quinta-feira, 31 de março de 2011

Post.it: Há palavras...

Há palavras que nos visitam o coração, que batem à porta enquanto esperam que as deixemos entrar. Há palavras que nos fazem voar, saltar das montanhas mais altas, mergulhar em precipícios.
Há palavras que nos fazem ver a vida com um novo olhar, onde tudo adquire sentido e realidade.
Há palavras que nos preenchem a alma e renovam de esperança.
Há palavras que nos dão força, coragem para desbravar a amazónia das nossas vidas.
Há palavras que nos transmitem carinho, vontade de abraçar, de proteger e oferecer-lhe a paz dos dias calmos.
Se me perguntam que palavras são essas, entristeço. Porque isso significa que nunca as ouviram e pior que isso nunca as ofereceram a alguém.
Acredito que elas estão aí, bem dentro do vosso coração.
Soltem-nas, deixem-nas voar. Sejam felizes fazendo alguém feliz.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Post.it: Sejamos o mundo

Quando somos jovens, temos o desejo de aventura, de descoberta. Vivemos no mundo como ele fosse nosso, apenas nosso. Criticamo-lo, apontamos-lhe os erros. Queremos mudá-lo, torná-lo um espelho da nossa vontade. O tempo vai passando, crescemos no nosso interior e percebemos que o mundo não nos pertence. Nele existem milhões de pessoas, muitas vidas, muitos desejos, muitas vontades. Então depois de muitas lutas inglórias para mudar o mundo compreendemos que somos nós que precisamos de mudar para aprender a valorizá-lo, apreciá-lo no que ele tem de melhor e a perdoá-lo no que tem de pior. Porque o mundo somos nós e toda a humanidade que o compõe. “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” (Dalai Lama)

Era uma vez: No reino mágico das fadas (21)

No seu íntimo, Ansiex regozijava-se pela ideia que tivera e desejava que os seus planos resultassem. A esta hora, tinha todos os caminhos de saída e entrada na ilha vigiados, para interceptar e alterar qualquer mensagem. Preocupava-o o facto de os dois jovens magos terem conseguido chegar ao conselho sem os seus colaboradores os terem detectado. Pensou que deveria ter sido pela tal magia protectora de que o professor Sabax lhe tinha falado. Porém, não se preocupou muito. “Talvez seja melhor assim” – pensou – “o que importa é que as fadas não recebam as mensagens do conselho e ataquem a ilha. A sua atitude será mais inesperada e entendida como uma afronta ainda maior, o que dará razão à minha proposta de responder prontamente e com firmeza, usando todo o poderio das forças de segurança da ilha, contra o reino mágico!” Este pensamento fê-lo sorrir e, assim que terminou a sessão do conselho, foi reunir-se com os seus apoiantes. Queria informá-los da chegada dos magos mensageiros e planear a forma de os impedir de saírem da ilha com a resposta do conselho. Para prevenir, pensou que o melhor era adiantar-se e enviar imediatamente, uma resposta negativa à rainha das fadas. Assim apressaria o ataque do reino mágico. Com o apoio de Sabax, prepararam dois robotixis com a gravação de uma mensagem falsa. Os mesmos seres brilhantes que haviam interceptado a primeira mensagem dispuseram-se a acompanhar os robotixis até ao outro lado do lago das mil cores. Ao mesmo tempo que Ansiex saía do edifício do conselho, os magos mensageiros foram encaminhados para a sala de trabalho de Ornix, onde também se encontravam o Guardião e o professor Inventix. Foi Ornix quem primeiro falou: “Sabemos que sois mensageiros de paz, mas preocupa-me o facto de terdes entrado na cidade sem que nos tenhamos apercebido. Quereis explicar-me como tal vos foi possível?” “Podemos apenas dizer-vos que foi desenvolvida uma magia que nos permite viajar sem sermos vistos nem detectados pelos vossos dispositivos de segurança. No entanto, houve algo que nos detectou e sugou para o interior da vossa cidade.” Ornix e o Guardião olharam-se significativamente – existia uma vulnerabilidade que, apesar das mensagens de boa vontade, poderia significar perigo. Foi então que Inventix se dirigiu novamente aos jovens magos: “Também já não sois vulneráveis ao nosso brilho. Outra magia?” “Pode dizer-se que sim. Porém, verificamos que o vosso brilho está diferente.” “Sim, desenvolvemos a capacidade de o controlar e ele tornou-se inofensivo” – respondeu Inventix. “No entanto” – intrometeu-se o Guardião – os seres brilhantes mantêm a possibilidade de activar o poder letal do seu brilho!” “Mas estamos todos convictos de que só deve ser accionado em caso de perigo e necessidade de auto-defesa”, completou Ornix. “Talvez seja melhor regressarmos com a vossa resposta.” “Tendes razão – dizei à rainha que podemos encontrar-nos amanhã, quando o sol atingir o zénite, na praia do vosso lado do lago, sem armas e em boa fé. Estarão comigo o meu mais directo conselheiro e o Guardião. O corpo de vigilantes ficará sobre o lago a uma distância de mil braços. A vossa rainha poderá fazer-se acompanhar de dois membros da sua corte e a suas forças de segurança devem manter-se à mesma distância das nossas. Desejamos que nem uma nem outra sejam necessárias. Levai este dispositivo com a minha voz gravada e a minha assinatura. O Guardião acompanhar-vos-á até às margens do lago.” O Guardião entregava aos magos uma pequena caixa prateada que continha a voz de Ornix gravada, quando dois vigilantes pediram permissão para entrar e falar a Ornix. “Excelência, tendes mais dois visitantes do reino das fadas.” Todos se olharam e os mais surpreendidos pareciam ser os magos. “Que entrem!” – ordenou Ornix. Entretanto, os falsos mensageiros enviados por Ansiex encontravam-se na margem do lago, prestes a iniciar a travessia do lago e dispostos a lançar mais um laço da armadilha que preparavam e com a qual pretendiam alcançar o poder, enquanto no reino mágico das fadas, os serviços de segurança continuavam tentar compreender o significado da luz verde dos robotixis, que teimava em não se apagar e em não mostrar o seu segredo.
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Continua
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No reino mágico das fadas (22)
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terça-feira, 29 de março de 2011

Post.it: Não desistas de mim

Os olhos estão fixos no chão, como se lhe pesassem demasiado para os erguer. Como que sem a luz que os ilumina já não tivessem forças para encarar o dia seguinte.
Todas as histórias de vida têm dois lados, normalmente só ouvimos falar de um deles.
Hoje quero-lhes falar de um amigo que não encontrou as palavras. Mas também não foi preciso, li-as no seu olhar. Sei bem o que diziam…
Talvez eu não tenha dito tudo aquilo que tu querias ouvir. Talvez não te tenha amado tal como merecias. Talvez tenha andado demasiado ocupado. Talvez tenha estado muito distraído. Talvez tenha sido egoísta e só tenha pensado em mim. Talvez me tenha acomodado e não tenha cuidado do nosso amor. Talvez tenha traído os teus sonhos. Talvez tenha destruído os teus ideais. Talvez me tenha esquecido do teu aniversário e de todas as outras datas que poderíamos ter celebrado juntos. Talvez não te tenha abraçado quando te sentias triste. Talvez não tenha arranjado tempo para te escutar quando precisavas de falar. Talvez não te tenha auxiliado quando estavas cansada.
 Mas à minha maneira, amei-te. À minha maneira estive a teu lado. À minha maneira quis fazer-te feliz. Bem sei que quando te ofereci uma flor me esqueci de tirar os espinhos.
Mas se o sol mesmo encontrando-se com a lua por tão breve momento não desiste dela. Se o mar apesar de pelo seu movimento ondulante estar sempre de partida, não desiste de voltar. Também te peço: Não desistas de mim!

