terça-feira, 30 de novembro de 2010

Meditação guiada

Recebemos o pedido de uma técnica de meditação mais simples, e esta pareceu-nos a melhor: Guiar a vossa meditação no início para que um dia consigam desligar-se desta voz e seguir os vossos próprios métodos. Podem encontrar esta possibilidadede na barra lateral direita. Perdoem-nos o amadorismo tecnológico e desfrutem o melhor possível da nossa ajuda. Boa meditação.

Post.it: Reescrever o caminho

A boca calada. A respiração rasgando o silêncio. As mãos a pesarem tanto que exilou os gestos colando-as ao coração. Debruçou o olhar, não quis ver o rosto que desenhou tantas vezes numa realidade que pensou fosse eterna. Eterna como os dias em que nem as horas os separavam. Nem a escuridão da noite, nem o raiar das madrugadas. Poisou a cabeça entre as mãos, como lhe pesam os pensamentos. Porque não os pode libertar, não pode impedir o rumo das decisões.
Suspira, ainda sonha por uns instantes: para o guardar na sua vida, recomeçaria tudo outra vez, choraria todas as lágrimas que secariam em todos os risos, sofreria todas as mágoas que morreriam em apenas um beijo, andaria todos os caminhos, arriscaria a sua vida. Hora após hora, ano após ano. Mas ele teima em tornar-se apenas uma lembrança que vem do lugar de todas as ausências, e tem nos braços a mesma curva onde os pássaros iniciam o primeiro voo. Fecha os olhos, talvez quando os abrir algo esteja diferente, nos lábios surge o esboço triste dum sorriso, quem sabe uma ténue esperança, vaga de mar que na praia se desfaz, apagando os passos que nela ele deixou ao partir. Era a última marca da sua presença, agora ficou-lhe apenas a alma deserta. E na areia apenas uns passos, os seus, que reescrevem o caminho.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Onde?

Onde está o luar
que o céu encobriu?
E a nuvem que a chorar
sente o seu vazio?

Onde está o sol de inverno
que o nevoeiro ocultou?
O anoitecer que parece eterno
porque a luz da manhã não chegou.

Onde está o teu coração
que abandonou o meu voar.
Deixando-me a solidão
sem ver o sol nem o luar.

Dá-me uma estrela,
chama-lhe esperança.
Pode não ser a mais bela,
mas a que a ilusão alcança.

domingo, 28 de novembro de 2010

Post.it: A estação de comboios

Às vezes  observo a vida como se ela fosse uma estação de comboios. Há quem entre no primeiro e pense, se não der certo desço na estação seguinte. Depois há outros que olham para a carruagem e escolhem o comboio que lhes parece mais confortável, e aparentemente mais seguro, se não der certo pelo menos a viagem foi agradável Há os que escolhem sempre o comboio com pior aspecto, desconfortável, meio avariado, problemático, talvez tenham necessidade de aventura, de quebrar as regras ou talvez sejam dessas pessoas que se deixam levar pelos impulsos do coração ou quem sabe ainda por um desejo quixotesco de salvar o mundo? Se não der certo, recomeça-se de novo, há tantos comboios a precisar de restauro...
Encontram-se também outras pessoas, aquelas que já conheceram alguns comboios e demasiadas estações traduzidas em decepções. Essas que optam por não escolher, ficam paradas, à espera, de quê? Há quem diga que do próximo comboio, mas acho que preferem simplesmente vê-los passar sem entrar em nenhum. No entanto, de quando em vez, é um comboio que as escolhe e acolhe no seu conforto, no seu carinho, na promessa de que o caminho não será acidentado e que desta vez irá chegar ao final da linha sem sentir vontade de descer na próxima estação. Para onde vai esse comboio? Não sei, mas espero que tenha como destino a Felicidade.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Post.it: I’m a big big girl

Sou uma menina grande num mundo ainda maior, mas por vezes queria ser pequena, não ter que tomar certas decisões que sei vão magoar outras pessoas. Sou uma menina grande, repito para mim, tens de enfrentar o mundo, lutar para chegar a algum lugar. Passar por momentos bons e maus. Chorar muitas vezes e sorrir quem sabe outras tantas. Não me disseram que as coisas iriam ser assim, que tudo tinha de ser conquistado, que temos que ceder na nossa vontade. Que temos que levantar cedo quando nem o dia ainda despertou,  ir para o emprego, encarar o frio, a chuva, os humores de cada um, as filas de trânsito, o atraso do autocarro e chegar já cansada. Tudo isto para quê? questiono-me tantas vezes:  para pagar a renda duma casa onde nunca estamos, pagar a luz que pouco acendemos, a água que mal gastamos, comprar comida que mal comemos, alguns “brinquedos” chamados electrodomésticos, televisor, dvd e pc, mas não temos vontade nem quase tempo para “brincar” com eles,  o resto fica para os impostos, nem sei de quê, de ter nascido talvez. Suspiro e sonho com as férias, talvez desta me sobrem alguns euritos para relaxar numa praia longe da civilização. Até lá vão correndo os dias entre amores e desamores.
Por fim enrosco-me no sofá adormeço o cansaço enquanto sonho que ainda sou uma little, little girl  que vive num big big world.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Post.it: Castings amorosos

