fluir.
Podemos vê-la, podemos ouvi-la e no seu murmurar ela evoca em nós ecos do tempo. Um tempo que não podemos deter, nem que se coloquemos  na sua frente e o queiramos impedir, ele  passa por nós, através de nós.
O tempo passa, a água flui,  a vida prossegue o seu caminho. Desejamos por vezes que o tempo desacelere o seu processo de passagem. Sentimos que não o conseguimos acompanhar, que somos levados pela corrente, lamentando tudo o que perdemos com ela.
Mas mesmo sofrendo e caindo sete vezes, levantamo-nos oito. Não há como parar de fluir,  mesmo que isso envolva a nossa luta, a nossa dor.
Há momentos em que temos vontade de desistir, mas acabamos por reinventar a coragem e encontrar prazer no fluir da vida, porque esse é o caminho. Porque  o tempo  é a corrente que tece as mais bonitas figuras na tapeçaria da vida. 

Era uma vez: No reino mágico das fadas (49)

Era quase madrugada e Marbel continuava no parapeito da janela, olhando as estrelas que se iam desvanecendo na luminosidade tímida da manhã que se anunciava. Deixara vogar a mente pela lonjura do firmamento, fortalecendo a vontade com da luz das estrelas e a força que mantém em equilíbrio todo o universo. Afastara-se para ver e compreender melhor o seu mundo – o reino mágico das fadas que deixara de o ser e se tornara o reino unido das fadas e seres brilhantes, onde a magia continuava a existir, mas cedera o papel principal à confiança e à vontade.
Era esse o novo reino que a esperava e no qual esperavam que ela desempenhasse as funções próprias da sua condição de filha da rainha. Sua mãe já aflorara o assunto ao falar da vontade que sentiam, ela e Ornix, de se afastarem e passarem a ter uma vida calma e só deles. Desde a Noite da Reunião que o governo do reino unido fora presidido pelos dois, mantendo-se o conselho de decisores para os assuntos da ilha e o conselho das fadas para os assuntos do reino mágico. Tinham encontrado uma solução política de partilha de funções dirigentes que permitira manter a confiança mútua e promover o progresso e o bem-estar em todo o território. Também as forças de segurança, sob a direcção coesa do Guardião e da fada Astuta, se tinham transformado numa força única cuja acção se centrara sobretudo na manutenção da ordem interna, através de uma actuação preventiva, e na garantia de que as relações com os espaços externos se efectuavam sem perigo para o reino unido. Os serviços de pesquisa científica da ilha mantinha relações estreitas com os criadores de magia do reino mágico e, com esta colaboração, tinham conseguido alcançar objectivos há muito perseguidos, como a prevenção e tratamento de doenças físicas e psíquicas, a construção de tecnologias inovadoras que facilitavam o dia-a-dia das actividades produtivas e domésticas e enriqueciam as de cultura e lazer. A educação das gerações mais jovens, em escolas comuns e espaços de aprendizagem activa, era partilhada e centrada no desenvolvimento da curiosidade e interesse pelo saber e na formação de uma consciência de cidadania responsável em que, valorizando a dimensão individual da existência, preparava cada indivíduo para pensar e agir com vista ao bem comum.
Concentrada nestes pensamentos, a princesa viu chegar a luz solar que foi enchendo e dando cor à paisagem que se estendia a partir da sua janela até se perder no horizonte na cor dourada das montanhas onde, mais tarde, a mesma luz desapareceria para dar lugar ao cair da noite. Afeiçoara-se àquele lugar e tinha decidido continuar a viver ali. Com a tecnologia da teletransportação desenvolvida pelos seres brilhantes e muito aperfeiçoada desde a sua primeira utilização, a mobilidade tornara-se quase ilimitada e as distâncias passaram a ser irrelevantes. Por isso, o facto de se tratar de um lugar muito afastado não constituía problema. Lembrou-se de como atravessara o lago das mil cores, há um século atrás, com um voo rasante das águas e de como se sentira poderosa por dominar aquela magia de levitação e movimento. Sorriu. Como estava longe desse tempo e da miúda irresponsável e arrogante que era nessa época! Aproximava-se a hora de voltar ao convívio social e de viver a sua vida de fada adulta. Sentiu-se inquieta. Estaria preparada para as responsabilidades que todos esperavam dela?
………….
Continua
………….
No reino mágico das fadas (1)
http://posdequererbem.blogspot.com/2011/01/no-reino-magico-das-fadas-1.html

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nunca saberás...

Que primavera florida
tinha no meu coração.
Para tornar a tua vida,
num mar de paixão.

Que ondas de marés
Desenhei nos oceanos
Para derramar a teus pés.
De finas areias e lisos planos.

Virgens de humanos passos,
Onde a luz dos teus dias,
Seria embalo de cansaços,
Lago  que a calma e inebria.

E nesse lar feito ninho,
Lareira de ternura a crepitar.
Pendurava o azevinho
Só para te  beijar o respirar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Post.it: Estas palavras são para ti

São para ti estas palavras. Sim para ti, não olhes para o lado porque estou mesmo a dirigir-me à tua pessoa. A ti que estás aqui, que me ofereces uns minutos do teu tempo. Gostaria que sentisses que não é tempo perdido, porque é para ti que escrevo, és sempre tu que estás no meu pensamento quando redijo um post.it, ou um poema, quando te dedico  palavras,  feitas de alento, de esperança, de expectativa e de confiança. De amplos voos com asas que se abrem para te levar comigo nesta viagem de sonhos e de realidades. Tento que encontres nelas sentido e um pouco de mim, um pouco da minha alma. Claro que sou eu que estou aqui, mesmo quando falo apenas de ti, do que sinto por ti. Dos risos, das lágrimas, das vivências partilhadas, dos abraços dados ou até dos que ficaram suspensos na hesitação do momento. Quando a amizade tem a delicadeza de respeitar os silêncios, de os entender, de sofrer com eles, porque eram teus, porque os sentia como meus.
Estas palavras, volto a dizer, são para ti, para agradecer cada momento em que aqui vens, e que dessa forma encurtamos distâncias. Sei que vens, porque deixas uma palavra amiga, ou mesmo quando não deixas nada, sei que vens, porque a amizade é isso mesmo, um laço invisível que une almas similares em estima e afeição. Dizes que não te respondo, respondo sempre, porque todas estas palavras são para ti, com carinho e amizade.