segunda-feira, 28 de março de 2011

post.it: Os teus passos

Por companhia tem os seus passos, firmes, decididos, compassados, como se soubessem para onde querem ir. Como se soubessem que esse é o caminho certo. Por companhia tem os seus passos, aqueles que se contrapõem um ao outro. Levam-te e tu deixas-te levar. Os pensamentos, esses vão muito mais à frente, mal os consegues alcançar. Abrem as asas e querem voar, querem chegar a lugares impossíveis. Mas os teus passos prendem-te ao chão, à dureza dessa estrada. Detêm-se por um momento, obrigam-te a abaixar os olhos. Fazem-te entender que não é dura a caminhada, apenas sólida, apenas segura. Retornas ao caminho, o coração agita-se na dúvida entre o céu e a terra. Entre o sonho e a realidade. Então absorves o sentido das emoções, os pensamentos deixam de voar e pousam calmamente na firmeza dos teus passos. Agora já sabes para onde te levam…

quinta-feira, 24 de março de 2011

Post.it: Razão vs emoção

Costuma-se dizer que uma pessoa é mais racional ou por outro lado mais emotiva. Por momentos questionei-me sobre o que seria melhor. Ora vejamos, primeiro que tudo, considera-se que o ser humano é na sua essência instintivo, porque nos primeiros anos de vida tem dificuldade e pouco conhecimento vivencial para controlar as suas emoções ou reflectir sobre elas. Pelo que devemos concluir que a  racionalidade é apreendida ao longo do nosso crescimento e consequente amadurecimento. Diz-se que no nosso passado pré-histórico, o homem das cavernas necessitava de ter uma atitude instintiva de defesa, contudo para nós que vivemos numa sociedade  civilizada, a reacção controlada e racionalizada é por norma mais valorizada. Ao longo da vida adquirimos uma estrutura emocional, mas a racionalidade vai conquistando alguma primazia, uma vez que é ela quem permite identificar, gerir os conceitos e solucionar problemas. Ou seja a razão permite apreender, compreender, ponderar e julgar. Vista desta forma poderíamos dizer que a racionalidade é sinónimo de inteligência. Desta forma, o ser humano é racional na proporção em que a sua inteligência orienta e controla os seus desejos. Segundo Sócrates o uso da razão permite pela tese e antítese chegar à síntese, que é um conhecimento inteligente e maturado. Já Kant, define a palavra razão como esclarecimento. Porque é o esclarecimento que faz o homem sair da sua menoridade.
No entanto não é tarefa fácil orientar as nossas posturas uma vez que as reacções instintivas são mais rápidas e consequentemente mais cómodas de aceitar. Por conseguinte,  cabe ao homem aprender a controlá-las antes que seja dominado por elas.
Esta pequena análise parece indicar uma sobrevalorização da razão  e que esta é primordial no comportamento geral, enquanto secundarizando por sua vez as emoções. Contudo diz o “bom senso” ou a inteligência que não se pode anular uma em primazia de outra. Porque ambas são necessárias ao nosso desenvolvimento. Uma pessoa demasiado racional aprisiona as emoções e analisa tudo à luz fria da lógica. Por outro lado quem sobrevaloriza o seu lado emocional, vive em permanente conflito e insatisfeito consigo e com os outros. Tornando-se escravo incondicional do seu sentir. Em suma, deve imperar o equilíbrio e a parceria. A razão deve orientar a nossa expressão emocional. Enquanto ao lado emocional cabe a função de  humanizar a excessiva racionalidade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Gaivota

Gaivota, quantas vezes voaste,
Partiste mas de novo voltaste.
O teu coração está preso à terra,
e o espírito sempre em guerra,
Contra cada regresso de esperança,
Fica na partida a mera lembrança.
Gaivota quando de novo te fores,
leva contigo a saudade de amores.
Leva a primavera não florida,
lava com mar a minha ferida.
Gaivota, quando te vejo a planar,
plana contigo o meu sonhar
Tivesse eu asas de vento.
Não me bastaria o firmamento,
Pudesse eu tocar cada estrela,
Traria para te oferecer a mais bela.
Para colocar junto da tua janela,
e ficarmos juntos a olhar para ela.
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Era uma vez: No reino mágico das fadas (20)

A princesa Marbel continuava prisioneira com os jovens magos e o vigilante que fora sequestrado com eles. Já não se ouvia o vento, mas a escuridão era completa e o frio começava a ser muito incomodativo. Estavam todos de olhos vendados, amordaçados e totalmente imobilizados. A fada e os magos mal conseguiam comunicar-se por pensamento, tal era o cansaço e o frio. Mas no íntimo ainda conseguiam manter-se unidos e com esperança de serem salvos. Era para eles que o coração da rainha Amada se voltava enquanto, com a fada Astuta e outras três conselheiras em quem confiava mais, procurava encontrar forma de os libertar, sem adivinhar a verdadeira e difícil situação em que se encontravam. Juntas tomaram a decisão de aguardar mais um dia pela resposta dos seres brilhantes. Se esta não viesse ou continuasse a ser negativa, então utilizariam todos os seus poderes para entrar à força na ilha e resgatar a princesa e os jovens magos. Os seres brilhantes não conheciam as forças mágicas que tinham desenvolvido nos três últimos séculos. Eram forças de defesa e ataque que apenas o corpo militar conhecia e tinha treinado. A população do reino fora incentivada a utilizar os poderes mágicos apenas em situações de emergência e com intenção positiva. O desenvolvimento e o progresso que os tempos de paz trouxeram ao reino haviam facilitado o enraizar dessa mentalidade e atitude. Nas escolas, as jovens fadas e os jovens magos aprendiam e desenvolviam o essencial da sua cultura, incluindo as artes mágicas, mas também a filosofia da sua boa utilização. Depois de tomarem as principais decisões, a fada Astuta foi incumbida de preparar todos os pormenores com os seus colaboradores mais especializados. Tudo teria de ser bem preparado, pois nada poderia falhar! Conheciam a inteligência e o poder dos seres brilhantes. Nada poderia ser descuidado. Porém, no coração da rainha Amada, ainda persistia a esperança de que não fosse necessário concretizar tais planos. Orgulhava-se de ter conseguido convencer sua tia, a rainha Corajosa a negociar a paz com os seres brilhantes. Fora o seu último acto à frente dos destinos do reino. A idade não lhe permitira recuperar dos ferimentos da guerra. Depois da sua morte, a sobrinha fora a escolha natural da corte, sobretudo pela inteligência e determinação que usara durante a última fase da guerra e, mais ainda, pela forma como colaborara no processo de negociações para a paz. Tornara-se uma líder naturalmente reconhecida e respeitada por todos. A sua aclamação unânime como rainha e o nome escolhido evidenciaram o apreço e respeito que todos lhe votavam. Também na ilha, se tomavam decisões. O conselho decidira, sem qualquer dificuldade, aceitar a proposta de negociações, uma vez que vinha de encontro à sua própria intenção e desejo, manifestado na mensagem enviada e que parecia não ser ainda conhecida das fadas no momento em que haviam enviado a mensagem que acabavam de ouvir. Também confirmava que não fora ninguém do reino das fadas a libertar a princesa e os jovens magos, o que os ilibava também da responsabilidade da morte de um vigilante e do desaparecimento do outro. Ansiex chegou à reunião do conselho já tarde, mas ainda a tempo de dar o seu parecer favorável. No entanto, todos notaram o seu atraso e o ar distraído e desinteressado com que manifestara a sua concordância. Vários decisores pensaram que ele estava a esconder algo e que o desaparecimento da princesa não lhe era alheio. ………….. Continua ……………

terça-feira, 22 de março de 2011

Post.it: Quem passa por nós

Há pessoas que  desejam  que algo lhes aconteça, mas desejam com tal força que depois de fracassar nos seus intentos, ficam a questionar-se porque não aconteceu?
Porque se cruzam connosco pessoas que se afastam de nós na curva seguinte?
Quando tudo no seu sentir parecia indicar que caminhariam lado a  lado rumo ao infinito?
Reflectem, acalmam a ânsia dos porquês. Tentam entender o que talvez não tenha explicação. São  pessoas racionais, tudo tem que fazer sentido. Tudo tem que ter um caminho ainda que diferente do seu. Sabem que há pessoas que é bom conhecer, por aquilo que lhes dão, por aquilo que recebem e que faz parte do seu processo de aprendizagem e por conseguinte das suas memórias. “Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (A. Saint-Exupery).
Depois os pensamentos adquirem tranquilidade como se entendessem por fim que:
Talvez os desencontros sejam encontros. Porque nos libertam da possível infelicidade e nos conduzem à verdadeira felicidade.
Se há destino traçado para cada um de nós  não o podemos saber. Só sabemos que o futuro segue o seu caminho.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Post.it: Primavera

Dizem que “há uma primavera em cada vida”. Acredito que existam  muitas primaveras. Tantas quantas as esperanças que preenchem o jardim da nossa existência. Tantas quantos os sonhos que nos dão força anímica para construir o futuro.
Não importam  os verões que deixam na lembrança de amores a que chamamos decepções. Não importam os Outonos que nos deixam despidos os ramos dos nossos ideais. Não importam os invernos que nos molham de lágrimas a alma. Quando essa chuva trará um dia uma nova e  resplandecente Primavera.
Ela virá num voo de andorinha, na pétala da primeira flor que anuncia o despontar do jardim. Ela sobrevive às intempéries e às guerras. “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.” (Che Guevara).
 Não há forma de voltar atrás no passado, por isso devemos receber de braços abertos cada Primavera que chega. Porque “A Primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la." (Cecilia Meireles).
Bem-vinda, Primavera!