Dou comigo a pensar em como tudo começa. Um sorriso envergonhado, um beijo meio desastrado no rosto. Alguém apresenta-nos, mas não ouvimos o nome, fixos que estamos naquele olhar. Perscrutando aquela alma ainda tão cheia de incógnitas. Cruzamos os braços, descruzamos, sem saber onde os colocar. Tocamos o rosto num gesto nervoso enquanto afastamos um cabelo rebelde. Depois lembramo-nos que noutras situações já passadas, naqueles momentos, os detalhes não ficam guardados na memória. A conversa sai sem assunto definido, rimo-nos e isso é quanto basta. Começam os telefonemas, os convites para, um cinema, um café. Recontamos o nosso passado, colorimos o presente e começamos a sonhar com um futuro a dois. Fazem-se passeios à beira mar, esse mar que conhece as esperanças e depois as lágrimas, caminhamos com passos controlados, hesitantes. A descoberta do factor comum, os gostos,  da personalidade. A entrega de sonhos, de desejos. Depois vem o amor a sério, porque antes o que disparou as hormonas foi a atracção física e psíquica. Agora é amor, dizemos nós ao coração quando este bate descompassado, cheio de dúvidas, que logo aquele abraço desfaz. Cresce esse sentimento que nos inspira e torna as manhãs mais suaves no despertar, como se tivéssemos uma nova razão para dar sentido ao passar dos dias.
Depois, de um momento para o outro com ou sem explicação torna-se passado. Repetimos as mesmas frases para nos animarmos, entre elas que “o sofrimento ensina e faz crescer”. Dando-nos uma lição que nos torna mais distante, desconfiadas. O tempo passa e os “castings” são cada vez mais cansativos, os finais cada vez mais dolorosos e juramos para nós mesmas que não vamos reviver a experiência.
No entanto e por uma estranha ironia que fica de cada história, a verdade é que não nos arrependemos de ter sofrido, se sofrer significa ter amado.
O coração acalma e leva-nos a pensar,  quem sabe num desses castings conseguimos o papel principal?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Post.it: Vida de solteira

Mais uma conversa de café entre amigas. Por fim chegaram, umas a horas, as mesmas de sempre, as outras, atrasadas também como sempre. Sentam-se e suspiram: - Finalmente sentei-me, sabes lá o que tem sido o meu dia, enfim a minha vida. Sempre a correr, o marido, os filhos, a mãe. A escola dos miúdos, o emprego, as actividades extracurriculares dos miúdos, as compras, as tarefas domésticas, os tpc(s) acompanhados. Bem, fico cansada só de ouvir. Encolho-me na cadeira, perante tudo isto como me posso queixar? Elas olham para mim com uma inveja de amiga: - Tu é que estás bem, solteirinha, tens o tempo todo para ti. Pois, reflicto. Observo em silêncio os meus dias, as minhas tarefas. Emprego, actividades desportivas, compras, lides domésticas e outras (tenho que tirar o silicone das marquises e colocar outro que o sol já queimou aquele antes que comece a chover, substituir a misturadora da torneira cozinha, que já deita mais água por trás do que pela frente, tapar os buracos que ficaram na mudança de posição do esquentador (ordens da Galp), substituir o casquilho da lâmpada da cozinha que estourou literalmente, pintar a parede da cozinha onde estava o esquentador que ficou com a marca do ausente, fazer dois pequenos móveis com prateleiras para colocar no lugar onde estava a botija do gás que agora já não existem porque foi colocado o gás canalizado, mudar o castelo da torneira do lavatório do WC porque já é preciso comer os espinafres do Popeye,  para a apertar, mudar uma peça no autoclismo para este deixar de fazer barulho e acordar o prédio inteiro e outras pequenas coisas que sempre aparecem) Coisa pouca. Porque a vida de solteira tem todo o tempo do mundo…?

Era uma vez: Sementes de tesouros

Sentada em frente à máquina de escrever, Beatriz organizava as ideias que iriam encher a brancura das páginas. Quando se preparava para escrever uma nova história, já construída mentalmente, vinha-lhe sempre à memória a sua infância, época em que toda a sua fantasia fora criada e guardada como um valioso tesouro, de onde foram saindo todas as sementes da sua escrita.
Em criança, passava horas no jardim das traseiras, na penumbra sombria criada pelas árvores centenárias que já ali se encontravam quando o pequeno palacete fora construído, numa alameda relativamente próxima da pequena cidade, mas suficientemente afastada para garantir silêncio e isolamento – duas exigências do seu avô paterno, homem de posses, que o idealizara. Beatriz habituara-se ao ambiente calmo e silencioso da casa e do jardim. Conhecia pouca gente. A doença da mãe e o mistério que envolvia o seu nascimento eram os motivos do isolamento social da família. Não tinha amigos, apenas sabia que existiam pelos livros que lia compulsivamente. Aprendera a ler com apenas cinco anos, quando a mãe ainda tinha gosto na sua companhia. Ensinara-a a ler e semeara nela a vontade de viver e o hábito de sonhar. Mas, um dia, adoeceu e esqueceu-se da filha. Descobriu mais tarde que a doença não era do corpo. Fora a alma que perdera a alegria e a vontade de viver. Ninguém lhe explicava as razões de tal doença. Os avós, a ama e até a empregada, que vinha todos os dias da cidade, zangavam-se sempre que se atrevia a falar no assunto. Adivinhava a relação com o seu nascimento pela frieza com que os avós a tratavam – como se fosse a culpada da infelicidade da filha. Desistira de os questionar sobre o pai, tal era a fúria que lia no olhar do avô e a dor que se espelhava no da avó, quando respondiam contidamente: “- Não são assuntos para a tua idade. Contenta-te com a vida boa que tens!”
Restavam-lhe as árvores do jardim. Nomeara cada uma e fizera delas suas amigas. Lia-lhes os livros que o avô nunca deixara de lhe oferecer regularmente. Muitos eram de histórias, outros de História, de Ciências Naturais, Física, Química ou Geografia – matérias que o avô achava que ela podia aprender sozinha. Para a Matemática, a Literatura, a Música e as línguas estrangeiras, vinha, duas manhãs por semana, uma professora pouco faladora que se cingia aos assuntos de estudo.
Estava sozinha e o jardim era o seu mundo, onde permanecia e onde a sua mente viajava pelos oceanos e continentes da imaginação. Nessas viagens, descobria tesouros a que dava vida nas páginas dos cadernos que nunca eram suficientemente grandes para tantas palavras, tantas ideias, tantas histórias e tantos desenhos! Guardava-os ciosamente numa caixa que escondera no tronco da velha tília, guardiã do seu tesouro e confidente das lágrimas, dos risos, dos sonhos e das esperanças. Beatriz fora descobrindo a beleza da amizade e do amor através dos livros e vivia esses sentimentos nas viagens interiores, onde descobria e criava mundos que só ela conhecia e que lhe ofereciam o que a vida real lhe negava.
Sabia agora que esses mundos e tesouros, só seus, lhe tinham permitido sobreviver e vencer a solidão, transportando-a em segurança para a vida adulta, onde veio a descobrir que todo o mistério não passara de preconceito – um amor proibido, uma mãe solteira, uma filha escondida, um pai desconhecido que nunca encontrara – que, por sorte ou providência, se transformara em imaginação, riqueza e dom que partilhava com os seus jovens leitores. Talvez, algures, estivesse algum tão sozinho como ela fora. Era para esse que contava as suas histórias, escondendo nelas sementes de tesouros, para serem descobertas e semeadas.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Post.it: Toda a gente é pessoa

Tem nome de nobreza, mostra orgulhoso exibindo o bilhete de identidade,  mas não é isso que lhe enche a barriga. Tem um corpo franzino, olhar travesso e um andar ladino, nascido e crescido pelos becos de Lisboa. Vive sem rumo pelas ruas da cidade, fazendo aqui e ali algum biscate que lhe pague um abrigo e algo que alimente o estômago. Recusa o rótulo de sem-abrigo, afinal tem um tecto, não dorme na rua. Exibe com orgulho a roupa que lhe deram em 2ª mão,  mostra-a com vaidade, está limpa, para ele é como se fosse nova, como se acabasse de a estrear. Penteia os cabelos ondulantes com os dedos, o rosto enrugado, queimado do sol e do frio impossibilita que se lhe adivinhe a idade.
Zé Manel, como se apresenta, um sem-abrigo com tecto para o cobrir nas noites frias e chuvosas. Não é como os outros, apregoa. É uma pessoa, refere. "E toda a gente é pessoa".
Não gosta de misturas, tem o seu brio, o seu orgulho e afirma com altivez:
- Posso não ter dinheiro para comer, mas tenho o meu quarto pago todos os meses!
Todos os meses no dia certo, batia à minha porta. Quando esta se abria. lá estava o Zé Manel, alfacinha de gema, de sorriso rasgado, dava um retoque no cabelo, ensaiava uns passos de dança e um jeito meio gingão. Trazia um ar de festa, pedia-me um pacote de leite, nada mais. Por vezes o seu ar de festa transbordava de demasiada festividade. Os olhos brilhantes e o hálito a álcool não enganavam, o Zé Manel andara a festejar pela noite fora.
Mas será que tinha algo para festejar? Afinal era um sem-abrigo, um anónimo na multidão. Mas era uma pessoa, não se cansava de repetir.
Um dia desapareceu, ninguém o procurou, ninguém sentiu a sua ausência. Bem, talvez o quarto, agora vazio, o seu tecto, o seu orgulho de quatro paredes, aquilo que lhe permitia sentir que não era mais um sem-abrigo perdido pelas ruas da cidade.
Zé Manel, era uma pessoa, uma vida de pobreza, com apelido de nobreza...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Post.it: Pessoas especiais

São como uma bênção para quem tem a sorte de as conhecer e de conviver com elas durante algum tempo. Conheci algumas, não muitas, porque são raras. Mas fizeram toda a diferença na minha vida. Com elas aprendi a respeitar, a compreender, a tolerar, a colocar-me no lugar do outro em vez de julgar e, sobretudo, aprendi a confiar e a esperar.
As pessoas especiais reconhecem-se pela simplicidade e alegria com que estão na vida e pela forma como semeiam essa alegria. É um estado de alma que vem da verdade que inunda a sua vida, do respeito e compreensão que nunca faltam na atenção que sabem dar aos outros, da esperança que têm e nos fazem sentir.
Não são pessoas perfeitas. Têm os seus defeitos e feitios, mas são verdadeiras e afastaram o egoísmo do seu coração. Não são imunes ao sofrimento, nem estão protegidas contra as adversidades. Têm problemas e, por vezes, passam por grandes tribulações, mas encontram a coragem de as enfrentar e vencer, tornando-as ocasiões de crescimento e de construção de sabedoria.
Não, não são pessoas perfeitas. São pessoas que aprenderam a ser melhores e, por isso, desenvolveram uma sabedoria que as torna em pontos de luz que nos servem de referência e guia nos caminhos da vida.

Post.it: A manhã tem projectos

A manhã tem projectos ao despertar. Tem projectos para nos fazer feliz. Começa com um sussurro de bom dia, saímos da cama,  abrimos os braços espantamos a preguiça, esfregamos os olhos afastando uma réstia de sono. O sol espreita pela janela impelindo-nos a acelerar a rotina matinal. Já na rua os pulmões enchem-se de ar fresco. O dia sorri um todo o seu esplendor. Nem o trânsito, nem as buzinas, nem os condutores imprudentes demovem a manhã do seu objectivo de felicidade. O café reconforta o corpo ainda meio dormente, o tilintar das chávenas, as conversas apressadas, beijos lançados na ponta dos dedos, o caminhar saltitante segue um percurso mil vezes palmilhado,  mas há sempre algo de novo, as novidades no quiosque dos jornais, o bom dia refrescante dos residentes que vão levar os filhos à escola. A manhã continua na sua missão de  serenar o dia, no ar os sons misturam-se, o crepitante de vozes, de risos, de crianças mal despertas.
 O relógio não pára, já marca as 9 horas, o sol vai alto mas o corpo ainda se ressente  da ausência  daquela cama que fica à nossa espera para nos tirar o cansaço dia e nos adormecer. A manhã tinha ao despertar um  projecto oferece-nos um dia  novinho para que nós o apreciemos e o tornemos melhor.

sábado, 20 de novembro de 2010

Post-it: Namoro luso-brasileiro

Em mais um “passeio” nos transportes públicos tive como companhia no banco da frente um casal de namorados. Ela brasileira, ele português, ambos na casa dos 50. Ela ainda cheia de vitalidade, ele mais tranquilo, estava mais para fado , faltando-lhe já alguma energia para tanto samba. O diálogo fazia-se em diferentes sonoridades:
- Que vamos fazer este final de semana? Perguntava-lhe ela pendurando-se-lhe no pescoço. Ele meio tímido ou embaraçado com tanta espontaneidade, respondia:
- Pois, não sei, parece que vai chover…
- E dai? Eu não sou de açúcar!?
Ele sorri como se tivesse  encontrado a sua deixa perfeita.
- Pois não, mas és um doce de mulher.
Desarmou-a com tais palavras, a gargalhada surgiu franca e solta.
- É por isso que eu gosto dos portugueses, são tão sérios, mas dizem coisas lindas. Agora é que eu me derreto todinha!...
Não sei  que planos  fizeram  para o fim-de-semana, mas certamente que o tornaram muito doce e derreteram-se um pelo outro.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Lembras-me...