Era uma vez: No reino mágico das fadas (19)

Na ilha, os decisores acabavam de escutar a mensagem com a própria voz da rainha Amada: “Caros seres brilhantes, venho pedir a vossa compreensão e desculpa para com a atitude de minha filha. Viajou até ao vosso reino sem autorização minha e contra a lei geral do reino que proíbe qualquer fada ou mago de passar a barreira de espinheiros. Assim, venho propor-vos um encontro de negociações pacíficas que permita resolver em bem este lamentável incidente. Tendes a minha palavra de que tal não votará a acontecer.”
Ornix agitou-se assim que começou a ouvir a mensagem. Reconhecera a voz da jovem fada que encontrara no final da guerra e cuja visão e palavras haviam criado nele o desejo de paz. Nessa altura, a sua influência no conselho ainda era pouco segura, mas conseguira encontrar os argumentos para convencer os restantes decisores a negociar a paz. Aliás, fora essa vitória política que lhe granjeara a consideração do conselho e, posteriormente de todo o reino. Orgulhava-se de ter contribuído decisivamente para a nova ordem de progresso a que o acordo de paz havia conduzido. Só o seu coração conhecia a fonte desse desejo e da força que o levara a lutar por ele. Quantas vezes pensara nela? Quantas vezes desejara que os dois reinos não vivessem de costas voltadas! No último século essa lembrança quase se desvanecera, mas estava lá e despertara com toda a força às primeiras palavras que ouvira! Então era ela! Tornara-se rainha e era Amada pelo povo! Teve um imenso desejo de a voltar a ver e, no seu íntimo, decidiu imediatamente aceitar aquela proposta.

À mesma hora, no reino mágico das fadas, os serviços de defesa tinham decidido comunicar à rainha Amada a mensagem que haviam encontrado nas pequenas máquinas. Continuavam sem compreender o significado da luz verde que não se apagava e sem conseguir abrir o compartimento que se adivinhava por baixo dela. Foi a própria fada Astuta que, em reunião com a rainha, lhe deu a conhecer a mensagem de voz que as pequenas máquinas transportavam:
“Fazemos saber à rainha das fadas que a sua filha foi feita nossa prisioneira, tal como os jovens magos que vieram tentar salvá-la. Encontram-se em local completamente seguro e inexpugnável, de onde será impossível saírem sem nossa permissão, o que jamais acontecerá! Não deveis permitir que mais ninguém penetre no nosso reino, pois tal será imediatamente detectado e punido. Se apreciais a paz, mantende todo o vosso povo para lá da barreira de espinheiros, ou seremos obrigados a usar os nossos superiores poderes contra vós. Estais avisada!”
A rainha ficou triste e preocupada.
“Todas as informações deixavam antever uma atitude menos beligerante da parte dos seres brilhantes. Esta mensagem é uma completa surpresa. Parece a mesma linguagem e atitude do tempo da guerra! É um pesadelo!”
“Tendes razão, majestade! Pensei exactamente o mesmo quando a ouvi, mas não há mais nada para além dela nas pequenas máquinas. Há uma luz verde que parece indicar a existência de um compartimento a que ainda não conseguimos aceder. Tenho esperança de que indique outra proposta mais amistosa. Foi por isso que protelei esta comunicação o mais possível.”
“Sois uma boa profissional e amiga. Haveremos de resolver esta situação. Enviai novos mensageiros à ilha. Eles que comuniquem o seguinte:
“Caros seres brilhantes, a vossa mensagem encheu-me de preocupação. A esta altura já devereis ter conhecimento da nossa primeira comunicação e sabeis que não houve intenção da nossa parte em provocar-vos qualquer dano. Foi um acto individual e irreflectido que será severamente punido. Não deixemos que um pequeno incidente provocado por uma jovem fada desobediente ponha em causa a paz que conseguimos manter há mais de três séculos e que resultou de um compromisso recíproco. Peço-vos que reconsidereis a vossa decisão e aceiteis encetar negociações pacíficas. Aguardo a vossa resposta, antes de tomar qualquer altitude.”
Foram enviados mais dois magos voluntários, com as mesmas precauções dos primeiros, levando também uma das pequenas máquinas, para que os seres brilhantes vissem que tinham recebido e compreendido a sua mensagem. A rainha Amada e a fada Astuta não deram a conhecer a mais ninguém o conteúdo da mensagem trazida pelas pequenas máquinas, de modo a evitar decisões precipitadas. Porém, começaram a delinear uma estratégia de acção, caso o novo pedido de negociações pacíficas não fosse atendido. Mas, no íntimo, ainda esperavam que a luz verde quisesse dizer alguma coisa.
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Continua
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No reino mágico das fadas (20)
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sexta-feira, 18 de março de 2011

Posto.it: Piropos

Chamem-me nacionalista, mas lá diz o slogan “o que é nacional é bom” e não estou a falar de marcas. Mas de piropos versus flirt. Ainda me lembro dos piropos, que os homens assobiavam e as meninas apreciavam. Sim bem sei, já foi há muito tempo. Hoje as coisas estão diferentes, nem os homens mandam piropos nem as damas apreciam. - Ai de quem se me dirigir nesses termos. Dizem com ar de enfado de desafio. Lembro-me que gostava e ainda gosto, porque não confessá-lo? Há pouco tempo um sujeito passou por mim e lá me lançou um. Já não ouvia tal coisa há tanto tempo que o meu ego ficou baralhado ainda a tentar assimilar. Não repito o que disse para não ficarem com inveja, mas reconhecia os meus atributos físicos.
Hoje está mais na moda embora não seja novo, o flirt, algo que nada tem de português, claro que é diferente mas tem a mesma base, só que necessita de maior empenho e alguma arte. “O tom perfeito da sociedade inglesa inventou uma palavra que não há nem pode haver noutras línguas enquanto a civilização as não apurar. To flirt é um verbo inocente que se conjuga ali entre dois sexos e não significa namorar, é mais do que estar amável, é menos do que galantear, não obriga a nada, não tem consequências, começa-se, acaba-se, interrompe-se, adia-se, continuamente ou descontinua-se à vontade e sem comprometimento” A. Garret.
Claro que antigamente na maior parte dos casos era mesmo assim “sem consequências”. Agora já não direi tanto porque o que começa como uma brincadeira pode resultar em asneira. Porque se perde o limite do flirtar, do ser generoso com os elogios, com os olhares, com os sorrisos, que nos faz sentir vivos e desejados, e nos faz aflorar as emoções. E depois acaba o mais “suave entretenimento do espírito”. Ou devia acabar, bom mas cada um sabe de si. Para evitar consequências de maior prefiro o piropo portuguesinho, rápido, fugidio mas que provoca o desejado sorriso,  prova de tocou carinhosamente no nosso ego.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (18)

Marbel e os jovens magos encontravam-se agora prisioneiros de Ansiex e seus cúmplices. Ele próprio tentava obrigá-los a confessar as “reais intenções” da sua chegada à ilha. Felizmente que Ansiex não dominava a ciência de controlo de pensamentos como o professor Inventix. Assim, a princesa e os jovens magos puderam combinar entre si não responder absolutamente nada, mantendo-se em silêncio absoluto. Tinham sido levados para um lugar estranho, frio e escuro, onde se ouvia constantemente o ruído de um vento forte e tão insistente que parecia sentir-se mesmo ali, dentro daquela espécie de caverna, de paredes acobreadas e com uma luz natural avermelhada que parecia nascer de uma reentrância onde qualquer coisa se encontrava incandescente. Com eles, também imobilizado, encontrava-se o vigilante que sobrevivera ao Ataque de Ansiex.
Irritado por não conseguir o que pretendia, Ansiex ordenou aos dois seres brilhantes que o acompanhavam que fossem buscar o professor Sabax, pois ele deveria ter acesso à tecnologia de leitura dos pensamentos.
“Mas, Ansiex, essa leitura já foi feita e o que resultou não vai de encontro aos nossos interesses!” – respondeu um dos cúmplices.
“Pois, tens razão. Deixemos os prisioneiros aqui. Ninguém sabe que fomos nós que os raptámos. Pode até ser que pensem ter sido eles a evadir-se sozinhos, o que também corre a nosso favor. Voltemos aos nossos afazeres e deixemos que tudo se desenrole por si.”
Na sala do conselho, os decisores acabavam de tomar conhecimento do desaparecimento da princesa e dos jovens magos. A primeira reacção foi acusar Ansiex, uma vez que o pó encontrado à entrada da sala indiciava corresponder aos restos mortais de um dos vigilantes desaparecidos, o que levava a crer ter sido destruído por um ser brilhante.
No entanto, Ornix não quis que se tirassem conclusões precipitadas e ordenou que toda a verdade fosse apurada. De seguida, mandou entrar o Guardião. Este encontrava-se ainda estupefacto pela revelação dos magos mensageiros. Mas respondeu com segurança:
“Se vindes por bem, porque não vos mostrais?”
“Que garantias nos dais de que não seremos aprisionados como a nossa princesa?”
“A mesma que vós me dais a mim se eu confiar em vós”
Os magos mensageiros resolveram arriscar e desfizeram o feitiço protector, mantendo, no entanto, a protecção activada a protecção contra o poder letal do brilho dos seres brilhantes. A bolha foi-se tornando visível e, depois, começou a desfazer-se lentamente, até que os jovens magos ficaram em pé, perfeitamente visíveis e em frente ao Guardião.
“Pronto, aqui nos tendes. Levai-nos a quem tem poder para receber a mensagem da nossa rainha”.
“Por razões de segurança, preciso de conhecer o teor da mensagem.”
“Revelá-la-emos a quem a deve receber. No entanto, trata-se de um pedido de negociação pacífica.”
Nisto, o Guardião foi chamado à sala do conselho. Como gesto de boa vontade e de resposta à confiança dos magos mensageiros, o Guardião conduziu-os à presença dos decisores.
A sala ficou em completo silêncio perante a entrada dos magos. Nem o habitual zunido do anel de luz se fazia ouvir. A própria ondulação das paredes parecia ter cessado.
O Guardião apresentou os seus acompanhantes e explicou a sua presença. Então, Ornix indicou-lhes o centro do círculo formado pelos decisores e disse:
“Colocai-vos onde todos possamos ver-vos e ouvir-vos bem.” E, perante a hesitação dos magos, insistiu: “Estamos todos de boa fé ou nem teríeis conseguido chegar até aqui. Temos tanto interesse em resolver esta situação como a vossa rainha. Cumprio a vossa missão!”
Os magos acederam e colocaram-se n centro da sala. Sentiram-se estranhamente confortáveis e começaram a ouvir o zunido do anel de luz que unia os decisores. Então começaram a transmitir a mensagem de voz da rainha Amada.
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Continua
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No reino mágico das fadas (19)
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quinta-feira, 17 de março de 2011

Post.it: O síndrome de Calimero

Tenho uma amiga de longa data. Nem digo de quantos anos porque senão ouço-a gritar “Que horror foi assim há tantos anos? Eu nem sequer tenho essa idade!”. Já estão a ver o estilo, não estão? Mas é minha amiga, gosto dela pelo contraste e pelo exagero. Quando ela me conta alguma das suas desgraças, já sei que está acrescentar o IVA.  Na escola tudo lhe corria mal, já que não conseguia atingir as notas que pretendia, esclareça-se que também nada fazia para isso. Depois apaixonou-se pelo galã da escola, já se previa o resultado, rios de lágrimas. Casou cedo porque não queria ficar solteira, o final não demorou a chegar. Continuava  e continua a lamentar-se enquanto uma corte de apaixonados a rodeiam, ávidos de uma oportunidade para a fazer feliz. De vez em quando telefona-me, ficamos horas ao telefone, chora, ri, acaba sempre tudo bem. “Liguei-te porque tu tens sempre uma visão clara das coisas, até disse para a minha colega, vou telefonar à minha amiga, ela decerto sabe o que hei-de fazer”. Sinceramente não sei que lhe diga, comove-me esta confiança, esta entrega, esta quase ingenuidade. Acabo por desfazer os enleios emocionais em que se envolve. Suspira: “Tu fazes-me bem à alma”. “Mas já não sei o que faça aos miúdos estão naquela idade que só arranjam problemas”. Não ligues, sabes que faz parte da idade, confessa lá se não fizeste o mesmo? Tanto quanto me lembro, eras uma pestinha. De que te queixas? Tens uns filhos amorosos, um bom emprego, tens saúde e esta amiga sempre disponível para te ouvir, que te falta? “Sabes lá os meus dramas! ando sempre a correr”. Óptimo, poupas o dinheiro do ginásio. “Se soubesses o banho que apanhei outro dia, chovia imenso e com o vento nem podia abrir o guarda-chuva”.  Tudo bem afinal poupaste na conta da água. “Tu gozas mas fiquei com uma gripe tal que estive uma semana em casa”. Excelente, até estavas  a precisar de descansar. “Hoje parti os óculos e tu sabes que fico míope de todo sem eles”. Ainda bem, esse modelo já não te ficava nada bem. “ Mas tu achas graça a tudo?”. Claro, rir é o melhor remédio. “Nem penses, rir faz rugas e o meu ordenado não chega para cremes e plásticas. Principalmente com os miúdos a exigirem roupa de marca”. O discurso prolonga-se, com queixas e mais queixas. Rio-me delas e penso, que bom serem apenas estas…
Enquanto isso vou rabiscando num papel um pinto preto que ainda não saiu totalmente da casca. Já não me lembrava dele há muitos anos, mas esta minha amiga trouxe-mo à memória. Talvez por ela ter um discurso semelhante. “É uma injustiça, não é?” dizia ele no seu jeitinho triste.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Post.it: Pais, uma missão

Nasce um filho e nascem em simultâneo mil incertezas. Será que vou ser um bom pai/mãe? Será que sou capaz de o tornar um bom ser humano? Que caminho será o seu? Que educação lhe devo dar? Mais permissível, flexível, severa, aquela que os meus pais me deram? Essa de certeza que não! Vou ser um pai/mãe, amigo, irmão, companheiro.  Quero sobretudo protegê-lo, dar-lhe carinho, um amor que aumenta a cada dia. A cada nova descoberta, a cada gracinha, o seu primeiro sorriso, a primeira palavra, os primeiros passos.
Filhos, o nosso mundo, o nosso ideal, “vai ser perfeito”, sonhamos, desejamos.  “Vai ser um príncipe/princesa” pelo menos para nós, pais. Mas os filhos crescem muito mais depressa do que a nossa capacidade de nos adaptarmos às suas mudanças. Começam a preferir a companhia dos amigos. De repente tudo foge ao nosso controle, questionamos: de quem é a culpa? Nossa que ao tentar protegê-los não lhe evidenciámos os perigos? Da sociedade que não lhes dá uma oportunidade e até lhes chama geração “nem nem”? Dos amigos, companhias quem nem sempre os levam para os melhores caminhos?
Filhos que ficam cada vez mais distantes, mais independentes. Olhamo-los em busca daquele olhar de admiração que nos ofereciam em pequenos. Que saudades daqueles braços estendidos quando nos pediam o calor dum abraço. Esperamos que o tempo ajude a fazer o que já não está nas nossas mãos. Esperamos que façam as escolhas certas, mas será que nós as fizemos? Desejamos que sim. Porque se algo lhes acontece, sentimos que fracassámos, que não fomos bons pais.
É bem verdade que  não existem pais perfeitos, tal como não existem filhos perfeitos.
Que não há receitas, instruções, soluções exactas. O futuro encarregar-se-á de nos dizer se agimos bem.
Uma certeza nos resta: Tentámos dar o nosso melhor. Tentámos fazê-lo com amor.

terça-feira, 15 de março de 2011

Vejo

Entendo quando vejo,
Esse teu olhar fugidio.
Deixa escapar num lampejo
As águas dum manso rio.