Lembras-me
Um encanto de marés,
Numa calma a transbordar.
Onda que se derrama aos pés,
No desejo do amor alcançar.
Lembras-me
Uma imensa praia deserta,
onde os passos nunca caminharam.
Como se fosses a rota incerta,
Em que os sonhos se desencontraram.
Lembras-me
Um cais a onde aportaram
barcos, viajantes de solidão.
Que em ti em vão buscaram,
algo mais que uma paixão.
Lembras-me
Um farol na noite escura.
Uma esperança renovada,
na luz que de forma segura,
indica o caminho da enseada.
Lembras-me
Uma vela entregue ao vento,
no desejo eterno de acreditar.
Mas deixou-te na alma o tormento
e o teu ser num profundo mergulhar.
Lembras-me
Um vasto azul navegador.
Que acalma o forte vendaval
Quando este se transforma em dor
e o mar dos teus olhos sabe a sal.

Novos dias virão

Há dias assim…
em que o sol se esconde.
Tudo parece desfeito
e nada aparenta ter sentido.

São dias de mau tempo
no coração e na alma,
dias de lágrimas e dor
que parecem não ter fim.

Mas atrás das nuvens
continua a haver luz e brilho
e amanhã será outro dia.
As nuvens partirão,
o sol voltará a brilhar
e secará as lágrimas.
O sorriso aparecerá
e dirá à dor.
vai, não te quero!
E ela irá
e dará lugar à esperança
que traz consigo a alegria
e a vontade de recomeçar
e acreditar
e lutar
e vencer!

Há dias assim
mas passam
e novos dias virão!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Post.it: A crise

Em tempos de crise, temos que fazer opções e como sempre, difíceis ajustes no orçamento. Lá terei de deixar o Ferrari na garagem e passar a ir para o emprego no Jaguar. Vender o palácio no Campo Mártires da Pátria no valor de 10 milhões de euros e comprar um mísero apartamento de 3,8 milhões de euros em Cascais. Vou ter de deixar de beber pérolas como fazia a Cleópatra e passar a beber tão simplesmente, champanhe francês. Terei de trocar o glamour dos fatos Chanel por um simples Benetton. Vou vender o meu Rolex e passar a usar um mero Ómega. A crise exige estas complicadas adaptações. Mas é difícil prescindir destas coisas tão básicas ao comum dos mortais.
Porque este é um mundo que existe com ou sem crise, que sofrerá à sua dimensão. Porque como dizia Voltaire “Quando se trata de dinheiro somos todos da mesma religião” embora deva acrescentar que uns mais “devotos” do que outros.
Prefiro contudo a teoria de Edward Gibbon “Na verdade sou rico, visto que o meu rendimento é superior às minhas despesas e as minhas despesas são iguais aos meus desejos”.
Parece-me uma economia equilibrada, não desejar o que não se pode alcançar e sobretudo valorizar o que se tem. Ou como diz Daniel Defoe “O descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa ingratidão por aquilo que temos.”
Não esquecendo que “A felicidade é interior, não exterior; portanto não depende do que temos, mas do que somos.”

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Post.it: O que diz o coração?

O que diz o coração?
Pois, segundo o meu médico, diz que a tensão arterial está boa, os batimentos cardíacos regulares, mas o colesterol ainda me vai matar!
Sim, está bem, mas e o que diz o coração?
Bem, segundo o meu contabilista a coisa está preta, os impostos ainda vão acabar com o meu coração.
Ok, mas e o que diz o coração?
Do ponto de vista do meu advogado, tenho hipótese de ganhar o processo, mas os honorários dele é que vão aniquilar-me o  coração.
Sim, sim, mas e o que diz o coração?
Segundo o meu chefe, temos que ter mais eficácia e rentabilizar melhor o tempo, fazer horas sem serem pagas está a arrasar-me com o coração.
Adiante, e o que diz o coração?
Olha, segundo o mecânico da oficina, o meu carro está nas lonas, o trânsito e o pára arranca vai rebentar-me com o coração.
Pois, pois e, o que diz o coração?
Ai o coração… Diz que tanto amor já não cabe no peito. Que salta quando vê aquela pessoa. Que se derrete todo quando a abraça. Que um dia vai explodir de tanta emoção.
O que diz o coração perguntas tu?
Olha, diz que está feliz!

As lágrimas e o riso

Quando o coração chora ou ri
nota-se nas palavras e na voz
vê-se no brilho dos olhos
sente-se nos gestos e no estar.

A dor ou a alegria do coração
ganham vida
inundam o rosto
preenchem os dias
tomam conta de tudo
querem ser partilhadas.

Partilhar o riso sabe bem,
mas dizer das lágrimas…
Não. É mais fácil escondê-las.
Vislumbram-se na voz e no olhar
mas dificilmente se confiam.
É preciso que as adivinhem
que alguém as pergunte
e verdadeiramente as queira secar.

Rir com um amigo é bom
mas confiar e secar as lágrimas
faz crescer a confiança
aperta os laços da afeição
e torna duradoura a amizade.

Quando se ri
está-se bem com os amigos
Quando se chora
conhecem-se e valorizam-se os Amigos.
.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Palavras e palavras

Há palavras que são mais
muito mais do que palavras:
falam
acariciam
confortam
dão alento
iluminam…

Essas palavras
têm de ser dadas
têm de ser ouvidas
não podem ficar caladas!

Outras há que, pelo contrário:
gritam
ofendem
magoam
desanimam
apagam tudo:
a alegria, a vontade,
a esperança e até a amizade.

Bem podiam, essas palavras,
ser pensadas antes de ditas
e, quem sabe, virem mudadas
ou mesmo ficarem caladas!
.