Chama orvalho àquela gota,
Que imprudentemente caiu.
Porque nem ao vento conta,
Que era uma lágrima que saiu.

Dum coração entristecido,
Dum sonho por concluir.
O desejo que acabou ferido,
Nos desencontros do sentir.

Faz todos os dias a cama,
com lençóis de esquecimento.
Mas quando a manhã chama.
Desperta a dor do sentimento.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (17)

Os magos permaneciam invisíveis e observavam tudo atentamente. O ambiente era muito iluminado e, apesar da intensidade de movimento, tudo parecia silencioso e tranquilo. Havia uma harmonia que fazia com que tudo parecesse parte dum todo bem conseguido e a funcionar perfeitamente. Aperceberam-se de que os seres brilhantes e os outros, que circulavam na praça e se dirigiam de e para as vias largas que nela desembocavam, se deslocavam sem esforço, como que deslizando a escassos centímetros do chão. Por isso, não se via qualquer veículo e tudo era silencioso, à excepção de uma melodia muito suave e quase imperceptível que parecia encher tudo, até o pensamento.
Acabaram por compreender o que os trouxera até ali quando viram um grupo de seres brilhantes a surgir como que do nada, ficando a levitar por momentos e dirigindo-se depois para uma das vias que saía da praça. Afinal, aquela força poderosa era a porta de entrada na cidade que devia estar protegida do exterior por qualquer substância que, quando tocada, conduzia ao centro da cidade. Esta constatação deixou-os inquietos, pois perceberam que a sua presença poderia ter sido denunciada.
Nisto, outro grupo surgiu na praça – dois seres brilhantes e outro que parecia corresponder à descrição do Guardião, a quem deveriam dirigir-se para através dele entregar a mensagem. Os três dirigiram-se, num movimento deslizante, ao edifício que parecia ser o principal, tanto pela sua dimensão como pelas cores dominantes, dourado e púrpura, e pela imponência da sua forma – em estrela e com várias cúpulas compridas e arredondadas, à excepção da central, tão alta e pontiaguda que desafiava a abóbada rósea e azul do céu.
Os mensageiros da rainha Amada seguiram o grupo e conseguiram entrar atrás dele pela porta alta e larga que se abriu assim que os seres brilhantes dela se aproximaram. No interior tudo era silencioso, mas ouvia-se, ainda, a melodia suave do exterior que, aqui, parecia ser produzida pelas paredes ondulantes e de tons azuis e prateados, fazendo lembrar as águas do lago das mil cores. Encontravam-se num amplo salão que mais não era que a antecâmara de outras salas cujas portas se confundiam com as paredes. Os dois seres brilhantes entraram numa dessas portas e o Guardião ficou sozinho e imóvel, como quem aguarda alguma ordem.
Os jovens magos resolveram dirigir-se a ele e lentamente falaram na língua dos seres brilhantes: “Guardião. Não podeis ver-nos, mas ouvi o que temos para vos dizer.”
O Guardião, surpreendido, voltou-se e não vendo ninguém, olhou em redor mas não deu mostras de qualquer receio ou indecisão: “Então, dizei quem sois e ao que vindes!”
“Vimos da parte da rainha Amada, entregar uma mensagem de paz.”

Entretanto, no reino mágico das fadas, os serviços de segurança estavam ainda a analisar ao pormenor os pequenos robotixis e haviam descoberto a mensagem gravada, mas mantinham o silêncio pois ainda não tinham conseguido descobrir o que significava a luz verde e intermitente. No entanto, a fada Astuta, por precaução, começara a organizar todo o contingente dos serviços da defesa do reino e delineava já uma estratégia de resgate da princesa, caso fosse necessário. Enquanto pudesse, pouparia a rainha àquela terrível notícia.
…………….
Continua
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No reino mágico das fadas (18)
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segunda-feira, 14 de março de 2011

Post.it: Esboços de vida

Quantas vidas não passam dum esboço do que poderiam ser?. Vivem adiando decisões, justificando o que já não tem justificação. Então sofro com eles, amigos que o coração acomoda docemente no coração. Umas vezes embalo-os com ternura, noutros momentos agito-os, exijo-lhes  as forças que não têm. Vivem permanentemente num estado de limbo amoroso. Há quem diga é o lugar onde os egoístas e os fracos persistem em viver, com medo de perderem o pouco que esse amor lhes dá. Essa esmola de sentimento que não preenche nem uma válvula do coração. Contenho-me, faço silêncio, adoço as palavras, torno firmes os conselhos. O desanimo rouba-lhes a coragem. “”Tu não sabes o quanto dói”. Será que não sei? Não vou  entrar por aí.
Por um instante enchem-se de brios “acabou já nunca mais vou responder ao seu chamado, aos seus telefonemas, e-mails, sms, ou outros contactos, chega!”.
Mas nunca chega e se o “amor” chama vão a voar. A mim custa-me vê-los ir. Quantas vezes já lhes disse que amar não é isso. O amor não é quando nos colocam no último lugar das suas vidas. Quando nos arrumam numa agenda de opções, para quando já não têm mais ninguém a quem recorrer. Usam e abusam dos corações vulneráveis. Voltam a acreditar que o “amor” os chama, mas é apenas mais uma desilusão. Dói-me ver esta anulação, esta falta de auto-estima. Como lhes dizer que têm que deixar partir as pessoas que um dia amámos. E do outro lado que sentimentos egoístas os leva a prender a eles quem já não amam. Claro que têm sempre a desculpa de que querem ficar eternamente amigos. Mas será que não vêm que é uma amizade desigual e cheia de mágoa?
O limbo permanece e recomeça  cada nova esperança gorada. Sempre que o outro chama e o coração em prontidão responde.
Depois ficam novamente à deriva, como um navio sem comando. Um dia se não despertarem a tempo vão acabar por chocar com alguma rocha e afundar-se.
Deixem-nos partir e encontrar no mar de dor um farol que os conduza a bom porto.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Post.it: A gaguez

Já fui gaga, podem não acreditar mas é verdade. Olhei para ela incrédula. Nem queria acreditar que aquela minha amiga que conversa habilmente como ninguém, já tinha sido gaga.
 – Não acreditas?  é a mais pura verdade, pergunta à minha família.
Foi uma fase, já tive tantas, que nem te conto, dava para escrever um livro de muitas páginas. Perguntas tu certamente porque me fui lembrar disso agora, mas recordei-me dessa época já muito recuada porque fui  outro dia ao cinema ver o filme  “O discurso do Rei”.
Mas como te dizia, fui gaga durante um certo período da minha vida. Que cansaço para quem me ouvia, que desespero para mim que queria falar mas atropelava as palavras. Exasperados, os meus ouvintes completavam-me as frases, quase sempre sem acertarem, o que levava a mil novas tentativas. Há quem diga que a gaguez passa a cantar. Então um dia meti na cabeça que gostaria de fazer parte dum coro de igreja. Crente que a minha voz chegaria aos altos céus e que certamente soaria para os astros como se fosse um rouxinol, abri os pulmões e cantei, ou melhor espantei a audiência.  O padre/maestro veio ter comigo, com um ar benevolente e perguntou-me: - Gostas de cantar? a gaguejar respondi: - Go, gos to. E para que cantas,  minha filha? Insistiu. – Pa, pa ra lou, lou var ao  Se Se nhor.  Respondi com dificuldade. O padre sorriu. – Olha minha filha, podes louvar em silêncio que Deus também assim te ouvirá. E desta forma terminou a minha curta incursão pela música. Passados uns anos revendo os vídeos familiares é que entendi o conselho do maestro, nunca tinha ouvido criatura mais desafinada. Voltando à gaguez, queres saber como me passou? Foi fácil mudei de amiguinho de brincadeiras que por ser gago pegou-me o tique. O meu novo companheiro de diversões falava pelos cotovelos, acho que também me pegou o tique e foi assim que comecei a falar e nunca mais me calei, dizem que falo até a dormir, mas isso é outra história.
Ela é uma óptima contadora da sua história, eu sou uma excelente ouvinte e delicio-me com estas pequenas maravilhas do que fomos, do que somos e quem sabe do que seremos. Num misto de saudosismo e de esperança porque mesmo que não possamos cantar, a nossa voz oral ou escrita poderá chegar mais  longe se os amigos a quiserem ouvir e transportar no coração.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (16)