Post.it: Sonhos possíveis

Estou decidida, só vou ter sonhos possíveis! Daqueles que mais tarde ou mais cedo podemos realizar. Afinal sonhar com o impossível só cria angustias e decepções. Costuma-se dizer, que sonhar por sonhar que se sonhe alto. Mas sejamos realistas, sonhar e nunca alcançar, desgasta e não se chega a conhecer o prazer da vitória. Por isso em vez de vencer a guerra é preferível vencer cada batalha. Além disso, quem disse que não é bom conquistar pequenas coisas em vez de almejar as grandes e inatingíveis?
Com a serenidade de quem sabe que vai conquistar os seus objectivos vou construindo a minha lista de sonhos possíveis:
Sonho com aquela mensagem que na sua simplicidade vai direitinha ao meu coração. Sonho com aquela amizade fugidia que um dia deixa de fugir e ri comigo numa explanada à beira mar. Sonho que aquele adolescente que vi crescer vai encontrar o seu rumo. Sonho que aquele casal entre tantos outros reencontra o sentimento que os uniu. Sonho que os amigos vão permanecer para toda a vida. Sonho que vou saltar nas poças da chuva. Sonho que vou guardar a última folha de Outono daquela árvore que me oferece uma refrescante sombra no verão. Sonho com uma lareira a crepitar enquanto neva lá fora. Sonho que ainda um dia serei hippie de coração com alma de anarquista e flores no cabelo.
Sonho sonhos possíveis porque acredito que um dia ainda os vou realizar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Post.it: Por vezes basta apenas...

Não podemos viver a vida dos outros, resolver os seus problemas ou sentir a sua dor. Não podemos  estar sempre com aqueles que necessitam da nossa presença, não podemos estar com eles 24 horas por dia, talvez nem todos os  dias. Mas podemos tentar  estar e dar-lhes o melhor de nós, com palavras, com gestos ou até com o silêncio. Muitas  vezes esta é a melhor forma de se estar. Confesso que tive alguma dificuldade em aceitar esta modalidade, sou uma pessoa de entrega total, de sorriso pronto, de palavra imediata.  Com o tempo percebi que o silêncio também  é  uma forma  de auxiliar, que a ausência pode ser uma forma de permanecer. Que não magoar é uma forma de aliviar a dor. Por vezes basta pairar no ar, deixar a vida correr ao seu ritmo. Basta talvez, apenas, existir e deixar que o auxílio e apoio surjam no momento em que o solicitem. Basta que saibam que estamos ali. No entanto, por vezes penso que se esquecem, que se recolhem em si e não buscam um atenuar, um abraço, naquele que está sempre disponível. Isolam-se, sofrem sozinhos, como se a dor fosse apenas sua, esquecendo-se que também é nossa por sermos a família ou amigos, por gostarmos dessa pessoa.
Por isso lembro aqui que gostar de alguém é aceitá-la como ela é e também como está em cada momento da sua vida.
 

Post.it: Palavras

Há dias em que nos apetece dizer. Dizer coisas belas e profundas, ou tristes e sérias, ou de alento e esperança. Mas não temos palavras, não as encontramos cá dentro ou não as sabemos juntar. Então, descobrimos as palavras de outros que dizem o que as nossas querem contar e não sabem. Por isso, as (re)dizemos e, sabendo que não nos pertencem, fazemo-las nossas :

"De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estamos sempre começando...
a certeza de que é preciso continuar...
a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto, devemos fazer:
da interrupção, um caminho novo...
da queda, um passo de dança...
do medo, uma escada...
do sonho, uma ponte...
da procura...um encontro!"

Palavras de: Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Port.it: Só sei que nada sei

Sócrates sempre dizia que a sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância (Só sei que nada sei.). Ele acreditava que os actos errados eram consequência duma manifesta ignorância.
Concordando na minha modesta  opinião, sinto que tentamos encontrar uma saída, uma estrada, uma descida ou uma escada. Um caminho sem muitas curvas porque tenho tendência para enjoar, nem demasiado recto, porque ainda adormeço de tédio. A lição é aprendida, mas para cada nova situação a lição  é de novo esquecida. Então questiono será que nunca aprendo para não voltar repetir os mesmos erros? Mas o coração sorri como se fosse uma criança que vive ainda de esperança.
Aceito-me como sou, capaz ainda de acreditar, capaz de me deslumbrar, capaz de começar tudo como se não tivesse sentido como se não tivesse sofrido. Começar sim, porque não encontro sentido na palavra recomeçar como se fosse um retomar tudo o que se tinha acabado.
Começar é partir do zero, escrever uma história, a nossa história, num livro de folhas brancas.
Admirar os olhos desse novo olhar. E a cada pergunta sobre a vivência  passada  responder apenas:  Só sei que nada sei.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Era uma vez: O calor da bondade

Conta a lenda, com alguma poesia, que Martinho seguia no seu cavalo, num dia chuvoso e frio, quando encontrou um mendigo enregelado, a esmolar na beira da estrada empedrada. Poderia ter passado sem sequer o olhar ou dar-lhe uma esmola e seguir adiante. Mas o soldado Martinho sabia olhar e ver. Por isso, com a espada de soldado, cortou a sua capa ao meio e deu metade ao homem que nunca tinha visto mas em quem reconheceu um ser humano seu igual.
O seu gesto foi apreciado pelo astro rei, que afastou as nuvens e secou a chuva para poder brilhar e, assim, iluminar e aquecer aquele dia em que a bondade encheu o coração de quem a deu e de quem a recebeu.
É assim que o “verão de São Martinho” nos lembra que, além de apreciarmos as deliciosas castanhas, podemos multiplicar, com gestos simples, a atenção e a gentileza para com os outros, em todos os dias e momentos. Uma receita antiga, mas sempre eficaz para se viver com sentido e alegria.
.

Post.it: Fadas do lar?