Entretanto, os magos mensageiros da rainha Amada, avistavam já a praia da ilha dos seres brilhantes, de onde se erguiam grossas colunas de areia que acompanhavam o rugir do vento num rodopio estonteante para quem as observava do céu. À primeira vista, não havia ninguém no areal nem nas franjas de vegetação que antecediam a floresta. No entanto, à medida que se aproximavam, pequenos pontos começavam a tomar forma junto das primeiras fileiras de árvores. Eram o corpo de vigilantes que, não obstante o temporal, se mantinham firmes no seu posto.
Os magos passaram para além deles sem que fosse notada a sua presença. A magia protectora continuava a surtir efeito. Seguindo as indicações da fada Astuta, procuraram a clareira da cúpula rosa e lilás, onde procuraram, em vão, uma entrada. Nada nem ninguém! Não havia indícios de qualquer presença ou movimento fora do edifício. Nos jardins, o vento sibilante agarrava-se até aos mais pequenos rebentos e tentava segurar neles a sua fúria. Os jovens magos começavam a sentir a magia protectora a fraquejar, perante o esforço de manter a sua união em condições tão adversas. Decidiram continuar pela floresta, em direcção à cidade dos seres brilhantes, até que as árvores começaram a rarear e a dar lugar a uma ampla pradaria onde se combinavam milhares de matizes de verde que faziam sobressair, ao longe, o dourado dos edifícios da cidade dos seres brilhantes que, à distância, pareciam ser todos iguais e estar em movimento. Sobre os verdes da pradaria, os ventos sibilantes perdiam força e transformavam-se em suave brisa que, em vez de os atrasar, os embalou e conduziu suavemente à entrada da cidade que, agora vista de perto, se tornou numa surpresa deslumbrante para os jovens magos.
De repente, sentiram-se agarrados e empurrados violentamente por uma força invisível que os sugou a uma velocidade vertiginosa. Conseguiram a custo manter-se unidos na bolha protectora até que, tão repentinamente como tinha começado, a força os libertou, deixando-os a pairar sobre uma praça cheia de movimento de seres brilhantes e outras criaturas para eles completamente desconhecidas e estranhas.
…………….
Continua
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No reino mágico das fadas (17)
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quinta-feira, 10 de março de 2011

Post.it: Lol?

Eu sou do tempo em que ainda não se dizia lol, dizia-se olá. Dizia-se muitas vezes, porque as pessoas interessavam-se umas pelas outras. Sentiam necessidade do seu afecto, da sua amizade. Ainda sou do tempo em que os primeiros encontros eram feitos de olhares que queriam ler muito além das palavras. Eram feitos de detalhes: da curva que lhe via do queixo até ao pescoço, da covinha que fazia quando sorria, do brilho dos olhos, a forma das mãos, o perfume que irradiava, o som da sua voz, o gesto nervoso de afastar o cabelo do rosto. De palavras, torrentes de palavras, porque ainda não tínhamos intimidade para ficar em silêncio e isso ser agradável.
Sou do tempo em que ainda não se dizia lol, que nem sei bem o que isso quer dizer. Só sei que muitas vezes não se repete. Pensei que fosse um olá, o começo de muitos, aquele que se inicia tímido, envergonhado, revelando-se e descobrindo o outro. Um olá que se repete constante até tornar-se intimo ao nosso ouvido.
Sou do tempo em que ainda não se dizia lol. Ainda não me habituei a esta expressão. Não gosto dele, talvez porque deixa-me continuamente a sensação de vazio. A sensação de que se traduz demasiadas vezes por um adeus que nem chega a ser dito.
Mas afinal, o que é que significa lol?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Era...

Era a esperança
num sonhar.
A lembrança
num ficar.
Era o encontro,
a ansiedade.
O reencontro,
da saudade.
Era o acontecer
tão almejado.
Era o receber
e o que era dado.
Era um mar,
E um desafio.
Aquele chegar,
depois do vazio.
Foi tanto,
Não foi nada.
Apenas encanto,
De madrugada.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (15)

Os robotixis mensageiros, acompanhados dos dois vigilantes, tinham iniciado a travessia do lago das mil cores cujas águas, naquela manhã, estavam particularmente agitadas pelos ventos sibilantes, que nascidos nas grutas escuras e frias das montanhas dos murmúrios, sopravam e rodopiavam com fúria sobre o lago, fazendo subir as cores fortes e os seres estranhos e violentos que habitam as profundezas.
Mas havia uma missão a cumprir e, por isso, os robotixis e os vigilantes resolveram dar mais altitude aos pássaros azul-esmeralda que também não se amedrontaram perante a ventania. Encontravam-se a meio caminho quando, como que surgidos do nada, apareceram quatro criaturas aladas, de cor negra e luzidia, semelhantes a morcegos gigantes, mas com garras afiladas e poderosas e expressão de fúria estampada nos olhos incandescentes. Os mensageiros e vigilantes foram obrigados a desviar a sua rota para o cordão de areias movediças que se elevava acima das águas do lago, a nordeste, e onde havia uma pequena plataforma rochosa. Foi aí que pousaram e viram que as criaturas eram conduzidas por seres brilhantes que nunca tinham visto e que obrigaram os robotixis a abrirem o painel de comandos. Modificaram as intenções dos robotixis e substituíram a mensagem de voz que lhes tinha sido confiada, transformando-a numa ameaça: “Fazemos saber à rainha das fadas que a sua filha foi feita nossa prisioneira, tal como os jovens magos que vieram tentar salvá-la. Encontram-se em local completamente seguro e inexpugnável, de onde será impossível saírem sem nossa permissão, o que jamais acontecerá! Não deveis permitir que mais ninguém penetre no nosso reino, pois tal será imediatamente detectado e punido. Se apreciais a paz, mantende todo o vosso povo para lá da barreira de espinheiros, ou seremos obrigados a usar os nossos superiores poderes contra vós. Estais avisada!”
Feita a alteração, os seres brilhantes montados nas criaturas negras, abandonaram os dois vigilantes à sua sorte e repuseram os robotixis na rota inicial, acompanhando-os até avistarem a margem do lago das mil cores, no reino mágico das fadas.
Havia muito movimento junto à barreira de espinheiros. Os magos voluntários, invisíveis e indetectáveis, já tinham partido para o reino dos seres brilhantes com a mensagem da rainha Amada e, na sua bolha protectora, enfrentavam os ventos sibilantes que estavam cada vez mais fortes e ruidosos mas que, ainda assim, não conseguiram impedir os mensageiros de cumprir a sua missão.

Ouviu-se um brado quase uníssono de surpresa e temor, quando as fadas e magos, a partir das margens do lago, avistaram as quatro criaturas negras a pairar com ar ameaçador no céu coberto de densas nuvens. Alguns fugiram, mas a maioria ficou a ladear a rainha Amada, que não arredou pé e resolveu enfrentar a situação, pois deduziu que, finalmente, iria ter notícias de sua filha. Activaram todos a magia protectora e esperaram, de olhos fixos na ameaça que vinha do céu.
Os robotixis destacaram-se das criaturas negras e foram-se aproximando da praia, voando em direcção ao pequeno grupo de fadas e magos que os esperavam. A fada Astuta, colocou-se à frente da rainha e deu ordem aos magos que a acompanhavam para se colocarem em cordão protector, em frente do grupo. Ela própria se adiantou na praia e foi receber os robotixis, disposta a usar os seus poderes mágicos caso fosse necessário.
As pequenas máquinas aterraram e duas luzes vermelhas e intermitentes acenderam-se no dorso de cada uma delas. No do meio, além dessas luzes, acendeu-se outra, verde e fixa. A fada Astuta deu ordem aos jovens magos para que recolhessem as pequenas máquinas e fossem imediatamente levadas para o laboratório dos serviços de segurança e analisados, pois poderiam constituir perigo para a rainha.
No céu, as criaturas negras voltearam velozmente, desenhando várias espirais com ar ameaçador e, depois, voaram em direcção à ilha, desaparecendo por entre as nuvens.
…………….
Continua
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terça-feira, 8 de março de 2011

Post.it: Dia da Mulher

Depois de ter sido Eva e ter dado à luz a vida, fui Maria, com tantos rostos, mulher que escondeu as lágrimas no lenço da esperança. Quantos me chamaram Amélia, mulher coragem, mulher de luta. Mulher inteira. Mulher mãe  e pai numa sociedade divorciada. Mulher operária, taxista, camionista, polícia. Mulher embalo de ternura, ninho de filhos que ainda não sabem voar. Mulher que adormece no cansaço e acorda antes da madrugada se levantar.
Quanto amor, quanta dor lhe cabe no coração que derrama pelos olhos porque "Há de tudo um pouco nas lágrimas das mulheres." (Henry François Becque).
Mulheres que fazem o caminho, que desbravam a vida e a tornam suave para os que ama. "O caminho da mulher está juncado de flores; mas estas crescem atrás dos seus passos e não na frente." (John Ruskin).
Mulheres que têm a capacidade e o dom de harmonizar o mundo à sua volta. “Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso uma mulher para se fazer um lar. (Provérbio Chinês).
“Quantas vezes fez dos dias a sua luta enquanto os homens faziam a guerra”(Alex Bringt) E com essa luta conquistou o seu lugar ao sol. Um lugar que a história tantas vezes lhe negou e outras tantas lhe  reconheceu o mérito.
“A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada." (Maomé)
 

Carnaval

Gosto dum carnaval
Que seja nacional.
Que sem expor a nudez
Mostra o espírito  português.
Sem samba nem canção,
Mas o pregão que vem do coração.

“Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são,
maiores querem parecer.

Os que bons conselhos dão
Às vezes fazem-me  rir
Por ver que eles, são
Incapazes de os seguir.

Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias.
Hoje que podes – esqueceste
Tudo o que prometias.

Quantas sedas aí vão,
Quantos brancos colarinhos.
São pedacinhos de pão
Roubados aos pobrezinhos.” (A. Aleixo)

Digam lá que não está actual
Para este espaço geográfico.
Onde tudo continua mal.
E só mudou o acordo ortográfico.

E depois como é carnaval
Ninguém me leva a mal.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Penedo de saudade

Somos um Penedo da Saudade
Quando nele deixámos gravadas
Tantas ilusões da mocidade,
que despertava as madrugadas.

Escrevemos na pedra dura
e ela deixou-se escrever.
Revelando que pode ser ternura
se a soubermos receber.

Como é infinita a tristeza
da Fonte das Lágrimas a gotejar.
Esmorece à volta a natureza,
faz-se silêncio para a escutar.

Ai amores perdidos, desencontrados,
Ai amores que são dores sem encanto.
Por estreitas ruas derramados,
num rio feito de tão grande pranto.

Mas já a esperança ganha ensejo
e despontam novas flores.
Quando acontece o desejo
Implorado à Fonte dos Amores.

Capas negras já encobrem
as saudades do partir.
Enquanto serenatas adormecem
no peito o  melancólico sentir.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (14)

Na praia da ilha, o Guardião assistiu à partida dos três robotixis, que seriam escoltados por seis vigilantes até 200 braços da margem oposta do lago. Apesar da sua constituição metálica, os tons rosa matizados de verdes suaves e branco pérola, davam ao corpo alongado, ladeado de asas duplas e quase transparente, e à fronte, redonda e ligeiramente achatada, o aspecto de um pequeno brinquedo amigável. Estavam todos preparados para transmitir, por voz, a mensagem do conselho e o maior transportava, num pequeno compartimento secreto que apenas se abriria, automaticamente, perante a sonoridade quase cantada característica da voz das fadas do reino mágico, um rolo manuscrito e assinado por Ornix, com uma declaração de boa vontade e de compromisso com a manutenção da paz.
Os robotixis partiram e, na ilha, ficou a sensação de alívio por, finalmente, se vislumbrar uma forma de resolver aquela situação.

Entretanto, no reino mágico das fadas, também os dois magos voluntários se encontravam prontos a partir. Foi a própria rainha Amada que deu as últimas instruções. Apenas deveriam tornar-se visíveis e detectáveis perante o Guardião da ilha, pois não conheciam bem os seres do lago das mil cores, nem os seus poderes e artimanhas. Quando avistassem o Guardião, deveriam tornar-se visíveis e apresentar-se sem hesitações e com uma saudação amigável. A mensagem escrita, também assinada pela rainha Amada, deveria ser entregue imediatamente, para não haver a possibilidade de qualquer mal entendido.

Tudo parecia encaminhar-se para um desfecho favorável aos dois reinos. Porém, a ânsia de poder de Ansiex e seus apoiantes mudou completamente o curso dos acontecimentos.
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Continua
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No reino mágico das fadas (15)
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sexta-feira, 4 de março de 2011

Post.it: O orgulho de ser quem somos

Noutros tempos tínhamos ideais de construir um mundo novo. Noutros tempos sonhávamos que podíamos chegar ao céu e acender as estrelas. Queríamos ser veterinários para cuidar da vida animal. Queríamos ser grandes ambientalistas para salvar a fauna e a flora. Inventores para encontrar soluções para todos os problemas do universo. Mas à medida que crescíamos diminuíam os sonhos, desciam das alturas, ficavam ao nosso nível. As opções tornavam-se práticas e objectivas. Depois dos testes psicotécnicos que nos aconselhavam a “fugir” da matemática ou noutros casos das letras. Seguíamos o nosso natural talento. Um dia porém, depois de tantas escolhas, tropeçávamos num emprego. Entrávamos na linha de montagem, começamos a fazer parte da sociedade standard. Mas repetimos para nos auto-convencermos, “já somos qualquer coisa”, talvez não aquilo que os  pais idealizaram, mas aquilo que a sociedade nos permitiu ser, depois de nos roubar os sonhos. Mas a nossa capacidade de vencer criou-nos outros sonhos, na certeza de que somos importantes naquilo que fazemos.
Porque, nesta civilização que compõe o mundo, também são precisos empregados de balcão que servem os cafés que por sua vez impedem os padeiros de adormecer enquanto fazem o pão que está todas as manhãs na mesa dos operários para tomarem o pequeno almoço, acompanhado de leite, que veio da ordenha das vacas que pastam na verde planície guardadas por pastores. É disso que é feita a vida, de ligações que nos unem numa relação de quase interdependência. Que seria dum mundo feito só de doutores?
O que importa é que tenhamos orgulho no que fazemos e trabalhemos com zeloso brio, porque  em conjunto, somos uma peça fundamental da nossa sociedade, “Quando a última árvore cair, quando o último rio secar, quando todo o peixe for pescado, vocês entenderão que o dinheiro não se come”.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (13)

Nas margens do lago das mil cores, de um e outro lado das suas águas, tudo era passado a pente fino, em terra, no ar e nas águas pois, embora de ambas as partes existisse a esperança de que toda a situação se resolvesse em bem, a histórica desconfiança mútua levava a que fossem tomadas todas as precauções de segurança.
No reino das fadas, a espera tornava-se mais incómoda, pois temia-se pela princesa e também pelos jovens magos. Entretanto, os novos voluntários já tinham partido, envoltos na magia protectora, mas com indicações de que deveriam dar-se a conhecer assim que se encontrassem do outro lado do lago, na praia na ilha, para que a sua missão fosse cumprida o mais rapidamente possível.
Também Mentax, o cientista responsável pela programação dos robotixis, recebia orientações de Amix relativamente à preparação dos mensageiros, no sentido de que estes se apresentassem de forma amigável, sem possibilidade de serem entendidos como uma ameaça.
Enquanto isso, a princesa e os jovens magos continuavam na mesma sala, em levitação e com a mesma sensação de bem-estar e conforto, mas ainda sem possibilidades de comunicação entre si, pois, apesar da sua convicção de que os sete jovens não constituíam perigo, o professor Inventix queria ter a certeza de que nada correria mal por descuido seu.
Os dois vigilantes encontravam-se ainda na sala, um à entrada enquanto o outro verificava amiúde os painéis electrónicos que se encontravam no centro da sala. Foi assim que se apercebeu da chegada de três seres brilhantes e avisou o colega:
“Ansiex e dois dos seus amigos acabam de entrar na cúpula.”
“Será que se dirigem para aqui?”
“Provavelmente. Vou avisar o professor Inventix. Este Ansiex não me inspira confiança!”
Assim fez. Mas Ansiex chegou primeiro à porta da sala e, perante a hesitação do vigilante em deixá-lo entrar, ele libertou momentaneamente o poder do seu brilho e, em segundos, reduziu-o a um punhado de pó. Perante esta reacção, o vigilante dos painéis apressou-se a activar o seu escudo protector contra o brilho e envolveu nele os jovens prisioneiros. Quando Ansiex entrou na sala, deixando do lado de fora os dois amigos, o vigilante cumprimentou-o, fingindo grande respeito e admiração pela sua actuação no conselho de decisores, o que apaziguou a sua agressividade.
A princesa e os jovens magos, apesar de não saberem o que se tinha passado, sentiram-se inquietos perante aquele ser brilhante cuja entrada tinha mudado a cor e o ritmo de ondulaçao das paredes e transformado a melodia em ruído áspero e intermitente.
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No reino mágico das fadas (14)
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quinta-feira, 3 de março de 2011