Em mais uma conversa de café com as minhas amigas, daquelas que entre um café e um pastel de nata vamos desabafando, ironizando ou apenas saboreando a companhia agradável da amizade. O assunto eram as lides domésticas. Chegámos à conclusão que não sabemos bem porquê a sociedade em geral e a masculina em particular considera que as mulheres adoram as tarefas domésticas. Pois, garantimos-lhes que em geral não somos fãs dessas lides!
Eu particularmente, com a minha descontrex habitual confesso, não sou nenhuma fada do lar! Limpar o pó? Não posso, faço alergia. Limpar a cozinha? Pois, prefiro fazer dela o meu laboratório de experiências, já vos contei como fiz pipocas pela primeira vez? Eis a receita, mas não a repitam, coloquei o pacote de milho todo num tacho, resultado? Bom, digamos que inventei a forma de fazer com que nevasse  em casa, durante meses ainda encontrei pipocas nos lugares mais estranhos. Quanto a aspirar? sinceramente não tenho jeito nenhum para conduzir o aparelho e choco com todos os móveis, deixo o fio preso em todo o lado e lá vem tudo a trás. Odeio limpar vidros, parece que quanto mais limpo pior ficam, será que há algum truque? Eu desisto, a chuva que os limpe! E, a tarefa de engomar? O drama de qualquer dama que se preze, por mim, tá-se bem, coloco os auscultadores sem fio para ouvir o som nuns decibéis acima dos permitidos por lei, escolho a onda musical, optando por algo bem mexido e entre uns passos de dança (sem sair do mesmo sitio) de cha, cha, cha, uma salsa, lambada, samba e porque não um kizomba, a roupa vai desaparecendo e o exercício físico realizado com sucesso. Cuidado, nada de valsas para não se enrolarem no fio do ferro. Qual ginásio, qual dieta?! Engomar é que está a dar, é mais barato, apresenta  excelentes resultados e é divertido. Experimentem e depois contem-me como foi.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Era uma vez: Para lá do mar

Costumava sentar-se na areia a ver o mar e a ouvir o bater das ondas contra o molhe que se estendia água dentro, a tentar suster a força do oceano que, em dias de vendaval, se transformava em animal feroz, a rugir contra os homens que ousavam sonhar domá-lo.
Ele ousara desafiá-lo. Saíra em tarde que prometia tempestade. Dizia que com mau tempo os peixes se deixavam apanhar melhor e partira a sulcar as ondas na traineira com o seu nome – Maria dos Anjos. A tempestade crescera e ele não voltara.
Agora, restava-lhe olhar a água imensa e escutar as ondas. Às vezes parecia-lhe que, na voz do mar, vinha a dele a dizer-lhe o mesmo de sempre: “Não és dos anjos, és minha! És o meu anjo.” Anjos, seria, mas não fora capaz de guardá-lo. Gastara as lágrimas e o tempo à espera de um sinal de vida que nunca chegara. O amor, esse não se gastara, crescera na lembrança e no peito e fizera-se ausência e silêncio, mas nunca solidão. Estava com ele quando se sentava à beira-mar, ouvia-o no rugir das ondas, sentia-o na espuma que lhe beijava os pés e o vento continuava a trazer-lhe a sua voz “meu anjo, meu amor”.
Quem a via sentia pena da rapariga que se tornara mulher à espera do seu amor. Enlouquecera - diziam uns; fugira para dentro dela - achavam outros; ele levara-lhe o coração e a vontade - diziam os mais românticos. Ela deixava que pensassem o que quisessem. Assim, deixavam-na em paz e em silêncio a ver o seu amor bailar no vento e a voz dele a chamar o seu nome.
Um dia seria anjo e voaria para lá do mar, onde ele a esperava.
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Post.it: Let it be

Quantas vezes a incerteza nos bate à porta e, sem sabermos que rumo tomar deixamo-la entrar. Deixamos que ela domine a nossa vida, os nossos pensamentos, os nossos sentimentos. Quantas vezes queremos seguir naquele caminho mas tudo nos empurra para o outro. Quantas vezes lutamos por um lugar ao sol mas as nuvens teimam em colocar-se à nossa frente. Quantas vezes o inverno parece infinito nos nossos dias e as noites tornam-se eternas sem o consolo do sono. Quantas vezes abrimos o nosso coração para que alguém  entrar, oferecemos tudo o que de melhor há em  nós mas esse alguém faz outra escolha. Nesses momentos paramos para pensar, muitas vezes paramos até para chorar. Inundados de mágoa perguntamos vezes sem conta. Porquê?
Nesses momentos difíceis surge sempre uma voz amiga que nos traz uma palavra de sabedoria e, nos diz, deixa ser.
Quando não está nas nossas mãos mudar as coisas que nos sucedem, então, deixa ser.
Porque quando encontramos no nosso caminho o amor, a paz e alegria, então haverá uma resposta, até lá, simplesmente “let it be”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Post.it: Voluntariado

Aceitas o desafio? Seja ele qual for, aceitas? Foi assim que na sessão de voluntariado da Comunidade Vida e Paz nos lançaram o repto.
Aceitas esquecer-te de ti e lembrares-te dos outros?
Aceitas dar mais de ti em vez de esperares receber?
Aceitas partilhar o teu tempo com quem tem apenas tempo para partilhar?
Espero que aceites e que nos dias que antecedem o Natal queiras estar connosco no jantar dos sem-abrigo. Que em vez de passares horas infinitas nos centros comerciais envolvida na onda de consumismo, estejas aqui, connosco, envolvida numa onda de alegria e dádiva. Porque os sem-abrigo estarão cá, à tua espera, nesses dias em que tu serás a sua família, com quem vão viver o seu Natal. Esses 3 dias serão no conjunto dos outros 362 restantes, os momentos em que recordam o que é ter calor humano à sua volta. Porque esses sem-abrigo, mais do que sem-tecto, são sem-afecto.
Nesses 3 dias serão os nossos convidados, vamos pelo estômago conquistar os seus corações, tarefa fácil, porque eles têm sempre no rosto triste, a gentileza dum sorriso.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Post.it: Este pessimismo lusitano

Somos portugueses, um povo gentil e franco. Temos alma lusitana, sangue latino e espírito de garça real.
Ilustrando o nosso fado temos no olhar uma alegria triste, de gente feliz com lágrimas,   essas que derramamos no mar que nos ladeia a costa.
Saudade podia ser o nosso nome, saudades marinheiras quando o vento sopra nas velas e o coração parte com elas. Saudades trigueiras dessas terras do interior, planícies a perder de vista; penedos da longínqua infância.
Mas quem passa, não passa em silêncio, é habitual o cumprimento num tom comedido. Bom dia, como está?
A resposta tem um lamento na voz:
- Vamos indo;
- Mais ou menos;
- Como Deus quer;
- Já estive melhor;
- Tem dias.
Neste pessimismo reside o seu encanto, misto de esperança e desencanto.
Onde as brumas da memória contam a sua verdadeira história. Fomos além do Bojador, vencemos o Adamastor, não nos derrota qualquer dor!
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Post.it: Fim-de-semana

Espera-se, vive-se e fica-se com vontade de mais.
Não, não é pelo trabalho que não se tem.
É pelos horários que não têm de ser cumpridos, pelas refeições que se preparam com tempo e se saboreiam em família. Pelos passeios matinais, ou não, que libertam o corpo e a mente e nos fazem recordar caminhos feitos e outros a descobrir.
É pelo encontro que acontece, pelas horas de estar com quem se ama, pelo tempo de receber e dar felicidade e pelo abandono de simplesmente sermos quem somos.
O fim-de-semana é bom, muito bom, mas só quando no primeiro dia da semana temos de nos levantar cedo para trabalhar, para produzir bens ou serviços que ajudam a construir e nos permitem participar e obter o necessário para o “pão-de-cada-dia” – o nosso e o dos nossos. Então sim, o próximo fim-de-semana pode ser esperado e vivido com tranquilidade e alegria.
Mas, para quem perde o emprego, para quem quer e não encontra trabalho, o fim-de-semana tem um sabor diferente. Sabe a insegurança, a intranquilidade e a receio do futuro. Porém, o início de uma nova semana pode ser o recomeçar da esperança – quem sabe se a oportunidade esperada vai surgir e o próximo fim-de-semana poderá ser o tão desejado tempo de repouso e alegria?!
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domingo, 7 de novembro de 2010

Post.it: Uma história que merece ser contada

Ele era um homem na casa dos 30, não era um adolescente, mas foi assim que se sentiu quando os seus olhos encontraram os delas. Sorriram, reconheceram-se naquele olhar que os unira mas que os separaria mais adiante. Ele chegara um pouco tarde, ela começara uma relação e queria que esse fosse o seu destino. Ele abandonou Paris de cabeça baixa, a cidade do amor, a cidade luz, que lhe acendera uma esperança no seu peito, pouco depois a apagaria. Regressou a Portugal, seguiu a sua vida, tentou esquecê-la e a dada altura pensou mesmo que o conseguira. Regressou a Paris 12 anos depois, numa festa, o seu olhar encontrou-se com outro, o seu coração saltou, já conhecia aquele sintoma, teve medo de avançar. Ela sorriu, ele cumprimentou-a tímido, não a reconhecendo. Ela lembrou-lhe que se tinham conhecida há 12 anos. Ele ficou sem palavras porque tinha tantas para lhe dar, um beijo profundo disse-as todas, libertando do peito aquela saudade. Nunca mais se separaram, viveram com intensidade aquele amor que parecia infinito. E foi, foi infinito, durante 2 anos, até ela falecer.
Passaram-se os anos, muitos anos. Ele não aceitou a sua morte, porque nos seus passeios pelo campo a reencontra em cada flor que desabrocha. Ela vive no seu coração e enquanto este bater, ele a sentirá consigo.
2 anos foram poucos anos para um amor tão grande? Não! responde com um olhar sereno e sorriso doce. Foram 2 anos vividos e sentidos com a intensidade de muitos mais e, depois antes amar e ser amado por 2 anos do que uma vida inteira sem conhecer o amor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um bater de asas

Foi uma asa apenas,
que na leveza do ar voou.
Mas no seu voar não deixou
nem um rasto de penas.

Foi simples rasgar do vento.
Passagem que ninguém viu.
Passagem que ninguém sentiu.
No breve passar do momento.

Olhando para o céu vazio
Tudo permanece igual.
Terá passado afinal,
ou de facto nem existiu?

Mas aquela folha caída,
sentiu o toque daquele voar.
Que cuidou dela ao passar
e a deixou em paz adormecida.

Post.it: Educação sexual nas escolas

Outro dia  numa conversa de café com umas amigas o tema de debate era a educação sexual nas escolas. A mãe duma menina pré-adolescente argumentava contra. As mães de rapazes em idade adolescente defendiam o  sim.  Segundo uma delas convinha sobretudo elucidar mais do que proibir. Logo a mãe da menina contrapunha discordante, considerando que mais do que esclarecer, aguçavam a curiosidade e pior, ainda lhes ofereciam  preservativos! Claro que para eles aquela oferta significa um convite à prática já que segundo estes já não corriam riscos.  Mantenho-me neutra, prefiro argumentar com a lógica e  a lei. Penso basicamente que é melhor praticar com conhecimento dos métodos do que os ignorar e praticar na mesma. Em termos legais: Aprovada a 11 de Agosto de 1999, a lei nº 120/99, Artigo 2º, vem permitir o enquadramento da Educação Sexual em meio escolar. Posteriormente a lei nº 60/2009 de 6 de Agosto estabelece que a Educação Sexual é a partir de então obrigatória desde o 1º ciclo até ao ensino secundário. A primeira visão com que se fica deste assunto  é   que a mensagem transmitida aos jovens é “usa o preservativo e diverte-te”. Enquanto  a Organização Mundial de Saúde apela ao modelo A-B-C ou seja “A” de (Abstinência), “B” de (Be faithful/ser fiel) e “C” de (Condom/preservativo).
Partilho agora convosco  o “susto” duma avó quando  a sua neta de 7 anos,  a informou que já sabia “como se fazia sexi” – informação puramente biológica, fornecida por uma prima de 8 anos que tinha assistido a uma aula de educação sexual na escola.
Sugiro   que se encontre o meio termo e ele está na família  a quem deveria caber o papel principal na abordagem e esclarecimento  sobre a sexualidade. Quanto à  escola, a esta deveria uma atitude de complementaridade. Porque uma boa educação sexual  permite aos  jovens obterem  um melhor enquadramento para tomarem as suas decisões, fazerem as suas escolhas e reconhecerem  as suas consequências. Para além de fomentar um claro discernimento dos seus valores, conhecimento e aceitação do corpo e da vida afectiva.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aos que nunca nos deixam