Post.it: O corpo

O Corpo, essa parte de nós. Alguns dirão que é a menos importante, outros dirão que é a mais importante. Para uns é o primeiro olhar, é o nosso “cartão de visita”. É o que desperta ou apaga a química hormonal.
Outros dirão que o principal é o que anima esse corpo, a alma, os valores, a sua conduta moral.
Mas a verdade é que vivemos dentro dele, não que seja a nossa prisão, mas é o nosso papel de embrulho para quem o souber desembrulhar e “ver” o verdadeiro conteúdo. É também a nossa primeira linha de defesa, é dentro dele que nos escondemos, para não nos deixarmos envolver demasiado, para não nos deixarmos invadir pelas emoções, pelo menos na aparência.
Vivemos numa sociedade obcecada pelo corpo e simultaneamente distante em relação ao mesmo. Num estranho paradoxo somos: Corpo estético e Corpo ético. O exterior é relativamente fácil de gerir, de modificar, de esticar ou encolher, entre plásticas, botox, cremes de baba de caracol ou banhos de leite de burra como fazia Cleópatra.
Quanto ao interior, somos o que somos e isso é difícil de alterar. Por isso “ Como não há plásticas ao coração, mais importante do que sermos bonitos por fora é importante ser bonito por dentro.”
Por isso talvez devêssemos de vez em quando revisitar-nos. Deixar de ter um olhar crítico sobre os outros e vermos como realmente somos.
“O seu corpo pode ser uma embalagem de orgãos mas não esqueça que dentro dela está o coração, deixe ele agir”
E sobretudo tenhamos consciência de que “Antes de querer mudar o mundo, você deve mudar a si mesmo”.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O amor acontece

O amor acontece,
Quando a noite amanhece.
Quando o cansaço desaparece,
Num abraço que enternece.

o amor acontece,
quando o coração liberto.
As mágoas esquece.
E se oferece aberto.

O amor acontece,
Por o sentir acreditar.
Que se ele viesse,
Se permitira sonhar.

O amor acontece
Faz parte da humanidade.
Quando nele se adormece,
Para acordar em felicidade.

Era uma vez: No reino mágico das fadas (12)

Enquanto os seus destinos eram decididos, a princesa Marbel e os jovens magos continuavam no mesmo aposento, imobilizados, como se o correr do tempo nas suas vidas tivesses sido suspenso por magia. Não sentiam qualquer fadiga nem incómodo físico. Tinham decidido arriscar e olhar de frente os seres brilhantes, verificando que estes não mentiam - efectivamente, o brilho da sua luz não lhes causara qualquer dano.
Por sua vez, os dois seres brilhantes tinham comunicado, ao secretário do conselho de decisores, as palavras do jovem mago, sobre as razões de se encontrarem na ilha.
Depois disso, todos ficaram na sala a aguardar novas indicações. A fada e os jovens magos não podiam falar entre si e a comunicação de pensamentos era dificil, mas ouviam tudo e cada um podia observar o que se encontrava no seu campo de visão.
Um dos vigilantes falou:
“Professor Inventix, tem a certeza de que a fada não pode lançar os seus feitiços? Não seria melhor prevenir e voltar a vendá-la e a amordaçá-la?”
“Não é necessário. A melodia produzida pela emanação de vibrações neutralizantes está a fazer o mesmo efeito e sem causar incómodo. Não foi usada desde o início porque não tinha sido devidamente testada. Mas agora sabemos que é eficaz. Os poderes da fada estão completamente neutralizados, esteja descansado.”
“Sendo assim, vamos esperar as ordens do conselho de decisores:”
“Ouvi dizer que Ansiex enfrentou o decisor mor e propôs um ataque ao reino mágico das fadas.”
O investigador Sabax, que até aí se mantivera calado, com um tom de voz baixo e quase rouco surpreendeu os outros:
“Não creio que tal proposta passe neste conselho. É demasiado brando. Mas provavelmente é isso que acabará por acontecer, se as fadas continuarem a enviar intrusos para a nossa ilha.”
O coração de Marbel disparou. Como fora insensata! Sentiu-se envergonhada e assustada. A inquietação dos jovens magos também se reflectiu nos seus olhares. E o que já havia falado quase gritou:
“Já dissemos que não voltará a acontecer tal coisa. Foi um acto irreflectido e isolado!”
“Acalme-se - disse Inventix com a sua voz suave - Só o conselho decidirá!” E dirigindo-se a Sabax:
“Não seja pessimista. A governação deste conselho conduziu-nos a uma sociedade de paz e prosperidade. Não acredito que deitem tudo a perder por um incidente como este. Já provámos que não houve intenção bélica por parte das fadas.”
Continuaram a discutir o assunto e, por fim, deixaram o aposento na sua semi-luminosidade, apenas com dois vigilantes e com a melodia suave a encher todo o espaço.

Noutra parte da ilha, numa das mil grutas cavadas nas escarpas da montanha dos murmúrios, uma região isolada e árida, Ansiex encontrava-se reunido com alguns amigos. Partilhavam todos a ideia de que uma sociedade acomodada na paz, mais tarde ou mais cedo se tornaria fraca e vulnerável. E, além disso, ansiavam por mudar o sistema de participação política que só dava acesso ao conselho de decisores a um pequeníssimo número de jovens, não que existisse alguma lei nesse sentido, mas porque o acesso ao conselho conquistava-se pelo mérito comprovado através da demonstração de sabedoria e capacidade em diversas áreas da ciência e tecnologia, da economia e das artes. Ansiex fazia parte de um número muito restrito de conselheiros que haviam conseguido provar esse mérito antes de completarem 100 anos de idade. A sua inteligência fora do comum ajudara-o a esconder as suas reais intenções ao candidatar-se ao conselho.
“Não consegui passar a minha proposta ao conselho! Nem a tomaram em consideração!”
“Mas, segundo o que ouvi, tu também acabaste por ceder e contribuíste para o consenso alcançado.”
“O que querias que fizesse? Não valia a pena insistir. Ainda poderia ser banido do conselho e perder toda a minha influência. Vamos agir de outro modo. Interceptaremos a mensagem do conselho para a rainha das fadas e faremos que tudo corra como nos convém. Quando as fadas atacarem, o conselho dar-me-á razão!”
Os amigos de Ansiex entusiasmaram-se e rapidamente delinearam a forma de concretizarem aquele plano.
…………….
Continua
…………….

No reino mágico das fadas (13)
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terça-feira, 1 de março de 2011

Ser mãe é...

Dar vida...
...fazer nascer
Criar...
...ajudar a crescer
Esperar...
...ver amadurecer
Aceitar...
...deixar abrir as asas
Amar...
...ensinar a voar

Post.it: Somos imortais

Devíamos pensar que somos imortais. Não, não se riam, não pensem que estou louca. É a mais pura verdade! Porque  a imortalidade é uma possibilidade para o ser humano. Não para todos, apenas para aqueles que se perpetuam na lembrança dos que ficam para além de nós. Podemos então concluir que essa é a melhor herança que podemos deixar a todos aqueles que conhecemos, a todos os que amamos. Não para nos chorarem, mas para que riam de cada recordação, de cada episódio vivido ou partilhado. Por isso não devemos deixar queixas, azedumes ou ressentimentos. Afinal cada mãe não carregou um filho durante 9 meses, não passou pelas dores do parto para que cada um de nós chegasse aqui e produzisse dor nos outros.
Se não for demasiada vaidade ou megalómana ambição, gostaria de  ser imortal em cada coração onde tentei semear um pouco de amor, de ternura, de compreensão, tolerância e um enorme sorriso.