Há pessoas que nos elevam
Como se tivessem asas
Que nos enchem de voz
Como se fossem eco.
Que nos tocam o coração
Como se o reconhecessem
Pessoas que nos deixam de herança
A mais bela lembrança
Há pessoas que são sempre
Chegada
E nunca nos deixam na partida…

Post.it: Teoria evolucionista

A teoria da evolução das espécies diz que nascemos no mar, que dele saímos e caminhámos na terra erguendo-nos e sustentando-nos em dois pés.
Somos portanto, filhos do mar, das ondas que nos embalaram, temos espírito de marés, de tempestades e de acalmia. Guardamos no historial genético uma afinidade que nos apela a um regresso constante. Sentimos o chamar desse mar e a ele respondemos num silêncio confessor. Enchemos os olhos de azul e de verde que se estende para lá do que a vista alcança. E então cresce no peito um desejo de infinito, de ir mais além. E num misto de navegadores e sonhadores partimos, porque somos incapazes de ficar e aceitar que nada mais existe para lá do nosso “Bojador”. Trémulos mas audazes, enchemos a mochila de sonhos por concretizar e seguimos ao encontro do nosso “Cabo da Boa Esperança”
Somos filhos do mar e temos desejos de amplitude. As partidas, são decisões, mudanças que temos de fazer na nossa vida. As viagens, são as ambições profissionais, relacionais e emocionais, que nos conduzem a outro cais temporário ou definitivo.
Somos filhos do mar, temos que continuamente  navegar.

Post.it: Continuar

A luz desta manhã, surpreendente de calor e aconchego, promete nova oportunidade e lembra que a um dia segue-se sempre outro, com novos problemas e desafios, com novas alegrias e esperanças, com novos caminhos e metas.
Continuar, procurar e arriscar confiar e sentir, apesar das feridas, das mágoas e dos medos, é a única forma de seguir e construir, é a única forma de viver, em vez de ir vivendo.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Post.it: Será cedo?

Será cedo para falar de memórias dessas que nos fazem suspirar? Será cedo para falar desse rio que somos, das margens que nos moldaram o corpo e a alma? Será cedo para falar de estações, de longínquos verões, de invernos aquecidos em abraços perdidos? Será cedo para falar de recordações quando ainda estamos a construir o futuro?
Mas então qual será o momento certo para recordarmos, antes que a memória se torne um deserto?
Suponho que não exista o cedo ou o tarde, e que o instante seja esse em que o pensamento navega no horizonte do que já passou, para o tornar sorriso quando já foi lágrima, ferida que o tempo curou.
Sentimos por fim, que é bom lembrar essa vivências sem isso nos magoar e conseguimos trazer para o presente a leveza que tornará mais doce o futuro.

Recomeçar

Esta luz do amanhecer
é uma promessa de esperança
de outros caminhos a percorrer
com novo sentido e confiança.

Passo a passo se vai longe
procurando a felicidade
que às vezes parece que foge
duma nova oportunidade.

Mas é possível novo encontro
com outro olhar e outro coração
que nos oferecem novo porto
de onde partir noutra direcção.

Poderemos então recomeçar
com mais sentido e emoção
pois outros passos vão caminhar
e outro alguém nos dará a mão.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Como se fosse um perfume

O amor endoidece,
dizem todos com razão.
Quando ele nos enternece,
embalando-nos o coração.

O amor é um doce sorriso,
sorriso que nos desfalece.
Eleva-nos ao paraíso,
depois, quase nos esquece.

Quem ama sempre padece,
calando o seu queixume.
Quando o amor se desvanece,
como se fosse um perfume.

(poema inspirado num de Mário de Sá Carneiro)

Post.it: Presa na rede

Quem és tu por detrás do ecrã? Palavras, talvez verdades, talvez mentiras. Mas sempre e só palavras. De quando em vez um sorriso que se lê ou um sorriso que essa palavra induz. A cada palavra constrói-se um rosto, um corpo, uma alma. E de repente esse ecrã vazio passa a ter uma imagem, a tua imagem. Escrevem-se histórias em que o herói sobressai ou pinta-se um quadro de mágoas para amolecer corações. Ela corre para casa, para o computador. A luz do ecrã ilumina-se, aumenta a ansiedade, será que ele escreveu? Será que ele gosta de mim? Pergunta-se constantemente. Mas as palavras de cada e-mail dizem-lhe que sim.
Pela descrição ele é lindo, meigo, o homem perfeito para este solitário coração. Mas o e-mail não chegou e a decepção magoa. Não veio naquele dia nem no seguintes. A ansiedade aplacou, a dor aumentou. As amigas brincam com os seus sentimentos despedaçados. – O que esperavas, encontrar um príncipe na net? Olha,  dá-te por feliz por ter desaparecido podia ser pior, imagina se fosse um psicopata, um violador, se só quisesse o teu dinheiro?
Mas ela que leu as suas palavras, sabe bem quem ele era. Talvez tenha tido algum problema. Um dia há-de regressar com uma boa explicação.
Mas ele nunca voltou e ela ficou com a vida “presa” na rede/net.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Reencontrar o caminho

Que sabemos nós do caminho,
mais largo ou mais estreito.
Dessa espécie de quase ninho
que construímos dentro do peito.

Quando nele queremos abrigar
o despontar dum imenso carinho.
Que nos faz cá então encontrar,
a certeza desse nosso destino.

Então o ser vai como fonte,
expandindo o seu sentir.
Estende-se para lá do horizonte
cresce como um rio a fluir.

Que não se inquiete o teu olhar.
Que não se inquiete o teu coração
Quando o caminho te reencontrar,
e te detiver para sempre naquela mão.